Por Laura Süssekind

Lucas Limeira se apaixonou pelo teatro na infância durante um passeio de escola para assistir “O Pequeno Príncipe”, do grupo Alumiar, aos 11 anos. O impacto foi tão intenso, que imediatamente buscou ingressar num curso de atuação. “Era um espetáculo que ocupava todos os espaços do teatro para além do palco. Ocupava plateia, corredores com artistas em perna de pau. Cheguei em casa implorando à minha mãe pra fazer um curso de teatro. Ela foi atrás (…) e quando eu cheguei no primeiro dia de aula, para minha surpresa, os professores eram os atores do espetáculo que eu havia ido (Socorro Machado e Guto Machado). Eu fiquei extasiado”, conta.

Poucos anos depois, já como parte do grupo Alumiar, convidado por seu professor, ele estreou em “O Mágico de Oz” e protagonizou peças como “Zeca e o Mundo”. Como muitos jovens, no entanto, Lucas sentiu a pressão familiar para seguir uma carreira mais tradicional, e chegou a cursar dois anos de engenharia. Mas a tristeza e a ansiedade o levaram a abandonar o curso. Em 2016, teve uma conversa difícil com o pai sobre seus reais sonhos e sua sexualidade e, ao assumir sua verdade, decidiu mudar a trajetória e se dedicar ao que realmente o fazia feliz: o teatro.

“Se você me perguntar o cenário ideal da minha vida, eu só consigo imaginar eu atuando”, afirma. Entrou então na Universidade Federal do Ceará e mergulhou nos estudos artísticos, onde foi extremamente feliz.

No entanto, Lucas ainda sentia muita insegurança em relação à sua carreira. “Os professores da universidade diziam que eu tinha perfil de audiovisual, mas eu falava que não queria. Eu pensava que as pessoas não iam querer ir ao cinema ver um menino negro que nem eu, eu acreditava que eu não era o corpo ideal para estar no cinema”, conta.

Foi com a oportunidade de participar do curta-metragem “Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno”, que ele começou a quebrar essa barreira, mesmo que inicialmente o processo tenha sido muito difícil.

“Eu não conseguia me assistir. Eu tinha uma resistência em me ver… Era o racismo entranhado. Esse filme rodou festivais e eu fui convidado pra muitos debates, o público recebeu muito bem e eu fui me sentindo cada vez mais à vontade dentro de mim, dentro do corpo que eu ocupo”, confessa.

Em 2018, ele protagonizou “Cabeça de Nêgo”, um filme que marcou sua carreira, mostrando que era sim possível trilhar um caminho no cinema sem abandonar sua cidade natal, Fortaleza. Para Lucas, atuar no Ceará, longe do eixo Rio-São Paulo, é um desafio, mas essencial, pois possui muito orgulho e amor pelo cinema cearense.

Com “Estranho Caminho”, seu mais recente trabalho, o sonho de Lucas de ser ator tomou dimensão internacional. “Foi muito importante para ver meu sonho de ser ator acontecendo e tendo continuidade. Um menino que achou que ninguém ia querer vê-lo, que não poderia estar na tela de cinema, vê Brandon Fraiser se emocionar com o filme em que ele é o protagonista”, conta.

Ele afirma ainda o quanto são especiais as pessoas que cruzam seu caminho ao longo da trajetória: “O cinema também é essa arte de encontros, encontros com lugares que você sonhou e com pessoas que você admira, como foi meu encontro com Carlos Francisco”.

Em seguida, o reconhecimento veio com o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Guarnicê, por sua atuação em “Quando Eu Me Encontrar” (2024), que significou tanto para consolidar sua compreensão de que tudo valeu a pena. Seu mais recente trabalho, “Estranho Caminho”, estreou dia primeiro de agosto nos cinemas brasileiros.

“É muito lindo tudo o que está acontecendo. Muito lindo. Sou muito grato e toda essa gratidão é minha força pra continuar me movimentando e mantendo esse sonho vivo”, conclui.