COP30 potencializa trabalho de criadores amazônidas no enfrentamento da desinformação climática
Influencers regionais se apropriam das redes para mobilizar jovens na luta por justiça ambiental.
Por Evelyn Ludovina
Em um cenário hiperconectado, onde a disputa por cliques e atenção é intensa, influenciadores do clima usam o celular e as redes sociais para mobilizar jovens e combater a desinformação. Eles mostram como a influência digital e a urgência climática caminham lado a lado e como as plataformas se tornaram centrais na formação da opinião pública sobre meio ambiente.
Se a internet democratizou o acesso à informação, também colocou nas mãos de cada pessoa uma ferramenta de cobrança e vigilância. Para Nice Tupinambá, jornalista, indígena e ambientalista, essa arma precisa ser bem utilizada. “Com essa ferramenta devemos saber usar para o que realmente interessa. Podemos colocar pressão e mostrar para esses países que não estamos de brincadeira, porque nós garantimos a vida no planeta e quem garante a nossa?”, afirma.
Ela reconhece que disputar espaço num ambiente dominado por entretenimento e polêmicas é desafiador, mas insiste na importância de persistir. “A pauta em que atuamos não é fácil. Estamos numa disputa de audiência, de likes, de viralizações. A gente pauta o que muita gente não quer: debater e se informar. É um campo minado. Mas estamos conseguindo driblar”, pontua.
We’e’ena Tikuna, artista e primeira indígena a protagonizar um desfile no Brasil Eco Fashion Week, reforça que, independentemente do número de seguidores, as redes sociais são uma forma legítima de luta. “Eu sempre coloco a minha voz porque sei o quão importante é falar da floresta e do clima. A gente sente na pele, no corpo e no ar que respira. Se a gente não cuida, quem vai cuidar? Somos responsáveis pelos nossos atos”.
A juventude amazônida, que já sofre e sofrerá ainda mais com os impactos climáticos, vê nas plataformas digitais uma maneira de espalhar conhecimento e fortalecer a educação climática. Para criadores de conteúdo da região, cada vídeo e cada postagem carregam a urgência de um legado.
Larissa Noguchi, jornalista, ativista, criadora de conteúdo ambiental e porta-voz do programa Agentes do Verificado da ONU, reforça esse papel pedagógico. Para ela, quanto mais cedo as crianças e jovens entenderem as consequências das ações humanas no clima, mais rápido avançaremos rumo a uma transição justa.
“Quero muito que a minha filha seja uma criança climática e uma jovem que fale por muitas, porque as próximas gerações são as que mais vão sofrer com os eventos extremos. Quanto mais jovens e crianças entenderem a importância da educação climática e de cuidar do planeta, mais se tornam adultos engajados e mobilizados”, explica.
Mas, se a internet é ferramenta potente, também é terreno fértil para desinformação. E, quando o assunto é clima, o impacto é ainda maior. “O negacionismo climático é alimentado por milhões investidos em desinformação. Ao falar sobre clima nas redes sociais, é preciso educar e levar informações básicas, porque muita gente não tem acesso. Também é preciso lidar com a desinformação. Vivemos numa era informacional enorme, em que o maior desafio é não cair no cansaço. É preciso comunicar com clareza”, destaca Larissa.
Entre denúncias, vivências e estratégias, as três concordam em um ponto central: a COP30 precisa ouvir mais as juventudes amazônicas, especialmente as indígenas. E reconhecer que, na região, a comunicação climática é sobrevivência.
“Nós, indígenas, somos julgados por termos um celular, mas ter esse aparelho hoje faz com que possamos divulgar o que acontece no nosso território, como mortes e invasões. Podemos falar sobre algo que vale a pena e representa a nossa identidade”, conclui We’e’ena Tikuna.



