Conheça Pedro Geraldo, diretore de ‘Sofia Foi’, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (19)
Elu contou sobre sua trajetória no cinema, o processo criativo por trás do longa, e seus novos projetos ligados a questões ambientais do interior paulista
Por Laura Süssekind
Pedro Geraldo é cineasta e lançará seu primeiro longa-metragem “Sofia Foi” nos cinemas, nesta quinta-feira, 19 de setembro. O filme é um impressionante exercício de composição visual. Cada escolha na montagem é bem pensada e destaca o que há de mais bonito no imaginativo do cinema: o som, o tempo; todos os elementos da composição são personagens nesta obra. Pedro tem como característica essa preocupação e toque cuidadoso com tudo que forma o audiovisual e que vai além da narrativa em si.
Elu nasceu em 1990, em Americana, São Paulo, e desde cedo, ainda no ensino médio, se aproximou do cinema, já sentindo uma forte conexão com a área. Hoje, considera o cinema parte imprescindível de sua vida e de quem é. Graduou-se em Cinema pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), e desde então, sua carreira inclui trabalhos como diretore de fotografia em diversos filmes exibidos em festivais renomados, como FIDMarseille, o Festival Internacional de Cinema de Rotterdam (IFFR) e Neighboring Scenes no Film Society of Lincoln Center.
Trabalhando com direção de fotografia, foi possível aprender muito da técnica e prática do processo de produção e direção geral, ainda com o olhar apurado da fotografia. No entanto, havia uma questão que incomodava. “Eu não me sentia representade pelos filmes que assistia. Faltava algo que eu ainda queria ver na tela.” A partir daí surgiu essa determinação para trabalhar na direção, motivada pelo desejo de ver algo novo e diferente nas telas.
Refletindo sobre os antigos projetos nos quais trabalhou e observações do cenário geral do audiovisual, elu destacou a rigidez e hierarquia nas produções e como isso contrasta com seu desejo de um processo mais calmo e sensível. Pedro busca produzir com mais calma, respeitando seu tempo e o dos parceiros de trabalho e acredita que o filme deve ser encontrado através do processo, não apenas seguindo uma lógica de produção. Para elu, o cinema é mais do que apenas contar histórias e seguir uma narrativa pré definida; é sobre texturas, sons e sensações, com o som sendo tão importante quanto a imagem. Elu afirma que, atualmente, seu cinema é mais focado em compartilhar sentimentos do que em construir uma narrativa linear.
“Sofia Foi” representa bem essa abordagem. Embora tenha sido um projeto muito pessoal, elu convidou Sofia Tomic para trabalharem juntes, acreditando que essa colaboração elevaria o filme a outro nível. Inspirade pelas palavras de Pedro Costa, que diz que “para existir um filme, basta acreditar muito na presença de alguém”, elu viu em Sofia uma presença especial que seria muito importante para o filme, que trata de uma ausência da personagem.
“Acho que meu convite para Sofia veio disso: eu acreditava muito na presença dela e na forma como ela lida com a vida e com as pessoas ao seu redor. Sempre foi um aspecto marcante dela, que se dá bem com todo mundo, se expressa de forma muito forte, uma presença muito impactante”, disse.
Elus se conheceram em um festival de cinema na USP, onde decidiram desenvolver o filme juntes, discutindo profundamente as sensações, ações e sentimentos que queriam expressar no decorrer do processo.
“Trabalhando dessa forma, conseguimos tanto ter calma no processo quanto trabalhar de forma mais íntima. Pudemos trabalhar outros elementos mais a fundo, com foco em outros aspectos além da história. Tinha muita crença no que estávamos fazendo. (…) Quando falamos que Sofia foi um abraço ou que é acolher quem está assistindo, é sobre isso: colocar muita sensação em tudo o que fazemos, colocar muito sentimento em cada plano e sequência que filmamos. Todo um processo de acreditar que isso daria certo, de não deixar a peteca cair. Estar chegando no circuito comercial é um sonho e mostra que tudo valeu a pena”, afirmou.
Elu espera que o público se sinta tocado e acolhido, e que esse tipo de cinema sensorial encontre seu espaço nas salas de cinema brasileiras, mesmo que o circuito comercial ainda seja dominado por produções mais tradicionais.
Em relação a novos projetos, Pedro acaba de lançar o curta-metragem “Círculos Crescentes”, que estreou no Festival de Marselha. O filme possui uma abordagem semelhante à de “Sofia Foi”, mas em um cenário completamente diferente, na Alemanha. Além disso, planeja filmar no interior de São Paulo, onde cresceu, focando nas paisagens paulistas e em questões ambientais envolvendo o rio Atibaia. Esse novo projeto, ainda em desenvolvimento, pretende continuar explorando as sensibilidades que marcaram seu trabalho anterior, sempre com um olhar atento para a natureza e o meio ambiente.
Seu trabalho e olhar são admiráveis e evidenciam um futuro promissor repleto de novidades para o cenário audiovisual brasileiro.