Por Evelyn Ludovina

Em um cenário hiperconectado, onde a disputa por cliques e atenção é intensa, influenciadores do clima usam o celular e as redes sociais para mobilizar jovens e combater a desinformação. Eles mostram como a influência digital e a urgência climática caminham lado a lado e como as plataformas se tornaram centrais na formação da opinião pública sobre meio ambiente.

Se a internet democratizou o acesso à informação, também colocou nas mãos de cada pessoa uma ferramenta de cobrança e vigilância. Para Nice Tupinambá, jornalista, indígena e ambientalista, essa arma precisa ser bem utilizada. “Com essa ferramenta devemos saber usar para o que realmente interessa. Podemos colocar pressão e mostrar para esses países que não estamos de brincadeira, porque nós garantimos a vida no planeta e quem garante a nossa?”, afirma.

Ela reconhece que disputar espaço num ambiente dominado por entretenimento e polêmicas é desafiador, mas insiste na importância de persistir. “A pauta em que atuamos não é fácil. Estamos numa disputa de audiência, de likes, de viralizações. A gente pauta o que muita gente não quer: debater e se informar. É um campo minado. Mas estamos conseguindo driblar”, pontua.

We’e’ena Tikuna, artista e primeira indígena a protagonizar um desfile no Brasil Eco Fashion Week, reforça que, independentemente do número de seguidores, as redes sociais são uma forma legítima de luta. “Eu sempre coloco a minha voz porque sei o quão importante é falar da floresta e do clima. A gente sente na pele, no corpo e no ar que respira. Se a gente não cuida, quem vai cuidar? Somos responsáveis pelos nossos atos”.

A juventude amazônida, que já sofre e sofrerá ainda mais com os impactos climáticos, vê nas plataformas digitais uma maneira de espalhar conhecimento e fortalecer a educação climática. Para criadores de conteúdo da região, cada vídeo e cada postagem carregam a urgência de um legado.

Larissa Noguchi, jornalista, ativista, criadora de conteúdo ambiental e porta-voz do programa Agentes do Verificado da ONU, reforça esse papel pedagógico. Para ela, quanto mais cedo as crianças e jovens entenderem as consequências das ações humanas no clima, mais rápido avançaremos rumo a uma transição justa.

“Quero muito que a minha filha seja uma criança climática e uma jovem que fale por muitas, porque as próximas gerações são as que mais vão sofrer com os eventos extremos. Quanto mais jovens e crianças entenderem a importância da educação climática e de cuidar do planeta, mais se tornam adultos engajados e mobilizados”, explica.

Mas, se a internet é ferramenta potente, também é terreno fértil para desinformação. E, quando o assunto é clima, o impacto é ainda maior. “O negacionismo climático é alimentado por milhões investidos em desinformação. Ao falar sobre clima nas redes sociais, é preciso educar e levar informações básicas, porque muita gente não tem acesso. Também é preciso lidar com a desinformação. Vivemos numa era informacional enorme, em que o maior desafio é não cair no cansaço. É preciso comunicar com clareza”, destaca Larissa.

Entre denúncias, vivências e estratégias, as três concordam em um ponto central: a COP30 precisa ouvir mais as juventudes amazônicas, especialmente as indígenas. E reconhecer que, na região, a comunicação climática é sobrevivência.

“Nós, indígenas, somos julgados por termos um celular, mas ter esse aparelho hoje faz com que possamos divulgar o que acontece no nosso território, como mortes e invasões. Podemos falar sobre algo que vale a pena e representa a nossa identidade”, conclui We’e’ena Tikuna.