Segundo análise feita pelo Financial Times, nos últimos 30 anos, as taxas de câncer entre as nações industrializadas aumentaram mais rápido entre as pessoas de 25 a 29 anos do que em qualquer outra faixa etária

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Por Maria Vitória Moura

Segundo análise feita pelo Financial Times, com os dados do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos últimos 30 anos, as taxas de câncer entre as nações industrializadas aumentaram mais rápido para as pessoas entre 25 e 29 anos do que em qualquer outra faixa etária. O resultado aponta uma mudança para o cenário de 20 anos atrás, quando os casos mais recorrentes ocorriam entre pessoas com mais de 75 anos.

O aumento alarmante desses casos fez com que o estudo apontasse para uma possível epidemia de câncer entre as gerações mais novas, com um alerta para o câncer do tipo colorretal, que aumentou 70% entre pessoas de 15 a 39 anos de 1990 a 2019, em comparação com um aumento de 24% em outros tipos de câncer. Esse salto alarmante, segundo médicos oncologistas, tem implicações econômicas, clínicas e sociais.

O oncologista e gastroenterologista da Mayo Clinic, Frank Sinicrope, coloca que o estilo de vida ao qual as crianças são expostas nos primeiros anos de vida provavelmente é um fator para o aumento de casos precoces, que surgem justamente após 1990, quando a alimentação passa a ter ênfase no consumo de alimentos com alto teor de gorduras saturadas e aditivos químicos.

Outras pesquisas também corroboram para essa análise, uma vez que o aumento do consumo de ultraprocessados entre as gerações mais jovens coincide com o aumento do desenvolvimento de casos de câncer.

Estudos publicados no periódico médico britânico “The BMJ”, em 2022, apontam que comer muitos alimentos ultraprocessados aumenta significativamente o risco de câncer colorretal nos homens e pode levar a doenças cardíacas e morte precoce em homens e mulheres.

Dentre os fatores de risco apontados para o câncer colorretal, está uma dieta rica em carnes vermelhas e carnes processadas, além de comidas preparadas a temperaturas muito altas, como frituras, grelhados ou assados, que criam substâncias químicas que podem aumentar o risco de câncer.

Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia emitido um alerta sobre o consumo de alimentos embutidos como peito de peru, bacon e presunto, que foram classificados como grupo 1 de alimentos carcinogênicos, alcançando o mesmo patamar dos carcinógenos já conhecidos, como o tabaco, amianto e fumaça de óleo diesel.

Esses dados são muito sintomáticos quando analisados sob a luz da pesquisa do Datafolha, encomendada pela Aliança de Controle ao Tabagismo (ACT), que analisou a opinião da população em relação à tributação e comercialização de produtos danosos à saúde, como tabaco, álcool e ultraprocessados.

Apesar de 94% da população ser a favor da taxação de produtos nocivos, essa porcentagem cai quando se trata de alimentos ultraprocessados, sendo apenas 46%.

Outro fator evidencia justamente a juventude. Mesmo que 89% dos entrevistados de 16 a 24 anos sejam favoráveis a uma cesta básica composta por alimentos in natura, 54% também é a favor que o governo conceda incentivos fiscais que barateiam produtos ultraprocessados e nocivos à saúde. Dentre essa faixa etária, a porcentagem a favor dos incentivos fiscais é a maior entre todas as categorias de análise, seja por idade, gênero, classe ou escolaridade.

Os jovens estão consumindo cada vez mais ultraprocessados, sendo um costume alimentar que é despertado desde a infância. Esses hábitos, incentivados pelas grandes empresas e facilitados pelos Estados, estão adoecendo a juventude de forma acelerada e precoce.