Por Yasmin Henrique, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

A Classificação Esportiva Paraolímpica (CEP) é um sistema exclusivo do Movimento Paralímpico, que determina quais atletas podem competir e como eles são agrupados nas competições. Além dessa categorização, outros critérios, como idade, peso corporal, sexo e nível de habilidade, são utilizados tanto no esporte olímpico quanto no paralímpico.

As exigências físicas variam de acordo com cada esporte, e o impacto das deficiências pode ser diferente em cada um deles. Para garantir uma classificação justa e minimizar o efeito das limitações no desempenho, é essencial que a classificação seja ajustada especificamente para cada modalidade esportiva.

Atualmente, a classificação no esporte adaptado é essencial para nivelar as condições físicas e competitivas, agrupando atletas com deficiências similares em categorias específicas. Isso permite que pessoas com diferentes tipos de deficiência compitam em condições equitativas.

A classificação avalia a capacidade funcional do atleta, sem considerar seu nível de habilidade ou treinamento. Quando um atleta compete em mais de uma modalidade, ele recebe classificações separadas para cada esporte.

PROCESSO DE CLASSIFICAÇÃO

A equipe de classificação é normalmente composta por três especialistas da saúde: um médico, um fisioterapeuta e um professor de educação física. O processo de classificação é realizado em três fases distintas: médica, funcional e técnica.

Médica

Durante a etapa médica, um exame físico é conduzido para avaliar a patologia e as limitações do atleta que impactam a função muscular necessária para movimentos específicos. Os resultados são então registrados e arquivados no banco de dados do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Funcional

Na avaliação funcional, são conduzidos testes para avaliar a força muscular, a amplitude de movimento das articulações, as dimensões dos membros e a coordenação motora, com ênfase nos músculos que o atleta emprega durante a competição.

Técnica

Por fim, na avaliação técnica, o atleta realiza a prova com as adaptações necessárias. Nesse estágio, são analisados os grupos musculares em atividade, a técnica empregada e o uso de próteses ou órteses.

Durante as competições, os classificadores continuam a observar os atletas, avaliando todos os aspectos importantes. Eles podem acompanhar o desempenho de um atleta em vários eventos para assegurar que a classificação seja precisa.

O Movimento Paralímpico proporciona oportunidades esportivas para atletas cujas principais deficiências se classificam em uma das 10 categorias de “incapacidades elegíveis”, são elas:

  • Comprometimento da potência muscular: redução da força gerada por um ou mais músculos, ou grupos musculares (ex.: paraplegia, tetraplegia, distrofia muscular, pós-poliomielite, espinha bífida).
  • Redução da amplitude de movimento passivo: diminuição sistemática da amplitude de movimento de uma ou mais articulações (exclusões incluem hipermobilidade, instabilidade articular, e condições agudas como artrite).
  • Deficiência de membros: ausência total ou parcial de ossos, ou articulações devido a trauma, doença ou deficiência congênita (ex.: amputação traumática, câncer ósseo, dismelia).
  • Diferença de comprimento das pernas: encurtamento ósseo em uma das pernas causado por deficiência congênita ou trauma.
  • Baixa estatura: altura reduzida devido a anomalias nas dimensões dos ossos dos membros ou do tronco (ex.: acondroplasia).
  • Hipertonia: aumento anormal da tensão muscular, resultando em capacidade reduzida de estender os músculos (ex.: paralisia cerebral, lesão cerebral, esclerose múltipla).
  • Ataxia: falta de coordenação dos movimentos musculares (ex.: paralisia cerebral, lesão cerebral, esclerose múltipla).
  • Atetose: movimentos involuntários e irregulares, dificuldade em manter posturas simétricas e alterações no tônus muscular (ex.: paralisia cerebral, lesão cerebral, acidente vascular cerebral).
  • Deficiência visual: comprometimento da visão devido a problemas na estrutura do olho, nervos ópticos, vias ópticas ou córtex visual do cérebro.
  • Deficiência intelectual: limitação significativa no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, manifestada antes dos 18 anos e, diagnosticada por meio de métodos internacionalmente reconhecidos (validação pela INAS, sigla em inglês para a Federação Internacional de esporte; para-atletas com deficiência intelectual).

