Por Laura Süssekind

O Brasil está alinhado com o resto do mundo no interesse dos K-dramas, que explodiram em vários países. Mesmo assim, a presença de atores e atrizes asiáticos no audiovisual brasileiro ainda é muito limitada. Gabi Yoon, uma “Korean girl from Brazil” (Garota coreana do Brasil), está desafiando essa realidade, sendo uma das poucas artistas asiáticas a conquistar um espaço significativo na TV nacional.

Nascida em uma família coreana, Gabi traz consigo a cultura de sua origem, da qual tem muito orgulho, mas no entanto possui alma totalmente brasileira. Além disso, tem admirável versatilidade como artista, já que além de atriz, também é cantora, compositora e dançarina. Sua atuação como Kelly no sitcom “Tem que Suar,” marca sua estreia em um papel principal, onde contracena com nomes consagrados como Marcelo Serrado e Heloísa Périssé. O gênero da comédia não dá espaço para muitos artistas asiáticos, enfatizando ainda mais a importância desse marco na carreira da Gabi.

Apesar das conquistas, ela não deixa de refletir sobre os desafios que enfrenta, mas questiona sempre o que sua presença representa para outras pessoas asiáticas no Brasil: “Ainda sou uma das pouquíssimas pessoas amarelas que está no audiovisual brasileiro. Muitos artistas amarelos sonham por esta oportunidade e já até desistiram. Eu já pensei em desistir. Agora me questiono: quem eu, como Gabi Yoon, represento?”

Sobre o recém-lançado seriado no Multishow, Gabi destaca que a equipe de “Tem que Suar 2” se preocupa em evitar estereótipos e dá à sua personagem uma profundidade que vai além desses padrões comumente associados aos asiáticos, destacando outras qualidades e atributos dela: “Estamos melhorando a nossa representatividade, mas ainda há muito espaço ainda para ser conquistado. Desejo que as pessoas amarelas possam aceitar, abraçar e ter orgulho da sua raiz, sem medo de ser estereotipado”, diz.

Gabi já teve diversas conquistas importantes em sua carreira, como quando foi a voz de Ji-Young, a primeira personagem asiática no “Vila Sésamo” no Brasil – um marco para a representatividade na TV infantil. Além disso, sua presença em filmes como “7 Prisioneiros” e “Mar de Dentro” reforçou seu talento como atriz no cinema. Já como cantora, conquistou 76 jurados com sua participação no programa “Canta Comigo”.

A atriz e cantora se dedica em abrir portas para novos talentos asiáticos e busca fortalecer e ampliar o espaço para a presença desses artistas. Entretanto, Gabi reforça que sua identidade vai além de sua herança cultural e questiona a ideia estereotipada de que poderia trabalhar somente em determinados papeis. “Quero mostrar minhas habilidades além do idioma ou o fato de ser K-girl, sem que a minha raíz – que amo, considero como boas qualidades de mim – “achatar” ou estereotipar a minha carreira.”

O Brasil, apesar de estar abraçando mais do conteúdo asiático, ainda segue muito atrasado e limitado em relação a outros lugares do mundo no espaço dado aos artistas para projetos brasileiros. “Lá fora vemos mais asiáticos assumindo o elenco principal, o protagonismo, representando personagens de diferentes gêneros e características. Antigamente eles estavam mais associados a personagens de luta, Samurais, por exemplo, e em pequenas participações. Seja, negro, branco, asiático, nada impede o ator de representar qualquer papel”, aponta Gabi.

Gabi Yoon tem sua trajetória marcada por muito talento e perseverança, e abre novos caminhos no audiovisual brasileiro com suas conquistas e carreira promissora. Sua dedicação em reforçar a presença de rostos asiáticos na TV e desafiar os estereótipos mostra que seu compromisso com a arte está intercalado à importante contribuição para um futuro onde todas as culturas e origens possam ser celebradas no cinema brasileiro.