Da enxurrada à desigualdade: como as chuvas revelam o racismo ambiental no Brasil
Estudiosos e ativistas apontam que o racismo ambiental está profundamente enraizado no cotidiano, e se manifesta em aspectos como a falta de saneamento básico
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, alertou para as consequências desproporcionais das recentes chuvas no Rio de Janeiro em áreas periféricas e favelas, ressaltando a relação com o chamado “racismo ambiental”. Ao menos 380 pessoas perderam a vida em deslizamentos, enchentes e chuvas fortes em todo o Brasil, sendo que 232 mil foram afetadas apenas em 2022, com a maioria das áreas atingidas localizadas na periferia.
Anielle Franco afirmou: “Não é natural que em alguns municípios, bairros, periferias sofra mais que outros”. A ministra destacou a desigualdade nas condições de moradia, saneamento e estrutura urbana entre diferentes partes da cidade, o que contribui para o impacto desproporcional nas comunidades negras.
“Quando dizem que favelas e periferias são quinze vezes mais atingidas que outros bairros, não é natural que em alguns municípios, bairros, periferias e favelas sofram com consequências mais graves da chuva do que outros”, afirmou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ao apontar a relação entre as vítimas das inundações e deslizamentos no Rio de Janeiro, no último final de semana, com o racimo ambiental.
Para se ter uma ideia, no Brasil, ao menos 380 pessoas foram mortas nos deslizamentos, enchentes e chuvas fortes. Ao menos 232 mil foram afetadas pelos desastres só em 2022, de acordo com a Defesa Civil. A maioria das áreas estão localizadas na periferia.
“Isso acontece porque uma parte da cidade, do estado, não tem a mesma condição de moradia, de saneamento, de estrutura urbana do que a outra. Também não é natural que esses lugares tenham ali a maioria da sua população negra. Isso faz parte do que a gente chama e define de racismo ambiental e os seus efeitos nas grandes cidades”, completou a ministra.
Racismo ambiental
Maryellen Crisóstomo, jornalista e coordenadora executiva da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Tocantins (COEQTO), ressaltou que o racismo ambiental se manifesta na falta de acesso a serviços essenciais, como escolas, banheiros, asfalto e esgoto, evidenciando as violências enfrentadas pelos corpos pretos nos territórios quilombolas.
“Falar hoje de racismo ambiental é só mais uma forma de tipicar as violências sofridas pelos corpos pretos, nos territórios quilombolas e rurais Brasil afora”, explica.
Estudiosos e ativistas apontam que o racismo ambiental está profundamente enraizado no cotidiano, e se manifesta em aspectos como a falta de saneamento básico, coleta de lixo inadequada, ausência de rede de esgoto, escassez de água potável e instalação de aterros sanitários em comunidades de baixa renda, majoritariamente habitadas por negros e pardos.
Alzira Nogueira, dirigente da Central Única das Favelas (CUFA) no Amapá, enfatizou a urgência de ações para combater a fome nas periferias, destacando a necessidade de cuidado e acolhimento às comunidades afetadas. Além disso, ressaltou a importância de investir em diálogos e tecnologias que considerem o legado ancestral para enfrentar o problema do racismo ambiental.
” A periferia no Amapá, é uma periferia que passa fome. Muitas vezes a nossa própria ação política mais importante é atuar para que aquelas pessoas tenham alimento”, afirma a dirigente, que complementa: “É muito importante que as comunidades que vivenciam estes acontecimentos se sintam cuidadas e acolhidas. Além dessa dimensão histórica, nós precisamos sentar para aprofundar as tecnologias do legado ancestral, e outros atores sociais. O encontro é necessário. É também importante investir em espaços de diálogo para que as comunidades debatam sobre isso [racismo ambiental]”, afirma Alzira.
Edição: Cley Medeiros