Por Priscila Oliveira, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Ludmila Silva, criada no bairro do Jaraguá, zona oeste de São Paulo, iniciou sua trajetória no futebol ainda criança, nas ruas estreitas da periferia. Superando uma infância marcada por adversidades, incluindo a perda da irmã para as drogas e um período em um abrigo, ela transformou seu destino ao ser descoberta por um olheiro aos 15 anos, começando assim uma carreira que a levaria a vestir a camisa da Seleção Brasileira e a conquistar espaço no cenário internacional do futebol. Criada pela tia após ela e a irmã Sheila saírem do abrigo, Ludmila encontrou no esporte uma forma de escapar das adversidades e do preconceito racial que enfrentou ao longo da vida. 

Ludmila e Sheila viveram parte da infância no Lar Anjo Gabriel | Foto: Arquivo Pessoal 

“Estive em um orfanato e fui criada pela minha tia. Não tenho muitas recordações, porque minha tia me adotou quando eu tinha três anos. Entrei no orfanato com um ou dois anos, então é difícil lembrar de algo. Meus pais tinham problemas com álcool. Sei pela minha mãe que meu pai a agredia muito e a nós, os filhos, também, por isso que ela decidiu nos colocar em um orfanato”, explicou Ludmila em uma entrevista, ao jornal UOL.

Ainda criança, descobriu uma parte de si que até então estava escondida. Ela era rápida e mais veloz que todas as outras jogadoras Em diversos campeonatos que jogou, recebeu elogios e, curiosamente, até a tia, que sempre preferiu que ela focasse nos estudos, parecia feliz com o sucesso. Sua rotina era uma mistura de atletismo, capoeira, hip-hop e partidas de futebol na rua. 

Ludmila (canto esquerdo) e Sheila (no centro) faziam capoeira juntas | Foto: Arquivo Pessoal 

Infelizmente Sheila, a irmã mais velha de Ludmila se envolveu com drogas, saiu da casa da tia e se afastou da família. Ludmila seguiu seu caminho, mesmo sem ter notícias de sua irmã. E assim como toda história de superação e sonho, aos 15 anos, enquanto jogava bola na rua, um olheiro a convidou para fazer o teste no time do Juventus no bairro da Mooca, na Capital Paulista. Sem acreditar muito, ela foi. Aprovada, ali começou a sua carreira, durante esse período, infelizmente, ela perdeu sua irmã Sheila. 

“Minha irmã usava drogas. Ela acabou usando demais e teve overdose. Ela nunca aceitou termos sido abandonadas pelos nossos pais. Na favela existem coisas boas e ruins. Existia o futebol e outras brincadeiras como pega-pega ou esconde-esconde. Tinha como escapar (da criminalidade e das drogas). Mas você começa a seguir pelo mau caminho quando cresce e começa a se comparar com seus amigos: ‘ah, se eles fazem isso…’ Minha irmã seguiu por esse caminho, queria mostrar que era dona de si mesma e acabou se perdendo.” declara a jogadora ao jornal UOL.

E com a perda da irmã, Ludmila se abateu, teve depressão, quase quis desistir de tudo. Uma lesão grave também ameaçou sua carreira, mas ela se recuperou e continuou a brilhar nos campos.

Carreira 

Ludmila passou por diversos clubes importantes do futebol feminino brasileiro, incluindo São José, portuguesa, Santos e Rio Preto. Em especial, a passagem pelo São José marcou sua carreira. Com a equipe, Ludmila conquistou o Campeonato Paulista de Futebol Feminino e os Jogos Abertos, além de alcançar o vice-campeonato na Copa do Brasil de Futebol Feminino de 2014. Contudo, o título mais significativo foi o da Copa Libertadores Feminina de 2014, consolidando sua posição como uma das grandes promessas do futebol nacional.

Durante sua jornada, Ludmila encontrou em Emily Lima mais do que uma treinadora – ela se tornou uma verdadeira mentora. Esse relacionamento estreito foi fundamental para a primeira convocação de Ludmila à Seleção Brasileira Principal em 2017, durante a breve passagem de Emily como técnica. No mesmo ano ela fez história ao se tornar a primeira brasileira contratada pelo Atlético de Madrid, um dos clubes mais tradicionais da Espanha. Com a camisa madrilenha, Ludmila conquistou dois títulos consecutivos da Primeira Divisão do Campeonato Espanhol Feminino e se destacou em várias partidas da Liga dos Campeões de Futebol Feminino da UEFA. Sua velocidade e habilidade no ataque a tornaram uma peça fundamental na equipe.

No entanto, a carreira de Ludmila também enfrentou desafios. Em  2023, ela sofreu uma grave lesão durante um jogo contra o Real Madrid, rompendo o ligamento cruzado anterior do joelho direito. A lesão interrompeu uma temporada impressionante (Ludmila já havia marcado nove gols em 17 jogos pelo Atlético de Madrid) mas a deixou fora da Copa do Mundo que aconteceu no ano passado, disputada na Austrália e na Nova Zelândia.

Ludmila rompe ligamento do joelho durante Atlético de Madrid x Real Madrid | Foto: J.J.Guillén/EFE

Este ano, foi anunciada sua contratação como o mais novo reforço do Chicago Red Stars, da liga de futebol feminino dos Estados Unidos, marcando mais um capítulo de conquistas em sua trajetória. Esse novo capítulo em sua carreira promete trazer novos desafios e oportunidades aos quais Ludmila já demonstrou que está mais do que preparada para enfrentá-los.

Seleção Brasileira

A história com a camisa amarelinha para Ludmila é como um sonho. No ano de 2014, foi convocada para o Campeonato Sul-Americano de Futebol Feminino Sub-20, onde marcou três gols, incluindo um na final contra o Paraguai, que garantiu o título ao Brasil.

Em seguida esteve na Seleção Principal em 2017 onde teve uma boa atuação, em 2019, seu nome foi novamente lembrado, desta vez na lista das convocadas para a Copa do Mundo de Futebol Feminino, consolidando-se como uma das principais jogadoras da seleção.

Suas atuações deram a ela destaque e trouxe protagonismo. Jogando a sua segunda Olimpíada, Ludmila se destaca com sua força e velocidade, como sempre a atacante gosta de apoiar as montadas de jogo, e volta para sua marca.

Nos Jogos de Paris, ela participou de 3 partidas, considerando que o técnico da Seleção Brasileira Feminina, Arthur, não repetiu as mesmas escalações para os jogos.

Foto: Reprodução/X

A história de Ludmila Silva é um exemplo de superação e perseverança. De velocista nas pistas de atletismo, ela se transformou em uma estrela internacional do futebol feminino, conquistando títulos e corações ao redor do mundo. 

Sua jornada é inspiradora, mostrando que, com talento e determinação, é possível superar qualquer obstáculo e alcançar o topo no cenário esportivo mundial.