Por Laura Süssekind

Cineasta estadunidense Sean Baker é destaque por seus filmes independentes que fogem dos padrões tradicionais do audiovisual. Iniciando sua carreira tardiamente, após os trinta anos, foi extremamente determinado para conquistar reconhecimento. Diretor de obras que abordam temáticas complexas sob uma perspectiva humana e sensível, tais como “Tangerine” (2015), “The Florida Project” (2017) e “Red Rocket” (2021), Baker alcança o ápice de sua carreira neste mês de maio ao ganhar o prêmio mais importante do Festival de Cannes de 2024 com “Anora” (2024).

Sobre seu mais recente longa-metragem, que retrata com humor a vida de uma jovem trabalhadora do sexo após se apaixonar por um herdeiro, filho de um oligarca russo, Greta Gerwig, renomada diretora e presidente do júri do festival, comentou: “Este filme é magnífico, está cheio de humanidade […] nos dilacerou”.

O diretor rompe com o convencional ao abordar temas polêmicos, como o trabalho sexual, o mais recorrente em suas obras, buscando desestigmatizar esse modelo de vida. Em conferência de imprensa em Cannes, Baker defendeu a descriminalização do trabalho sexual, destacando que deve ser escolha do indivíduo o modo como este faz uso de seu próprio corpo. “Eu me tornei amigo delas [trabalhadoras do sexo] e notei que havia um milhão de histórias daquele mundo. Se há uma intenção com todos esses filmes, eu diria que é contar histórias humanas, contar histórias que esperamos que sejam universais”, disse. “Está ajudando a remover o estigma que foi aplicado a essa forma de sustento, que sempre foi aplicado a esse sustento”, afirmou. Ele reconhece que o comércio sexual divide opiniões. Muitos o veem como explorador, enquanto outros o enxergam como libertador.

Em todo caso, Baker dedica-se a mostrar personagens imperfeitos que enfrentam problemas e questões mundanas. O cineasta procura explorar esses personagens da forma mais sensibilizada e humana possível, buscando despertar empatia no espectador.

Ademais, o diretor é grande defensor do cinema independente, que tem pouco espaço nos Estados Unidos, onde o próprio concluiu sua formação na NYU (Universidade de Nova Iorque). Ele acredita que um prêmio em Cannes possa impulsionar essa produção a obter um lançamento mais amplo no país do que a maioria dos filmes independentes. “Disseram ao público americano ‘só vá ao cinema para ver os grandes sucessos de bilheteria, você pode assistir a todo o resto na Netflix’… É uma loucura!”, diz Baker.

Algumas características destacam Baker nesse vasto universo do audiovisual. Ele prefere editar seus próprios filmes e busca trabalhar com novos atores, ou outros menos conhecidos, em seus projetos. Um de seus longas de maior visibilidade, que o colocou no mapa do cinema independente, “Tangerine” (2015) retrata a história de duas prostitutas transexuais e foi gravado inteiramente em um iPhone 5S.

Com sua abordagem inovadora e dedicação ao realismo e à humanidade em suas obras, Sean Baker emociona os espectadores ao contar histórias autênticas e impactantes. Vale se atentar em seus futuros projetos, agora após este novo marco tão importante em sua carreira.