Cúpula da Amazônia levantou debates em Belém, sede da COP 30, sem abertura para a sociedade civil
A Cúpula da Amazônia começou nesta terça-feira em Belém, reunindo chefes de Estado na capital paraense, mas sem espaço para representantes da sociedade civil
A Cúpula da Amazônia começou nesta terça-feira, 8, em Belém, reunindo chefes de Estado na capital paraense, com presidentes do Brasil, Bolívia, Colômbia, Guiana e do Peru, enquanto os líderes da Venezuela, Equador e Suriname, por questões internas dos dois países, enviaram representantes de seus países. A Guiana Francesa, apesar de ter uma ´porção de seu país com cobertura amazônica, não faz parte da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) por não ser um país independente. A nação é uma colônia francesa, e o presidente do país europeu, Emmanuel Macron, não compareceu ao evento, sendo criticado na imprensa francesa.
O evento teve início após a realização dos Diálogos Amazônicos, que reuniu representantes de entidades, movimentos sociais, academia, centros de pesquisa e agências governamentais do Brasil e demais países amazônicos com o objetivo de formular sugestões para a reconstrução de políticas públicas sustentáveis para a região.
O resultado desses debates foi apresentado na forma de propostas aos chefes de Estado durante a Cúpula. “O acompanhamento do conjunto de propostas do Diálogos Amazônicos, no âmbito do Brasil, será feito pela Secretaria-Geral da Presidência da República, mas tem também vários instrumentos. Por exemplo, o PPA [Plano Plurianual] que está sendo construído. Tem propostas daqui que podem ser incorporadas ao PPA”, afirmou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Cúpula para quem?
Em oito plenárias oficiais e mais de 400 eventos paralelos, dois assuntos se destacaram: o desmatamento zero e o fim da exploração de petróleo na Amazônia.
“Foram 14 anos sem convocação da Cúpula dos Países do Tratado de Cooperação Amazônica. Era fundamental que nesse momento de mudança do clima, perda de biodiversidade e grandes desafios para os países amazônicos que a Amazônia se juntasse pelo seu povo e seus governos para fazer todos esses enfrentamentos” avaliou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva, que estava presente no evento.
Mesmo assim, o formato do evento recebeu diversas críticas.
Enquanto o primeiro momento, o DIálogos Amazônicos, que ocorreram entre os dias 4 e 6, foi aberto a um público de mais de 14 mil pessoas, o segundo momento, a Cúpula, que ocorreu nos dias 8 e 9, onde foram tomadas decisões, foi fechado somente para as autoridades e chefes dos países, alvo de crítica por parte do público.
Em entrevista para a Amazônia Real, o presidente da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) Toya Manchineri, afirmou que “Não fomos convidados, mas viemos para Belém, porque a nossa luta é feita de resistência”.
Cerca de 600 indígenas da bacia amazônica se reuniram, longe dos holofotes e da megaestrutura montada, e fizeram sua própria Cúpula: a Cúpula dos Povos Indígenas, que aconteceu em Belém no último sábado dia 06, paralela a programação oficial dos Diálogos Amazônicos.
Os povos indígenas são os principais defensores das florestas, segundo mostra o relatório “Vegetação nativa perde espaço para a agropecuária nas últimas três décadas”, do Mapbiomas Brasil.
“Nós queremos ser escutados pelo governo e participar diretamente das decisões que incidem sobre nossos territórios. E a gente também quer incidir nas decisões do governo. Nós também temos voz e já passamos do período tenebroso do Bolsonaro”, acrescentou a entrevista o líder Toya.
Como forma de organização, movimentos populares dos países da pan-Amazônia consolidaram carta coletiva com uma série de denúncias e requerimentos em defesa do bioma que foi entregue aos chefes de Estado presentes na cidade. Lideranças de diversas organizações pontuaram que é importante que os governantes considerrem as demandas da carta, porque não há mais tempo para atuar na defesa da Amazônia, da floresta e principalmente das pessoas que nela vivem e não são consideradas nas políticas públicas voltadas para a região.