No Brasil, a gravidez precoce entre meninas de 10 a 14 anos permanece um desafio alarmante. Dados do Ministério da Saúde, divulgados pela coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, revelam que 57 meninas nessa faixa etária dão à luz todos os dias, totalizando cerca de 20.800 partos por ano. Apesar de uma redução em relação a décadas passadas, o número expõe a gravidade de um problema enraizado em desigualdades sociais e falhas no acesso à saúde e educação.

Os dados fazem parte de um levantamento realizado pelo Instituto Azmina para o projeto “Meninas Mães”.

A gravidez precoce está intrinsecamente ligada a contextos de vulnerabilidade. Muitas dessas meninas vivem em áreas de pobreza extrema, como periferias urbanas ou zonas rurais, onde o acesso a serviços de saúde, informação e contraceptivos é limitado. A violência sexual é um fator crítico: cerca de 60% dos casos de estupro no Brasil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, envolvem vítimas menores de 14 anos, e muitas gestações resultam dessas agressões. Além disso, práticas como casamentos infantis, ainda comuns em algumas regiões, agravam o quadro.

As regiões Norte e Nordeste, incluindo estados como Amazonas e Maranhão, concentram as maiores taxas de gravidez precoce, refletindo disparidades regionais. No Sudeste, os números são menores, mas ainda significativos, indicando que o problema transcende fronteiras geográficas.

As consequências da gravidez precoce são devastadoras. Para as meninas, os riscos à saúde incluem complicações obstétricas, como pré-eclâmpsia e partos prematuros, devido ao corpo ainda em desenvolvimento. Psicologicamente, enfrentam estigma, abandono escolar e dificuldades de inserção no mercado de trabalho, o que perpetua o ciclo de pobreza. Para os bebês, há maior probabilidade de baixo peso ao nascer e mortalidade infantil.

O estudo aponta que a população indígena é a mais afetada pela maternidade infantil. Entre os 100 municípios com as maiores taxas de fecundidade, 90 apresentam forte presença indígena.