Por Giovanna Moreira, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Cindy Ngamba, atleta de 25 anos e porta-bandeira da Equipe Olímpica de Refugiados, fez história ao conquistar a primeira medalha de bronze para a equipe nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Competindo na categoria 75 kg de boxe, Cindy chegou às semifinais, onde foi derrotada pela panamenha Atheyna Bylon. Embora não tenha avançado à final, Cindy garantiu o bronze, já que no boxe olímpico ambas as semifinalistas derrotadas recebem a medalha de terceiro lugar. Ela se destacou ao longo da competição, vencendo três lutas, e sendo considerada uma das principais esperanças de pódio da equipe de refugiados.

Após garantir sua vaga nas semifinais, Cindy enviou uma mensagem inspiradora: 

“Eu quero dizer para todos os refugiados do mundo que continuem se esforçando e trabalhando duro. Vocês podem conquistar tudo.”

Essa vitória não só representa um marco para a Equipe Olímpica de Refugiados, mas também é um testemunho de sua resiliência e determinação em face de adversidades.

A Jornada de Cindy Ngamba: Lutando Dentro e Fora do Ringue

Nascida em Camarões, Cindy Ngamba foi forçada a fugir para o Reino Unido aos 11 anos devido à perseguição por sua orientação sexual. Em Camarões, a homossexualidade é criminalizada, com penas que variam de seis meses a cinco anos de prisão, além de multas. Cindy e seu irmão enfrentaram a deportação em Londres, e ela passou um tempo em um centro de detenção. Mesmo sendo tricampeã em diferentes categorias do boxe britânico, Cindy não possui cidadania britânica e, apenas em 2021, foi oficialmente reconhecida como refugiada pela ONU.

Sua trajetória no boxe começou aos 15 anos, quando começou a treinar em um clube juvenil no Reino Unido, muitas vezes enfrentando meninos por falta de outras garotas na modalidade. Sua dedicação logo a levou a ganhar seu primeiro título em 2019. Em 2021, Cindy recebeu uma bolsa atleta da Equipe Olímpica de Refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI), o que lhe permitiu realizar o sonho de competir nos Jogos Olímpicos.

foto: Ariane Cubillos – AP

Apesar de treinar com o time de boxe britânico, Cindy compete pela Equipe de Refugiados, pois não pode representar Camarões nem o Reino Unido. Ela descreve sua relação com a equipe britânica como acolhedora e solidária, mesmo sem ter a cidadania do país.

Equipe dos Refugiados 

Criada para as Olimpíadas do Rio 2016, a Equipe Olímpica de Refugiados foi uma resposta do COI à crise global de refugiados, oferecendo a atletas deslocados uma chance de competir no maior palco esportivo do mundo. Em Paris 2024, a equipe contou com sua maior delegação até o momento, com 37 atletas. O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, destacou a equipe como “um símbolo de inclusão, igualdade e uma conquista para a comunidade refugiada em todo o planeta”. Além disso, em Paris, a equipe competiu sob a bandeira olímpica, representando a união e a solidariedade global.

Cindy Ngamba, como a primeira medalhista de bronze da equipe, personifica a resiliência e a esperança dos milhões de refugiados ao redor do mundo, mostrando que, mesmo diante das maiores adversidades, é possível alcançar grandes conquistas.

Foto: Divulgação/IOC