REGRAS DE CADA ESPORTE

Cada modalidade esportiva paraolímpica estabelece quais grupos de atletas ela abrangerá, conforme descrito nas suas regras de classificação. Alguns esportes aceitam atletas com qualquer tipo de deficiência (por exemplo, atletismo e natação), enquanto outros são limitados a um tipo específico de deficiência (como Goalball e Bocha) ou a um conjunto definido de deficiências (como equitação e ciclismo).

As classificações são indicadas por uma letra, normalmente a inicial do esporte em inglês (como “S” para Swimming = natação), seguida de um número. Em geral, números menores indicam maior dificuldade, embora isso nem sempre seja verdadeiro. 

  • Futebol de Cegos: Jogadores de linha são B1 (cegos que usam viseiras). O goleiro pode ser B2 ou B3, com visão parcial.
  • Bocha: Classes BC1 a BC4, com diferentes tipos de deficiência, podendo utilizar ou não auxílio.
  • Goalball: Atletas com menos de 10% de visão; todos jogam usando máscaras opacas.
  • Tiro com Arco Paralímpico: Classes Open e W1, onde os atletas utilizam arco recurvo ou composto, com distâncias e alvos específicos.
  • Atletismo Paralímpico: Classes T/F, abrangendo deficiências variadas, como visual, intelectual e física.
  • Badmínton Paralímpico: Classes WH1 a SH6, conforme o tipo de deficiência nos membros ou tronco.
  • Canoagem Paralímpica: Classes KL1/VL1 a KL3/VL3, baseadas nos níveis de função do tronco e pernas.
  • Ciclismo Paralímpico: Classes C1 a C5, H1 a H5, T1/T2, VI, dependendo do tipo de deficiência.
  • Hipismo Paralímpico: Graus de 1 a 5, para deficiências nos membros, tronco ou visual.
  • Judô Paralímpico: Classes B1 (cegueira total) e B2/B3 (deficiência visual), organizadas por categorias de peso.
  • Halterofilismo Paralímpico: Competição dividida em categorias de peso corporal.
  • Remo Paralímpico: Classes PR1 a PR3, conforme a função do tronco e membros.
  • Natação Paralímpica: Classes S/SB/SM 1 a 14, abrangendo deficiências físicas, visuais e intelectuais.
  • Tênis de Mesa Paralímpico: Classes TT1 a 11, incluindo atletas cadeirantes, em pé, e com deficiência intelectual.
  • Taekwondo Paralímpico: Classes K43 e K44, para atletas com amputação ou perda de função nos membros superiores.
  • Triatlo Paralímpico: Classes PTWC, PTS, PTVI, de acordo com a deficiência e necessidade de equipamento.
  • Tiro Esportivo Paralímpico: Classes SH1 e SH2, baseadas na capacidade de segurar e atirar com ou sem suporte.
  • Vôlei Sentado: Classes VS1 e VS2, conforme os níveis de deficiência nos membros.
  • Basquete em Cadeira de Rodas: Atletas recebem pontuação de 1 a 4,5, com base na deficiência, com limite de 14 pontos em quadra.
  • Esgrima em Cadeira de Rodas: Categorias A e B, conforme a deficiência em membros inferiores ou tronco.
  • Rugby em Cadeira de Rodas: Atletas recebem pontuação de 0,5 a 3,5, com base na capacidade funcional, e há um limite de 8 pontos por equipe em quadra.
  • Tênis em Cadeira de Rodas: Categorias Open (para deficiências nos membros inferiores) e Quad (para deficiências nos membros inferiores e superiores).

Para uma visão detalhada da classificação em cada modalidade dos Jogos Paralímpicos de 2024, consulte o site oficial.

Devido à evolução de cada um em certas deficiências e ao seu impacto em diferentes atividades, os atletas podem passar por múltiplas classificações ao longo de suas carreiras. 

Caso haja uma mudança no estado de saúde do atleta, é essencial informar a alteração e solicitar uma reavaliação aos órgãos responsáveis.