Por André Borghi e Mayhan Araujo

O mundo dos esportes, historicamente, sempre foi ocupado majoritariamente por homens, devido ao machismo enraizado na sociedade desde os séculos passados. Por muito tempo, grande parte da sociedade considerava que as mulheres não podiam jogar futebol, andar de skate, jogar basquete ou praticar esportes que exigiam muito contato físico. Apesar disso, nas últimas décadas, as mulheres têm ultrapassado as barreiras patriarcais e ocupado esses espaços que um dia lhes foram negados.

A seguir, vamos relembrar mulheres brasileiras que superaram os preconceitos e fizeram história no mundo esportivo:

Marta

Foto: getty images

Marta Vieira da Silva é considerada a rainha do futebol. Nascida em Alagoas, foi eleita seis vezes como a melhor jogadora do mundo pela FIFA. Foram cinco conquistas consecutivas, de 2006 a 2010, e a sexta em 2018. Além disso, Marta alcançou o recorde de maior artilheira de Copas do Mundo, superando o alemão Miroslav Klose, com seu 17° gol em mundiais marcado contra a Itália em 2019. Também é a primeira atleta a marcar gols em cinco edições diferentes da Copa do Mundo. A primeira participação dela na competição foi aos 17 anos, em 2003 (três gols), depois foi convocada para as edições de 2007 (sete gols), 2011 (quatro gols), 2015 (um gol) e 2019 (dois gols). No início de 2024, Marta se tornou a primeira jogadora ainda em atividade a ser imortalizada pela FIFA. Em cerimônia do The Best, foi anunciado que a rainha do futebol dará o nome ao prêmio de gol mais bonito do mundo do futebol feminino, assim como o Puskás.

Rayssa Leal

Foto: Wander Roberto/COB

Rayssa Leal é uma jovem skatista nascida no Maranhão e que, com apenas 11 anos de idade, se tornou a pessoa mais jovem a vencer uma final do Mundial de Skate Street feminino. Com esse feito histórico, ela superou a número um mundial, Pamela Rosa. Sua história começou no skate quando tinha 7 anos de idade, em 2015, após ficar conhecida na internet por viralizar seu vídeo executando manobras de skate vestida de fada. Nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, realizados em Tóquio, em sua primeira participação no evento, conquistou medalha de prata, se tornando a mais jovem medalhista olímpica brasileira. Em 2022, competiu no X-Games, no Japão, e foi campeã pela primeira vez da competição, aos 14 anos de idade. Também foi campeã dos Jogos Pan-Americanos de 2023, disputados em Santiago, no Chile, na primeira vez em que o skate fez parte do evento.

Daiane dos Santos

Foto: Uol

Em 2003, Daiane Garcia dos Santos fez história pelo esporte no Brasil e no mundo, quando se tornou a primeira campeã mundial da ginástica artística brasileira. A porto-alegrense participou de três Olimpíadas (2004, 2008 e 2012) e, dentre as suas conquistas, a ex-ginasta criou dois movimentos que levam o seu nome até hoje: o duplo twist carpado (Dos Santos I) e o duplo twist esticado (Dos Santos II). Daiane soma duas medalhas de prata e três de ouro nos Jogos Pan-Americanos Winnipeg (1999), Santo Domingo (2003) e Rio (2007). Quando se aposentou do esporte, ela foi convidada para ser embaixadora da ONU Mulheres. Hoje, a campeã mundial atua como comentarista esportiva e palestrante motivacional.

Rebeca Andrade

Foto: Laurence Griffiths/Getty Images

Rebeca Andrade possui 24 anos e já é considerada uma das maiores ginastas brasileiras da história. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que seriam em 2020 mas ocorreram em 2021 por conta da pandemia de Covid-19, Rebeca realizou um feito histórico ao conquistar uma medalha inédita da ginástica feminina para o Brasil: foi medalhista de prata na disputa individual geral. Além disso, garantiu a medalha de ouro na disputa de salto, tornando-se a primeira mulher ginasta campeã olímpica do Brasil e a primeira atleta brasileira a conquistar duas medalhas na mesma Olimpíada. Não o bastante, ainda em 2021, no Mundial realizado em Kitakyushu, também no Japão, Rebeca mais uma vez fez história ao ser a primeira brasileira conquistar mais de uma medalha em um campeonato mundial de ginástica artística, após se tornar medalhista de ouro no salto e de prata nas assimétricas. Também foi campeã mundial individual geral de 2022 e integrou a equipe brasileira que conquistou a primeira medalha na categoria por equipes para o país em campeonatos mundiais, com uma prata.

