Por Ana Luiza Giraldi e Caroline Sousa, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Criado nos Países Baixos em 1956, o voleibol sentado é uma modalidade de paravôlei praticada por atletas com alguma deficiência física ou relacionada à locomoção.  Originalmente desenvolvido como um exercício de reabilitação para soldados feridos, o vôlei sentado surgiu da combinação de outros dois esportes: vôlei convencional e sitzball — modalidade alemã na qual os jogadores também ficam sentados, mas que não possui rede para dividir a quadra. 

O voleibol sentado integra competições internacionais desde 1967 e é uma das categorias de paravoleibol mais praticadas pelo mundo. Nas Paralimpíadas, a modalidade apareceu pela primeira vez em 1976, em Toronto, tendo o voleibol em pé e o voleibol sentado como eventos de exibição. Em 1978, o esporte supracitado foi reconhecido como modalidade paralímpica, sendo oficialmente inserido nos Jogos Paralímpicos em 1980, na edição sediada na cidade de Arnhem, nos Países Baixos. Desde então, integrou o quadro de esportes em todas as edições. 

É importante destacar que, até as Paralimpíadas de 2000, apenas equipes masculinas de paravoleibol — sentado e em pé —, participavam do programa. Para os Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004, houve uma mudança: a categoria feminina foi incluída e o vôlei em pé foi retirado de maneira definitiva.

No masculino, as maiores vencedoras nas Paralimpíadas são as seleções do Irã e dos Países Baixos, com sete e três títulos, respectivamente. Entre as mulheres, a China conquistou o título em três oportunidades, e os Estados Unidos, em duas.

Além dos Jogos Paralímpicos, acontecem campeonatos mundiais femininos e masculinos da modalidade desde 1993.

Voleibol sentado no Brasil

No Brasil, o esporte recebia certa atenção já na década de 90, mas ganhou força e começou a ser praticado em 2002, como resultado do trabalho desenvolvido pelo professor Ronaldo Gonçalves de Oliveira. Ainda no final desse mesmo ano, ocorreu o primeiro torneio de vôlei paralímpico no país, que contou com a participação de três equipes.

Em 2003, foi fundada a Associação Brasileira de Voleibol Paralímpico (ABVP), transformada na Confederação Brasileira de Voleibol para Deficientes (CBVD) em 2012. A CBVD — entidade responsável pela organização e desenvolvimento do voleibol adaptado para pessoas com deficiência (PcD) no Brasil — atua na coordenação e promoção de competições, eventos e programas de formação no voleibol adaptado, além de representar o voleibol para PcD no âmbito nacional e internacional. A Confederação é filiada ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e reconhecida pela World ParaVolley (WPV), entidade que regula e promove o vôlei sentado e outras categorias de paravôlei ao nível global. 

A primeira participação da Seleção Brasileira Masculina de Voleibol Sentado nos Jogos Parapan-Americanos foi em 2003. Desde então, competiu e conquistou o ouro nas quatro edições seguintes (2007, 2011, 2015 e 2019). Sua estreia nos Jogos Paralímpicos aconteceu somente em 2008, na edição de Pequim, e a melhor campanha foi a quarta colocação conquistada nas Paralimpíadas de 2016 e 2020.

A Seleção Brasileira Feminina de Voleibol Sentado fez sua estreia nos Jogos Parapan-Americanos em Guadalajara 2011 e conquistou a prata, assim como nas edições de Toronto 2015 e Lima 2019. Em Paralimpíadas, a equipe compete desde Londres 2012, ano no qual sua participação garantiu a quinta colocação. A melhor marca ocorreu nas edições do Rio 2016 e de Tóquio 2020, com a conquista do bronze. De forma inédita, as brasileiras venceram o Mundial de 2022, que ocorreu em Sarajevo, na Bósnia, e asseguraram a vaga para Paris.

Ambas as seleções iniciaram sua campanha na atual edição dos Jogos Paralímpicos. A Seleção Masculina integra o Grupo B, com a Alemanha, a Ucrânia e o Irã, sendo o favorito ao título. Com derrota nos dois primeiros jogos, não tem mais chances de avançar para a próxima fase.

No feminino, a Seleção Brasileira compõe o Grupo B, com Canadá, Eslovênia e Ruanda. As brasileiras venceram as três partidas e, em primeiro lugar do grupo, já garantiram a classificação para a semifinal.  

