Por Laura Süssekind

Premiada por Melhor Direção do filme “Vão das Almas” no Festival de Vitória de 2024, Edileuza Penha de Souza é uma figura de muita força no cinema brasileiro. Sua trajetória é marcada por sua dedicação à educação, à cultura afro-brasileira e à visibilidade de narrativas negras no cinema, em especial através de documentários e curtas-metragens.

Edileuza nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e cresceu na Grande Vitória. Seus estudos foram variados e aprofundados, marcados por sua dedicação. Formou-se em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), seguido de um mestrado em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e obteve seu doutorado em Educação pela Universidade de Brasília (UnB) com a tese “Cinema na Panela de Barro: Mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade”. Além disso, realizou um pós-doutorado em Comunicação pela mesma universidade.

Edileuza também se especializou em documentário na Escuela Internacional de Cine y Television de San Antonio de los Baños (EICTV/Cuba) e, durante sua estadia em Cuba, participou como roteirista e diretora de várias produções, incluindo o curta-metragem premiado “Teresa” em 2014, uma co-produção entre Brasil, Cuba, México e Venezuela.

Após se formar em História, Edileuza começou sua carreira como professora da educação básica em áreas periféricas, onde a maioria de seus alunos eram negros. Ela aproveitou essa experiência para abordar questões raciais através do cinema, promovendo a visibilidade negra e a conscientização sobre a importância da identidade cultural.

Em 2006, Edileuza foi convidada pelo Ministério da Educação para trabalhar na implementação da Lei Federal nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira na educação básica, o que a fez se mudar para Brasília, onde se tornou pesquisadora e professora na Universidade de Brasília. Desde então, também desenvolve pesquisas na área de cinema, gênero e raça. Trabalha com Educação atuando nos temas de educação escolar quilombola, arte e cinema africano e diaspórico e cinema e cineastas negras.

Edileuza Penha de Souza tem se destacado no campo do audiovisual. Suas obras incluem “Teresa” (2014), um curta-metragem premiado que recebeu reconhecimento em diversos festivais internacionais; “Mulheres de Barro” (2014), um documentário que destaca a vida de doze mulheres paneleiras de Goiabeiras Velhas, Espírito Santo, e ganhou o prêmio de melhor montagem no Festival de Avanca, Portugal; “Filhas de Lavadeiras” (2019), também documentário baseado na obra de Maria Helena Vargas, explorando a vida de mulheres cujas mães eram lavadeiras e premiado na 25ª edição do É Tudo Verdade e pelo Canal Brasil em 2021. Por fim, “Vão das Almas” (2023), seu trabalho mais recente, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Vitória.

Além de sua produção cinematográfica, Edileuza também é uma curadora ativa. Ela idealizou e coordenou a Mostra Competitiva de Cineastas e Produtoras Negras Adélia Sampaio e tem sido curadora em festivais como o Festival de Cinema do Paranoá (DF) e a Mostra de Cinema da Cova, em Lisboa.

Na Universidade de Brasília, Edileuza leciona disciplinas como Pensamento Negro Contemporâneo (PNC) e Etnologia Visual do Negro no Cinema (ETNOVIS) e também atua no Instituto Federal de Brasília (Recanto das Emas), promovendo a formação de professores e a educação das relações étnico-raciais.

Em entrevista ao Século Diário, em 2020, ela contou sua visão para o cinema: “Sou uma mulher negra, filha de lavadeira, que gosta muito de cinema e acredita que o cinema é uma arma que nós negros sabemos usar, uma ferramenta para novos olhares, para permitir a nossas crianças e adolescentes sonhar que outro mundo é possível, mais fraterno e igualitário e sem racismo.”

A trajetória de Edileuza Penha de Souza é uma inspiração e evidencia como o cinema e a educação são poderosas ferramentas de transformação social e cultural.