Crise climática no Rio Grande do Sul é “tragédia anunciada”, afirmam cientistas
Cerca de 150 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas
O Rio Grande do Sul enfrenta uma crise sem precedentes devido às enchentes que assolam o estado, deixando um rastro de destruição e desespero em sua passagem. Desde o final de abril, o mapa do estado vem sendo tingido de vermelho no sistema do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
No dia 29 de abril, cidades como Estrela, Lajeado e Encantado já estavam sob alto risco de inundações, sinalizando o desastre iminente que se intensificou nos dias seguintes. No dia 2 de maio, a situação atingiu um ponto crítica e o município de Sinimbu, parcialmente destruído pela força das águas.
Cerca de 150 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas, estradas foram interrompidas, pontes destruídas, e infelizmente, já foram registradas mais de 80 mortes.
O climatologista Carlos Nobre alerta para a gravidade da situação, enfatizando a necessidade urgente de medidas efetivas para salvar vidas. Entre essas medidas, destaca a importância de sistemas de alerta por sirenes e a retirada de milhões de brasileiros que vivem em áreas de risco, como ribeirinhas e encostas.
No entanto, Nobre adverte que a falta de políticas públicas adequadas tem contribuído para a tragédia em curso. “Em nosso planeta, nunca aconteceu nada como o que acontece no Rio Grande do Sul neste mês de maio. Estou falando em um período de 125 mil anos”, alertou o cientista, em entrevista ao Brasil 247.
As enchentes no Rio Grande do Sul não são eventos isolados, mas sim o resultado de uma tragédia anunciada. O climatologista ressalta que o aquecimento global está tornando esses eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, alertando que o que atualmente se vive no estado pode se tornar o “novo normal” nas décadas futuras.
Pedro Ivo Camarinha, especialista em geodinâmica do Cemaden, destaca que a ciência tem cumprido seu papel ao alertar sobre as mudanças climáticas, porém, lamenta a falta de ação por parte dos governantes. Ele aponta que pouco tem sido feito desde 2015 para lidar com os impactos das catástrofes naturais, enfatizando a necessidade de políticas de adaptação e prevenção.
Carlos Nobre lamenta que pouco do conhecimento produzido tenha sido aproveitado. Suas projeções sobre a Amazônia e os impactos do desmatamento e aquecimento global agora se materializam nos desastres naturais que assolam o Rio Grande do Sul.