Crianças estão aprendendo mais sobre a Amazônia no FOSPA, em Belém
Crianças também fizeram formação sobre democracia e direitos convivendo e circulando nos ambientes do FOSPA
Mães e pais decidiram levar crianças para os diversos espaços do 10º Fórum Social Pan-Amazônico
Por Alice Martins Morais para Cobertura Colaborativa X FOSPA
O X Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA) reuniu desde a última quinta-feira (28/07) até domingo (31/07) pessoas de diferentes gêneros, idades e etnias. E as crianças também vêm ocupando esses espaços, com olhares atentos, brincadeiras e muito aprendizado. Isso porque mães e pais decidiram levar filhos(as) consigo, como foi o caso da professora Larissa Alcolumbre, 30 anos, que levou Santiago, de 8 anos, para acompanhar a programação.
Os dois participaram de mesas, painéis, atos e apresentações culturais durante todos os dias do Fórum. “Eu quero que ele mergulhe mesmo nessa experiência, porque acredito que a melhor forma de ensinar sobre diversidade, respeito ao outro e também todas as temáticas que estamos discutindo aqui, é ele ver, sentir e ocupar espaços. Principalmente sendo mãe de um menino, tenho que ter esse cuidado, para que ele aprenda desde cedo e seja um homem que tenha esse alicerce forte dentro de si”, explica Larissa.
A professora também percebe a experiência como uma maneira de que o filho conheça mais do ambiente em que ela se formou, dentro da Universidade Federal do Pará e em meio a fóruns como esse. “O primeiro que participei foi quando eu tinha 18 anos, no Fórum Social Mundial de 2009, em Belém. Isso mudou a minha vida e a minha forma de enxergar o mundo ao meu redor. Imagina para ele, já crescendo nesse tipo de ambiente, como vai ser”, conta.
Santiago, por sua vez, mesmo se divertindo tem levado o FOSPA a sério, prestando atenção nas discussões, clamando as palavras de ordem nos atos e se envolvendo nas culturais, por exemplo. “Adorei estar aqui. Desde as músicas até ouvir e ver os indígenas falando sobre o meio ambiente”, diz. O garoto quer ser arquiteto quando crescer e deseja uma Amazônia verde e em paz para o futuro: “Espero que a Amazônia seja cheia de animais e que os humanos nunca mais cortem as árvores”, aspira.
Amizades e contatos com pessoas diferentes – Outro proveito que Santiago tira do evento é fazer novas amizades, com pessoas de locais e círculos sociais diferentes do usual, como o colega Wilder Nascimento, que também tem oito anos, sonha em ser arquiteto e nasceu na aldeia Betânia do Amazonas, da etnia indígena Tikuna.
Wilder é filho de Rodrigo Nascimento, 43, artesão e estudante de Odontologia, da etnia Waiwai, que estava na área da feira do evento vendendo colares, pulseiras e brincos, dentre outros produtos de matéria-prima natural, feitos artesanalmente. “Nós gostamos que eles [os filhos] estejam sempre conosco para aprender sobre nosso trabalho, participar de eventos diferentes e conviver com outras crianças. O Wilder é muito sociável e eu acho isso muito bom porque ele faz amizades, se diverte e desenvolve a língua portuguesa”, explica Rodrigo.
O artesão nasceu e cresceu na aldeia, no município de Oriximiná, na região do Baixo Amazonas do estado do Pará, e aprendeu a língua portuguesa quando já era adulto. A etnia Waiwai está presente também no Amazonas e Roraima e são falantes, em sua maioria, da família linguística Karib, de acordo com informações do Instituto Socioambiental.
Para Wilder, o compartilhamento de experiências dentro do Fórum também traz novos conhecimentos. “Aprendi muito sobre respeito. Tem muitas comemorações, de muita gente diferente e com religiões diferentes. Eu consigo me divertir e fico pensando muito sobre a importância de não queimarem a Amazônia para que a gente possa ter um futuro melhor”, declara.
Participação ainda no colo – A pequena Rawena, de 8 meses, filha da turismóloga e ativista Leila Borari, 36, e do biólogo Léo Ferreira, 39, também estava presente, mostrando que estes espaços podem já acolhem os pequenos desde cedo. Rawena e Leila são da etnia Borari, de Alter do Chão, também na região do Baixo Amazonas, no Pará. Como uma das fundadoras do coletivo Suraras do Tapajós e voz ativa dos direitos de mulheres indígenas, a mãe foi uma das convidadas do Fórum Social e foi acompanhada da família. “É a primeira vez que a Rawena está vindo conosco para um evento como esse e ela tem estranhado a mudança de ambiente, mas está se acostumando”, diz Leila.
Sendo filha de lideranças indígenas e também tendo crescido em espaços de discussão como o FOSPA, a expectativa é que a filha participe continuamente dessa rotina. “Sem sombra de dúvida, crescer em meio a tantas discussões sociais e ambientais e tendo a mãe como inspiração vai servir de exemplo na formação da Rawena”, acredita o pai, Léo.