Hortência

Foto: Divulgação/CBB

Considerada por muitos a maior jogadora brasileira de basquete da história, Hortência de Fátima Marcari nasceu em Potirendaba, interior de São Paulo. Titular da seleção brasileira desde os 16 anos, ela detém o recorde de maior pontuadora da história do Brasil, com 3.160 pontos marcados em 127 partidas oficiais (uma média de 24,9 pontos por partida), além de ter disputado cinco mundiais da Federação Internacional de Basquete. A ala ainda conquistou medalha nas olimpíadas de Atlanta (1996), nos Jogos Pan-Americanos de Caracas (1983), Indianápolis (1987) e Havana (1991), e foi campeã mundial em 1994, na Austrália. Essas conquistas renderam a Hortência o convite para fazer parte do Hall da Fama do Basquetebol Feminino, dos Estados Unidos, em 2002, e do Naismith Memorial Basketball Hall of Fame, em 2005.

Magic Paula

Foto: Getty Images

Também apontada como uma das melhores jogadoras de basquete da história, Maria Paula Gonçalves da Silva, mais conhecida como Magic Paula, praticava esporte desde pequena, no município de Osvaldo Cruz, interior de São Paulo. Paula se apaixonou pelo basquete aos 8 anos, quando viu a sua professora brincando com uma bola e tornou-se medalhista nos Jogos Pan-Americanos de Caracas (1983), Indianápolis (1987) e Havana (1991), nos Jogos Olímpicos de 1996 e campeã mundial em 1994. Por clubes, a atleta acumula oito Campeonatos Paulistas, quatro Taças Brasil, dois Campeonatos Pan-Americanos e um Campeonato Mundial, e suas atuações renderam-lhe o apelido de “Magic Paula”, dado pelo jornalista esportivo Juarez Araújo. O adeus às quadras veio em 2000, quando atuava pelo BCN-Osasco, mas os feitos e conquistas são eternos.

Maria Esther Bueno

Maria Esther Bueno foi a maior tenista brasileira da história. Aos 19 anos, na temporada de 1960, se tornou a primeira mulher a conquistar todos os títulos de duplas dos torneios Grand Slam em um mesmo ano. Ao longo de sua carreira, a tenista disputou 120 finais em torneios de simples, conquistando 65 títulos e 55 vice-campeonatos. Além disso, a atleta foi vitoriosa também jogando em duplas com 90 títulos e 47 vices. Pelas duplas mistas, mais 15 troféus, totalizando impressionantes 170 títulos. A brasileira terminou as temporadas de 1959, 1964 e 1966 como primeira no ranking mundial, fazendo história mais uma vez e eternizando seu nome no tênis. Maria Esther Bueno faleceu aos 78 anos em 2018, vítima de um câncer na boca.

Beatriz Ferreira

Foto: Luis Robayo/AFP

Natural de Salvador, Bahia, Beatriz Iasmin Soares Ferreira é uma boxeadora brasileira filha do boxeador bicampeão Raimundo Oliveira Ferreira, conhecido como Sergipe. Durante as Olimpíadas Rio 2016, participou do projeto Vivência Olímpica, que levou jovens atletas para o dia a dia dos atletas olímpicos. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio (2020), a atleta baiana ganhou prata, medalha que se juntou aos seus títulos de campeã dos Jogos Sul-Americanos Cochabamba (2018), Jogos Pan-Americanos de Lima (2019) e campeã mundial da Rússia (2019). Em 2024, Beatriz Ferreira busca o ouro nos Jogos de Paris, depois de ter terminado 2023 invicta, com duas vitórias em duas lutas profissionais.

Maria Lenk

Foto: MDE/Divulgação

Maria Emma Hulga Lenk Zigler foi a principal nadadora brasileira, tendo sido a primeira a estabelecer um recorde mundial no esporte. No início dos anos 1930, as mulheres, sobretudo as brasileiras, enfrentaram muitas dificuldades para a prática de esportes. Mas foi contrariando os números que, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1932), aos 17 anos, a paulistana entrou para a história após se tornar a primeira mulher sul-americana a participar de uma Olimpíada. Além de diversas medalhas conquistadas, Maria também se destacou na “Travessia de São Paulo a Nado”, uma prova com percurso de 5,5km, entre a Ponte da Vila Maria e o Clube Espéria, na zona norte de São Paulo, com quatro títulos, de 1932 a 1935. Em 2000, Maria Lenk disputou, na Alemanha, o Campeonato Mundial de Natação, em uma categoria especial para atletas entre 85 e 90 anos, e conquistou cinco medalhas de ouro. Infelizmente, faleceu em 2007, mas, em 2022, a partir de lei sancionada, ela foi declarada a Patrona da Natação Brasileira.

 

Como pudemos observar, muitas mulheres fizeram história nos mais variados esportes, mesmo com os obstáculos impostos pelo machismo ao longo das suas trajetórias. Relembramos a história de nove delas, mas existem com certeza muitas outras marcantes, que desempenharam um importante papel no mundo dos esportes. É importante que todas elas sejam eternizadas na memória da população brasileira e do mundo, para que inspirem as mulheres das futuras gerações a seguir carreira como atleta e ocuparem todos os espaços.