Cremesp tem 48h para retirar processos contra médicos que realizaram procedimentos de aborto legal em SP
Processos foram abertos devido resolução do Conselho Federal de Medicina que proibia assistolia fetal em casos de estupro.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu prazo de 48h para que o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) suspenda todos os procedimentos contra médicos que tenham sido abertos durante a vigência da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que proibia a assistolia fetal como método de aborto.
O procedimento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para casos de aborto legal acima de 22 semanas. A resolução do CFM, publicada em 3 de abril deste ano, proibia médicos de realizarem a assistolia fetal em “casos de aborto previsto em lei oriundos de estupro”, mas foi suspensa em 17 de maio, pelo ministro Alexandre de Moraes.
Ainda em 24 de maio, a ordem do STF foi para suspender todos os processos judiciais e procedimentos administrativos e disciplinares motivados pela antiga resolução. A instauração de qualquer novo procedimento contra médicos baseado na resolução publicada em abril também foi proibida.
A Folha de S. Paulo revelou, no entanto, que o Cremesp ainda mantém processos em aberto contra ao menos dez médicos que realizaram abortos legais no Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha. A instituição está intimada a comprovar o cumprimento da decisão cautelar que veta a punição aos médicos envolvidos nos procedimentos.
Relembre as investidas contra o direito ao aborto legal
Em dezembro, a Prefeitura Municipal de São Paulo suspendeu os serviços de aborto legal no Hospital Municipal e Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, uma das principais referências desse tipo de procedimento no Brasil. Já em 18 de janeiro, a Justiça de São Paulo ordenou que prefeitura retomasse os serviços, dando à instituição o prazo de até 10 dias, sob multa de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
Em 9 de fevereiro, a Prefeitura entrega a direção do Hospital à ginecologista Marcia Tapigliani, filiada ao PL de Jair Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas. Com um forte discurso antiaborto, ela candidatou-se a deputada estadual nas eleições de 2022. Em abril, vem a público por meio da colunista Mônica Bergamo, que o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) lidera uma ofensiva contra médicos que trabalham no Hospital Vila Nova Cachoeirinha e realizaram procedimentos de aborto legal em mulheres vítimas de estupro. Até então, o conselho já havia votado pela interdição cautelar de duas médicas, e ameaçava cassar os registros de pelo menos outras três profissionais.
Ainda em abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publica uma resolução que proíbe o procedimento de assistolia fetal em casos de gestações acima de 22 semanas, dificultando a realização de aborto legal em vítimas de estupro. Em dez de abril, a Justiça Federal concedeu ao CFM até 72 horas para se manifestar sobre o assunto e, em 19 de abril, derruba a resolução do Conselho.
Só em 6 de maio é que a Polícia Civil abre um inquérito para investigar as denúncias de que a Prefeitura de São Paulo teria acesso a dados sigilosos de mulheres que passaram por procedimentos em Vila Nova Cachoeirinha. Em 17 de maio, o ministro Alexandre de Moraes concedeu uma medida cautelar que suspendeu os efeitos da resolução do CFM, que recorreu da decisão em 21 de maio.