CPI do Golpe tem acesso a 17 mil e-mails apagados por militares no gabinete de Bolsonaro
A exclusão sistemática de e-mails relevantes que poderiam lançar luz sobre decisões políticas, ações do governo e questões sensíveis não é praxe durante trocas de governo
A exclusão sistemática de e-mails relevantes que poderiam lançar luz sobre decisões políticas, ações do governo e questões sensíveis não é praxe durante trocas de governo
Ex-assessores de ordem que serviram ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) eliminaram um total de 17.354 e-mails de caixas de entrada. Os detalhes vieram à luz por meio de materiais submetidos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Golpe. A investigação foi conduzida pelo Portal G1, em colaboração com a TV Globo.
A exclusão sistemática de e-mails relevantes que poderiam lançar luz sobre decisões políticas, ações do governo e questões sensíveis não é praxe durante trocas de governo. Os e-mails deletados foram encontrados na pasta de recicláveis de cada um dos ex-assessores de ordem, sugerindo uma tentativa de ocultar informações críticas.
A empresa responsável pelo software de gestão de e-mails utilizada pelos ex-assessores explicou que, para efetivar uma eliminação definitiva, os itens deveriam ser removidos novamente após terem sido enviados para a pasta de recicláveis. A descoberta levanta questões sobre o propósito real por trás da exclusão em massa desses e-mails funcionais.
Um ajudante de ordem diferente
Uma exceção notável foi Danilo Calhares, um dos ajudantes de ordem, cuja caixa de entrada não continha registros de e-mails excluídos. Calhares assumiu o cargo em dezembro de 2020, e o primeiro e-mail em sua caixa de entrada remonta a novembro de 2022, indicando que ele conseguiu eliminar permanentemente os e-mails em questão.
Mensagens sensíveis emergem
Ao analisar os e-mails encontrados nas pastas de recicláveis de alguns ex-assessores de ordem, surgiram mensagens relevantes que continham informações delicadas. Um dos destaques foi o conteúdo de mensagens de Mauro Cid, coordenador-geral dos assistentes de ordem, que continha um e-mail de Maria Farani, ex-colaboradora do gabinete pessoal da Presidência. A mensagem discutia alegações sobre a tentativa de venda de um relógio Rolex por US$ 60 mil. Os e-mails pareciam insinuar que o relógio em questão teria sido obtido durante uma viagem oficial. Isso está em investigação.
Sobre o relógio, Mauro Cid, que está preso, ainda não se pronunciou. Mas Jair Bolsonaro afirmou que vê como ‘natural’ a decisão de Cid de tentar vender o relógio, mesmo tendo sido entregue durante uma viagem oficial, como presente.
Descobertas impactantes
Outra descoberta surpreendente veio da pasta de recicláveis de Osmar Crivelatti, atualmente atuando como servidor de apoio ao ex-presidente Bolsonaro. Um dos e-mails mencionava a existência de pedras preciosas entregues a Jair Bolsonaro durante uma viagem de campanha para a reeleição no ano anterior, 2022, na cidade de Teófilo Otoni (MG).
Os números de e-mails eliminados variavam entre os ex-assessores de ordem, com quantidades distintas:
Osmar Crivelatti: 6.096 e-mails eliminados;
Marcelo Câmara: 5.705 e-mails eliminados;
Mauro Cid: 4.212 e-mails eliminados;
Cleiton Holzschuk: 769 e-mails eliminados;
Daniel Luccas: 376 e-mails eliminados;
Adriano Teperino: 125 e-mails eliminados;
Jonathas Coelho: 71 e-mails eliminados.
Implicações políticas e legais
A descoberta dessas exclusões em massa de e-mails funcionais traz à tona questões políticas e legais significativas. A CPI do Golpe planeja aprofundar sua investigação para entender as razões por trás dessas eliminações e determinar se houve tentativas de ocultar informações relevantes.