COP29: Semana decisiva começa sob a sombra do G20 e a urgência por ações concretas
A COP29 retomou atividades com foco em transparência, inclusão e saúde climática, mas enfrenta desafios de implementação global.
Por Nicole Grell Macias Dalmiglio
Após a pausa de domingo, a COP29 retomou suas atividades com uma agenda que reflete a complexidade da crise climática e os múltiplos interesses em jogo. No entanto, os debates desta segunda-feira (18) foram permeados pela influência das decisões recentes do G20, realizadas poucos dias antes, que definiram o tom político e econômico para as negociações climáticas em andamento. Embora o G20 tenha sinalizado compromissos com metas globais de sustentabilidade, a ausência de ações concretas e a falta de apoio financeiro mais expressivo aos países em desenvolvimento continuam a ecoar na COP29, evidenciando o descompasso entre as promessas e a realidade.
O 18º dia de novembro na COP29 trouxe uma programação extensa e diversificada, com discussões que variaram de transparência climática a soluções tecnológicas e inclusão de comunidades vulneráveis. No entanto, a análise crítica da conferência aponta para desafios estruturais profundos que colocam em dúvida a capacidade de transformar debates em ações efetivas e integradas. O dia de hoje exemplificou o quanto a COP continua sendo um espaço paradoxal: ao mesmo tempo em que permite avanços simbólicos, é também um retrato da fragmentação e das desigualdades que permeiam a governança climática global.
Transparência Global: Avanço Retórico, Realidade Estagnada
A Mesa Redonda Ministerial sobre Transparência Global Climática destacou a importância da prestação de contas como pilar fundamental da governança climática. Representantes enfatizaram que a transparência é essencial para construir confiança entre as partes e garantir que compromissos sejam cumpridos. Entretanto, o debate mostrou-se limitado na proposição de mecanismos vinculantes e universalmente aplicáveis para responsabilizar países que não cumprem suas metas. A ausência de consequências reais para falhas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) demonstra que, apesar da retórica ambiciosa, o sistema permanece vulnerável à inação dos grandes emissores.
A Inclusão como Potencial Transformador ou Jogo de Aparências?
Eventos como o Fórum Internacional dos Povos Indígenas e as discussões sobre inclusão digital colocaram em pauta a urgência de integrar vozes frequentemente marginalizadas. No entanto, as limitações de acesso e a pouca representatividade em espaços de decisão revelam um padrão de inclusão mais simbólico do que efetivo. Embora a inclusão digital tenha sido apresentada como uma solução para reduzir desigualdades no combate às mudanças climáticas, os debates careceram de um diagnóstico mais profundo sobre a concentração de tecnologias e a dependência de países do Sul Global em relação às grandes corporações do Norte.
Além disso, as comunidades indígenas, que historicamente desempenham um papel essencial na preservação ambiental, continuam confinadas a mesas paralelas e com alcance limitado. A estrutura da COP falha em integrar essas perspectivas em discussões centrais, perpetuando a marginalização das soluções baseadas no conhecimento tradicional.
Saúde e Resiliência: A Urgência de Soluções Integradas
A mesa redonda de alto nível sobre saúde destacou os impactos alarmantes das mudanças climáticas nos sistemas de saúde globais, desde o aumento de doenças relacionadas ao calor até surtos de doenças infecciosas em regiões vulneráveis. Entretanto, a discussão revelou uma desconexão preocupante: enquanto os países mais afetados clamam por apoio financeiro e tecnológico, as economias mais ricas evitam compromissos claros com o financiamento climático. Esse padrão também esteve presente na Reunião de Alto Nível sobre Resiliência Climática, onde a ausência de metas financeiras concretas enfraquece as boas intenções apresentadas.
Fragmentação nas Soluções Regionais
A programação do dia também incluiu mesas que abordaram impactos climáticos específicos, como a preservação da criosfera e estratégias africanas para transição energética. Essas discussões reforçaram a necessidade de abordagens regionais, mas também expuseram a falta de articulação com os grandes acordos globais. A fragmentação das políticas climáticas, que muitas vezes operam em silos, limita a capacidade de implementar soluções integradas e escaláveis. O risco é claro: sem coordenação, iniciativas regionais podem se tornar esforços isolados e insuficientes para enfrentar uma crise de escala planetária.
Inovação Tecnológica: Retórica Ambiciosa, Desafios Práticos
No encerramento do dia, o compromisso global com inovação foi reafirmado em eventos como o “Global Cooling Pledge” e uma mostra de tecnologias transformadoras. Contudo, a dependência de financiamento privado e as limitações logísticas para a implementação em larga escala permanecem barreiras significativas. Enquanto soluções tecnológicas recebem grande atenção, debates mais amplos sobre justiça climática e acesso igualitário às inovações ainda ficam em segundo plano, reforçando disparidades entre países ricos e em desenvolvimento.
O Paradoxo da COP: Representatividade vs. Impacto Real
O formato da COP29, com múltiplas mesas paralelas, reflete uma tentativa de incluir diversas perspectivas, mas também evidencia um problema estrutural: a dispersão dos debates. Em vez de promover uma convergência de ideias, a dinâmica fragmentada dificulta o diálogo entre diferentes grupos e interesses. A predominância de interesses nacionais e corporativos continua sendo uma barreira para a definição de compromissos verdadeiramente globais.
Além disso, os grandes emissores de carbono permanecem no centro das decisões, enquanto países do Sul Global lutam para inserir suas demandas em uma agenda dominada por narrativas do Norte. Essa desigualdade estrutural levanta questões sobre a capacidade da COP de enfrentar a crise climática de maneira justa e eficiente.
Reflexões Finais: Um Caminho Incerto
O dia de hoje na COP29 deixou clara a amplitude dos desafios enfrentados pela governança climática global. Apesar dos avanços em discussões e diagnósticos, a falta de mecanismos concretos e coordenados para implementar ações efetivas ameaça a relevância da conferência. A COP corre o risco de se tornar um fórum onde discursos sofisticados mascaram a inação prática.
Para que a COP29 tenha impacto real, é crucial superar a fragmentação, ampliar a integração das vozes excluídas e estabelecer compromissos vinculantes que promovam justiça climática. O tempo está se esgotando, e a conferência precisa responder à altura do desafio que se apresenta: assegurar um futuro sustentável e equitativo para todos.