Jorge Fagundes, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30

No enfrentamento à emergência climática, crianças e jovens organizados em coletivos e movimentos sociais têm se consolidado como uma das principais forças globais. De movimentos internacionais como o Fridays for Future – iniciado pela ativista Greta Thunberg – até organizações amazônicas que ganham força na COP30, os jovens vêm ocupando praças, escolas, conferências e redes sociais para exigir ações reais. 

E nessa perspectiva, a COP30 oportunizou espaços de debates protagonizados por eles, como no dia 17 de novembro, dedicado à juventude. Afinal, é do futuro deles que se trata e por isso a importância da representatividade nesses espaços. 

Dentre as lideranças jovens que participam da conferência está o estudante de Belém (PA), João Victor da Silva, de 16 anos, conhecido como João do Clima. Ele se tornou uma das vozes mais representativas da juventude amazônica, trazendo para o debate climático a perspectiva das ilhas e periferias — territórios onde os efeitos da crise climática são mais intensos e danosos. Para ele, a crise não é abstrata: está no nível da água que sobe, na maré que invade casas, no calor extremo que afeta quem não tem acesso a ar-condicionado, ou na precariedade das habitações vulneráveis ao vento e à chuva.

João costuma dizer que a crise climática funciona como uma tempestade em que “tem gente em iate, tem gente em rabeta e tem gente até sem barco”. 

A metáfora revela a desigualdade profunda que atravessa o tema: quem tem menos recursos sofre mais e tem menos acesso à proteção. Seu trabalho de comunicação e mobilização o levou a ser convidado como conselheiro do UNICEF na COP30, reforçando o papel ativo da juventude amazônica na formulação de políticas ambientais em escala global.

E as pesquisas do Escritório da ONU para a Juventude indicam que jovens na faixa etária de João, estão cada vez mais engajados. Em 2024 e 2025, a ONU, junto com o Climate Action Network divulgaram dados que revelam que jovens entre 15 e 29 anos compõem hoje o grupo mais dedicado, garantindo representatividade em conselhos consultivos, como aconteceu no Brasil com os Conselhos de Juventude pelo Clima e iniciativas como o Engajamundo, que envia delegações jovens para conferências da ONU desde 2015.

Apostando na formação dos jovens, desde 2015, o Engajamundo vem abrindo espaço para que brasileiros participem diretamente das conferências da ONU, enviando delegações que ampliam a presença dessa parcela da sociedade nos debates globais. Esse protagonismo crescente chamou a atenção das Nações Unidas, que, durante a COP27, no Egito, instituiu o cargo de Jovem Campeão Climático, posição oficializada na edição seguinte do evento.

Jovens negociadores

Marcele Oliveira é a Jovem Campeã da COP30 (Gabriel Della Giustina/COP 30)

Na edição da COP em Belém, a responsabilidade foi delegada a Marcele Oliveira, de 26 anos. Selecionada entre 154 candidaturas vindas de todas as regiões do país, Marcele é uma mulher negra de Realengo, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e faz parte do programa Jovens Negociadores pelo Clima. Ela participa das Conferências do Clima desde a COP de 2022, também atuando pela Coalizão Clima É de Mudança e pelo Perifalab.

Além da atuação internacional, Marcele desenvolve pesquisas que aproximam cultura e clima, investigando como práticas culturais podem fortalecer a adaptação e a educação climática nas periferias brasileiras, um olhar que conecta conhecimento, território e resistência diante dos impactos das mudanças climáticas.

Além de protestos e manifestações públicas, a juventude tem ocupado espaços decisórios, algo que se intensificou no período pré-COP30, com hackathons climáticos, laboratórios de políticas públicas, projetos de tecnologia sustentável e iniciativas de monitoramento comunitário de eventos extremos. Jovens amazônidas, indígenas e quilombolas também ganharam protagonismo, trazendo perspectivas de justiça climática, território e ancestralidade que antes eram ignoradas ou sub-representadas nas negociações internacionais.

Investimento no futuro

Frente à formação de novas lideranças jovens em defesa do clima, é preciso que os governos invistam em políticas públicas para impulsionar novas potências. Afinal, ignorar essas vozes significa a perda de grandes oportunidades, pois a juventude oferece soluções criativas, experiências territoriais valiosas e a urgência emocional que só quem está vivenciando o colapso climático desde cedo consegue transmitir.

Para que esse cenário evolua, governos, empresas e instituições precisam abrir espaço real, não simbólico: incluir jovens em processos de decisão, financiar iniciativas lideradas por eles, incorporar suas pesquisas, dar visibilidade às suas narrativas e garantir segurança para que continuem atuando, sobretudo em regiões vulneráveis como a Amazônia.

Valorizar a juventude é essencial não apenas para enfrentar a crise climática, mas para imaginar novos modelos de sociedade: mais justos, inclusivos e sustentáveis.