Corpos Coletivos. Entrevista com Jup do Bairro
De São Paulo, Jup do Bairro é uma artista em pulsação. Hoje ela faz aniversário, acaba de lançar “O CORRE (Bixurdia Remix)” e é a #ArtistaFoda entrevistada dessa semana.
Por Marcelo Mucida, para @planetafoda*
De São Paulo, Jup do Bairro é uma artista em pulsação, que já fez muitos corpos vibrarem. Nascida e criada no Capão Redondo, que fica no extremo sul do município, ela é a entrevistada desta semana para a editoria #ArtistaFOdA.
Jup desenvolve projetos entre diversas linguagens, tendo lançado o seu primeiro EP “CORPO SEM JUÍZO” em junho do ano passado. O trabalho tem direção musical de BADSISTA e participações de Deize Tigrona, Rico Dalasam, Mulambo e Linn da Quebrada – grande amiga e parceira musical da artista. Jup integrou as turnês “Pajubá” e “Trava Línguas” de Linn, que circularam pelo país e também no exterior. As artistas compartilham várias realizações entre as suas trajetórias.
Desde o seu lançamento, “CORPO SEM JUÍZO” impactou muitas pessoas que se identificaram com as narrativas trazidas por Jup através de músicas que ela compôs desde quando tinha 13 anos.
“É como se fosse uma extensão de mim, a possibilidade de imortalizar as minhas memórias, o meu corpo. É pessoal, mas não termina em mim. É honesto com uma dignidade construída. Talvez seja a coisa mais importante que já fiz na minha vida e pela mesma.” – conta ela sobre o processo de construção do EP.
O trabalho rendeu à artista o prêmio na categoria de Revelação do Ano tanto no Prêmio Multishow quanto, mais recentemente, no Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), que foi anunciado nesta semana. Mas, para concretizar este projeto, Jup percorreu um processo desafiador desde a campanha de financiamento coletivo que possibilitou esta realização.
Ao ser perguntada sobre como é poder acompanhar os retornos que surgiram a partir deste lançamento, ela pontua: “Ver hoje esse caminhar é justamente entender que estamos chegando a um momento em que não se pode mais não se falar desses corpos sem juízo, desses corpos abjetos, desses corpos que fogem de uma lógica judaico-cristã que nos silencia. E está insustentável também não falar do coletivo. O que os nossos corpos podem juntos, juntas, juntes para a criação de algo maior do que nosso próprio ego.”
A sua experiência com a arte começou a se desenvolver na adolescência, quando ela passou a escrever as suas primeiras composições: “A arte aparece pra mim como uma espécie de terapia barata. Eu não tinha nenhuma pretensão ainda de ser compositora, cantora ou artista. Eu comecei a escrever aos meus 13 anos para entender o que se passava no meu corpo, na minha mente. E, a partir dessas composições, dessas escritas, eu fui entendendo que mente era corpo, corpo era mente e com isso comecei a me entender também, a me enxergar e, principalmente, a me inventar.”
“Eu costumo dizer que a Jup do Bairro veio muito antes da Jup Pires. A Jup do Bairro acabou sendo uma grande desculpa para explorar o que eu queria fazer com o meu corpo. Como eu estava me entendendo naquele momento. E eu sempre colocava a culpa na Jup do Bairro. E foi assim que eu comecei a pintar as unhas, a usar uma saia, a entender esteticamente o que o meu corpo queria dizer e, logo após, entender também o que a minha mente queria me alertar.”
Refletindo sobre a criação artística, ela complementa: “Eu vejo a arte ainda como uma das principais armas de transformação política. É a partir da arte que a gente consegue contar a história de um povo, de um tempo, do que está se vivendo e se fazendo no hoje, no agora. E pensar no futuro como uma extensão do presente. Com certeza a arte vem trazendo cada vez mais essa possibilidade de executar quem nós somos, como nós estamos nos enxergando, as nossas insatisfações, as nossas satisfações… Mas infelizmente eu não posso dizer que a arte transforma, que a arte muda vidas. Pelo menos não no plural. Porque se a gente ver o tanto de veneno que artistas nacionais, principalmente fora dos eixos sul e sudeste, enfrentam por querer executar a sua arte, a gente consegue entender que a arte não transforma nesse lugar tão plural. […] Mas eu posso dizer que a arte me mudou, me moveu e me move. E eu quero, a partir desse instrumento, poder minimamente transformar ou pelo menos criar dúvidas nas cabeças de outras pessoas.”
Celebrando 28 anos no dia em que esta matéria será publicada, Jup aproveita a data para também lançar um remix de “O CORRE” (uma das faixas do EP) feito por Bixurdia, com um lyric vídeo criado, em parceria com a Pacify Lyrics, a partir de memes brasileiros.
Sobre a música, Jup comenta: “Esse foi literalmente o meu corre, mas acredito que reflete o de muitas crianças e adolescentes da periferia. Logo que lancei o EP, ‘O CORRE’ foi sem dúvidas a faixa com maior compartilhamento em stories e feeds. Gente que ria, que se emocionava… Um misto de sensações tragicômicas geradas pela maneira que eu devolvia as dificuldades vividas rindo de mim mesma.”
A ideia para o remix foi se desenvolvendo após Jup conhecer a produtora Brisalicia, que fez uma versão para outra música sua. Ela ouviu e em seguida mandou uma mensagem para propor um trabalho em conjunto. “Assim fui conhecendo também a sua plataforma Bixurdia, uma produtora musical composta por corpos LGBTQIA+. Formalizamos essa parceria e fomos trocando juntas desde o zero. Quando ouvi a faixa, nem parecia um remix, de tão alinhado que ficou! Letra, instrumental, esse é o corre!”
E outras novidades estão por vir neste ano. Para acompanhar os novos projetos da artista, é só seguir o seu perfil no Instagram: @jupdobairro
Ouça “O CORRE (Remix Bixurdia)” aqui
Assista ao Lyric Vídeo:
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