Por Laura Süssekind

Takumã Kuikuro é um cineasta de renome internacional e membro da comunidade indígena Kuikuro, que cresceu na aldeia Ipatse, localizada no território do Alto Xingu. Ele recebeu formação em cinema pelo programa “Vídeo nas Aldeias” e destacou-se globalmente por filmes como “The Day The Moon Menstruated”, “As Hiper-Mulheres” e “Kariokas”.

Sua jornada no cinema começou com a motivação de documentar a vida na aldeia. Ele acredita que, em um mundo onde a tecnologia está amplamente disponível e muitos jovens indígenas se sentem atraídos pelas novidades da sociedade não indígena, é essencial registrar e valorizar a cultura tradicional através do audiovisual. 

Os primeiros registros audiovisuais dele foram feitos com mestres cantores e narradores de sua aldeia. Para recriar as práticas tradicionais, eles se pintavam, colocavam adornos típicos e eram filmados em ambientes familiares para que estivessem o mais à vontade possível para transmitir naturalidade e autenticidade dos costumes. Esses vídeos, após a edição, eram exibidos para toda a comunidade, permitindo que a cultura tradicional fosse apreciada e preservada.

Durante a mesa de debate “Emergências: Cinema de urgência” da SEDA SP, no dia 9 de julho, ele ressaltou que o cinema indígena está crescendo e que eles ocupam um espaço que nunca ocuparam antes e que estão sendo mais ouvidos. “Urgência de documentar tudo que a gente tem, como o canto tradicional. Nós, indígenas, como protagonistas da nossa própria história, porque isso é importante pra registrar nossa história”, disse.

Ele enfatizou como as mudanças climáticas impactam as aldeias indígenas e que é essencial denunciar isso através do audiovisual. É preciso mostrar a preocupação das lideranças das comunidades e eles, que trabalham com audiovisual, agem como porta-voz da comunidade. “A câmera, uma flecha. O cinema, uma ferramenta. Lutamos através dela”, colocou. 

Em seguida, mostrou o vídeo do primeiro Festival de Cinema e Cultura Indígena, que realizou em 2022, quando reuniu diversos cineastas indígenas para atrair visibilidade e gerar troca entre todos os trabalhos, com objetivo de estimular a produção audiovisual e artística desses realizadores e filmes com essa temática. Ele se refere ao evento como um sonho que se tornou realidade.

A formação técnica de Takumã foi aprimorada pelo projeto Vídeo nas Aldeias, coordenado pelo indigenista e documentarista Vincent Carelli. Esse projeto capacita jovens cineastas indígenas, fornecendo-lhes as habilidades técnicas necessárias para produzir seus próprios filmes. Além disso, estudou no Instituto Brasileiro de Audiovisual – Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro.

Entre março e abril de 2015, participou de uma residência artística no Reino Unido. Esta resultou no filme “Londres como uma Aldeia”, exibido posteriormente nas aldeias Ipatse e Kalapalo (Alto Xingu), bem como em várias organizações no Reino Unido, incluindo a Embaixada do Brasil em Londres, a Universidade de Oxford, o Lyric Theatre e o East 15.

Em 2017, Takumã recebeu o prêmio honorário de “Bolsista da Queen Mary University London” e, em 2019, tornou-se o primeiro jurado indígena do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília. Em 2022, ele realizou o Primeiro Festival de Cinema e Cultura Indígena em Brasília, com o objetivo de estimular a produção audiovisual e artística de realizadores indígenas e filmes de temática indígena. Ele reuniu diversos cineastas indígenas para trazer essa visibilidade.

Também no ano de 2022, Takumã deu aula na oficina online “Narrativa Audiovisual: Ponto de Vista Coletivo Kuikuro de Cinema”, promovida pelo Centro Audiovisual do Museu do Índio (CAud-MI), em Goiânia. Durante a oficina, ele discutiu a importância do audiovisual como uma ferramenta para mostrar o que ocorre nas aldeias, contar histórias sob a perspectiva indígena e resgatar a cultura tradicional. 

Takumã é fundador do Coletivo Kuikuro de Cinema e presidente do Instituto da Família do Alto Xingu (IFAX). Vários de seus filmes foram premiados, como “A Febre da Mata”, que venceu o Prêmio do Público na categoria curta-metragem da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema. O curta-metragem denuncia as queimadas na Amazônia com imagens marcantes do fogo invadindo a floresta e a fuga dos animais em busca de abrigo para se protegerem.

Takumã Kuikuro vive atualmente na aldeia Ipatse, no Território Indígena Xingu (MT), e continua a usar o audiovisual como um poderoso instrumento para a preservação e valorização da cultura indígena.