Crise climática: quinze cidades do Amazonas decretam estado de emergência por causa da seca
Enquanto o Rio Grande do Sul sofre com enchentes, no norte do país, o Amazonas enfrenta uma seca histórica
Dos 62 municípios do Amazonas, 59 estão sofrendo com a seca e 15 decretaram estado de emergência. Até esta quarta-feira (27), o rio Amazonas já havia baixado 7,35 metros.
Os dados fazem parte do informativo da Defesa Civil amazonense e mostram também que os municípios mais afetados estão localizados na Calha do Alto Solimões.
É o caso de São Paulo de Olivença, onde 23.932 pessoas foram atingidas pela seca, o que representa quase 6 mil famílias. Ainda segundo a Defesa Civil do estado, mais de 80 mil pessoas são afetadas pela estiagem.
Crise generalizada
Outro caso preocupante acontece na capital, Manaus. A estiagem severa secou totalmente o Lago do Aleixo, na área urbana da cidade, a água que passava deu lugar à lama que cada dia fica mais seca e causa rachaduras no solo.
Em entrevista para o G1, o comerciante Miguel Cordeiro disse que nunca havia visto uma situação assim: “Essa é a primeira vez. Afeta 100% a nossa venda. Esta semana eu só vendi uma água. É daqui que eu tiro parte da minha renda. Como está assim, estou vivendo com a aposentadoria que eu recebo, e pedindo que Deus nos proteja, para que a seca acabe logo.”
A perspectiva é de que o drama se agrave ainda mais em outubro, quando a seca deve ser mais intensa. A estimativa da Defesa Civil é que, até dezembro, cerca de 500 mil pessoas sejam atingidas no Amazonas pelos efeitos da estiagem.
“A previsão é que, devido à influência do fenômeno climático El Niño, que inibe a formação de nuvens de chuvas, a estiagem deste ano seja prolongada e mais intensa se comparada a anos anteriores, podendo ultrapassar 50 o número de municípios atingidos”, informou a Defesa Civil.
Possíveis causas
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), além do El Niño, que aumenta a temperatura das águas superficiais do oceano na região do Pacífico Equatorial, o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, logo acima da linha do Equador, inibe a formação de nuvens, reduzindo o volume de chuvas na Amazônia.
O instituto aponta, ainda, que esse clima mais quente dificulta a formação de nuvens de chuva na região.
Em nota publicada esse mês, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) juntamente com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) disseram que “com a redução do volume de chuvas, espera-se que esse processo de recessão ocorra mais intensamente, com possíveis impactos sobre a navegação (afetando o transporte de pessoas e mercadorias entre comunidades da região), captações de água e geração de energia em aproveitamentos hidrelétricos.”
Redução de danos
Para minimizar os impactos da crise, o governo federal e o governo estadual do Amazonas anunciaram uma força-tarefa e, em reunião em Brasília, ficou acordado o envio emergencial de cestas básicas e água, a intensificação das operações de combate a incêndios, além do apoio logístico, acesso a programas sociais federais e liberação de emendas parlamentares.
“É uma estiagem muito grande, prejudicando todo o sistema de transporte, que é fluvial, uma grande mortandade de peixe que já começa a acontecer, risco de desabastecimento”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Em Atalaia do Norte, o rio secou tanto que a empresa de abastecimento não consegue mais captar água. Mais de 5 mil pessoas estão sem acesso a água potável.
A Prefeitura do município informou que está usando caminhões para o abastecimento de água nas casas.
Ainda na terça-feira, o governo federal anunciou a liberação de R$140 milhões para dragagem nos rios Madeira e Solimões. Os rios são importantes vias de escoamento de cargas e produtos da região, inclusive da Zona Franca de Manaus, e de trânsito de pessoas.