por Bia Aflalo

Entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, Belém se torna temporariamente a capital do Brasil e recebe pessoas de toda a parte do mundo para a trigésima edição da Conferência das Nações Unidas pelo Clima, a COP.

Ao abordar participantes da COP e perguntar sobre suas relações com a luta pela mitigação dos efeitos da crise climática, ou estratégias de adaptação e enfrentamento, a maioria terá respostas técnicas, casos de sucesso para serem compartilhados. Por outro lado, ao abordar cidadãos e curiosos da área – mesmo aqueles conscientes da importância do cuidado ambiental -, alguns revelam desconhecimento sobre algumas informações específicas, mas muito importantes, relacionadas à Conferência.

Quando ouvimos falar em COP, NDC, TFFF e UNFCCC, a sensação imediata costuma ser de distanciamento. Siglas grandes, salas restritas e frias, líderes engravatados discutindo o destino do planeta, enquanto seguimos testemunhando a água invadindo casas, os rios secando e o ar ficando cada vez mais difícil de respirar. 

Nós cuidamos do que conhecemos. Então, vamos entender o que significam as siglas mais citadas dos últimos dias?

  • ONU

A ONU, Organização das Nações Unidas, é uma instituição internacional criada em 1945 para promover a paz, e garantir os direitos humanos e o desenvolvimento das nações do mundo, as chamadas Partes. Uma seção importante da agenda climática da ONU é a UNFCCC.

  • UNFCCC

UNFCCC quer dizer, em tradução para português, Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. Essa Convenção, é um tratado elaborado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92. Neste, foram definidos compromissos e obrigações para todas as Partes (países participantes), com foco na mitigação e adaptação frente à crise climática. Em 2015, em Paris, as contribuições de cada Parte, resultantes do cumprimento de seus compromissos, ganharam o nome de NDC.

  • NDC

A Contribuição Nacionalmente Determinada é uma oficialização dos compromissos de cada Parte, incluindo metas para reduzir emissões de gases de efeito estufa e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. Essas metas são voluntárias e precisam ser atualizadas e apresentadas a cada 5 anos, mas são discutidas anualmente na COP.

  • COP

COP significa Conferência das Partes, quando os países que integram a UNFCCC, discutem seus avanços, retrocessos, desafios e possibilidades, com base em suas NDCs. 

Com o avanço das consequências desastrosas das alterações climáticas, entendendo que as nações não usufruem da mesma forma dos recursos naturais, tampouco de forma proporcional ao quanto são agressivas para o meio ambiente, e considerando que as florestas tropicais têm papel fundamental na mitigação desses danos, foi apresentado oficialmente na COP30 o TFFF.

  • TFFF

O TFFF é um projeto encabeçado pelo Brasil, e significa Fundo Florestas Tropicais para Sempre. O fundo será gerido pelo Banco Mundial e se apresenta como um modelo econômico no qual todas as Partes investirão recursos públicos, que serão redirecionados a nações que possuem florestas tropicais em seus territórios. Esses recursos serão distribuídos para organizações e projetos públicos e privados, que tenham o objetivo principal de conservar as florestas tropicais e proteger toda a sua fauna, flora e os povos que ali habitam. Ou seja: dinheiro para quem protege, financia e cuida do meio ambiente.

Mas sabemos que, na prática, recursos só se tornam justiça quando chegam aos territórios certos e às mãos que realmente preservam. E se a COP, a NDC e os fundos climáticos parecem distantes, a desinformação aproxima tudo de forma perigosa. Karen Suassuna, agrônoma e defensora das causas climáticas, foi direta em painel promovido pela Central da COP, organizada pelo Observatório do Clima, na última segunda-feira (10): “precisamos democratizar informações, mas sem esquecer da ciência”

As plataformas digitais transformaram profundamente o modo como recebemos, filtramos e compartilhamos informações. Nessa confusão, viramos alvos fáceis para discursos que negam evidências, simplificam problemas complexos ou manipulam sentimentos de medo e desesperança.

E a melhor forma de validar as informações que recebemos é escutando ativamente quem é diretamente impactado pelos extremos climáticos e desastres ambientais, ouvindo as vozes de quem vive a cruel realidade da crise climática e até trocando experiências nos mercados, nos ônibus, nos becos e nas universidades. A ciência precisa nos acompanhar, mas os nossos sentidos também.

Porque, no fim das contas, COP, UNFCCC, NDC e TFFF não são apenas siglas internacionais: são dispositivos decisivos sobre como vivemos, respiramos, nos movemos e sonhamos com um mundo que luta e resiste, apesar de tantas pressões e agressões humanas à sua atmosfera.

E se o mundo precisa de transformação cultural como parte da luta, nós devemos estar prontos para lutar juntos!