Em evidente evolução, hoje, o Brasil ocupa uma posição de destaque na modalidade e pode conquistar seu lugar no pódio nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. 

03.09.21 – Equipe de Vôlei Feminino durante partida entre BRA x USA nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Foto: Matsui Mikihito/CPB.

Características da modalidade

Atualmente jogado por mais de 10 mil atletas em mais de 75 países ao redor do mundo, o objetivo central do voleibol sentado é pontuar acertando a bola no chão do time adversário, enviando-a por cima da rede.

Embora compartilhe semelhanças com o vôlei convencional, o vôlei sentado possui regras específicas. A principal delas é a que estabelece que o atleta somente toque na bola enquanto estiver sentado.

Cada equipe é composta por 12 jogadores, com 6 jogadores em quadra, sendo 3 na posição de ataque e 3 na defesa, incluindo o líbero. A área de jogo deve ser retangular e simétrica, englobando tanto a quadra quanto a zona livre. 

A quadra e a rede de vôlei são menores que as do voleibol convencional. A altura da rede é de 1,15 metros para equipes masculinas e 1,05 para equipes femininas, e as dimensões da quadra são de 6 metros de largura por 10 metros de comprimento. No caso da linha de ataque, a mesma está a 2 metros atrás do eixo da linha central.

A superfície de jogo deve ser plana, horizontal e uniforme, sendo proibido jogar em superfícies escorregadias, ásperas ou que apresentem risco de lesão. A bola deve ser esférica e feita de couro flexível ou material sintético, com uma câmara em seu interior de borracha ou material similar.

Tanto o técnico quanto o capitão da equipe são responsáveis pela disciplina e conduta dos membros da equipe. Antes do início do jogo, o capitão assina a súmula e representa sua equipe no sorteio para decidir o primeiro saque e o lado de quadra durante o primeiro set. 

Durante a partida, os pontos podem ser obtidos por meio de saques, cortadas e bloqueios, sendo permitido bloquear o saque desde que os jogadores permaneçam sentados, exceto nos deslocamentos. Na contagem de pontos, o jogo é dividido em até 5 sets, e a equipe que vencer 3 sets primeiro ganha a partida.

Para vencer um set, um time deve alcançar 25 pontos, com uma diferença mínima de 2 pontos em relação ao adversário. Porém, se os times empatarem por 2 sets a 2, a partida vai para o set decisivo, conhecido como “tie break”, que termina quando uma equipe atinge 15 pontos, também com uma diferença mínima de 2 pontos.

No jogo, também existe o julgamento das faltas, que ocorre quando uma equipe executa uma ação de jogo contrária às regras. Com isso, o árbitro as julgam e determinam as penalidades conforme as regras.   

No vôlei sentado, os atletas são classificados conforme o tipo de deficiência, como amputações ou lesões na coluna vertebral. Essas classificações são categorizadas em:

AK (above knee): amputados acima ou através da articulação do joelho.

BK (below knee): amputados abaixo do joelho através ou acima da articulação tálus-calcanear.

AE (above elbow): amputados acima ou através da articulação do cotovelo.

BE (below elbow): amputados abaixo do cotovelo através ou acima da articulação do pulso.

Les autres: deficiências locomotoras.

Com base nessas classificações, os jogadores são divididos em nove classes: 

Classe A1: atletas com dupla amputação AK.

Classe A2: atletas com uma amputação AK.

Classe A3: atletas com dupla amputação BK.

Classe A4: atletas com uma amputação BK.

Classe A5: atletas com dupla amputação AE.

Classe A6: atletas com uma amputação AE.

Classe A7: atletas com dupla amputação BE.

Classe A8: atletas com uma amputação BE.

Classe A9: amputações inferiores e superiores combinadas.

Esse é um breve resumo das características principais do voleibol sentado. O restante do regulamento segue o estatuto do vôlei tradicional.

É fundamental para a modalidade paralímpica que a prática deste esporte alcance mais pessoas. A presença e o incentivo são fundamentais para o esporte transformar vidas, crescer e ser mais valorizado.  

Com informações do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Confederação Brasileira de Voleibol para Deficientes (CBVD) e World ParaVolley (WPV).