Por Manu Azevedo para cobertura colaborativa da NEC em Paris 2024

Através de simples análises, é possível constatar que as modalidades esportivas sempre estiveram inseridas nas sociedades desde o início da humanidade. A corrida, por exemplo, vem do próprio movimento do homem, da caça por alimentos, da fuga de predadores, e coincidentemente hoje ocupa uma das categorias do atletismo – esporte esse que foi criado em meados da Grécia Antiga. Tal qual a política, que também sempre esteve entrelaçada aos indivíduos e foi elaborada como forma de auxílio em conflitos sociais.

A junção das duas criações humanas não teve hora marcada ou dia certo, ambas caminham lado a lado desde os primórdios e vai muito além do que pensam. O esporte em si pode ser considerado uma expressão política e a conectividade entre os temas ainda aumenta quando os jogos olímpicos aparecem.

De forma resumida, em 1894, Pierre de Coubertin (1863-1937), reacendeu a ideia das competições após conhecer as ruínas de Olímpia, em pouco tempo o Comitê Olímpico Internacional (COI) foi criado. Dois anos depois, na cidade de Atenas, reunindo 14 países e 241 homens (mulheres ainda eram proibidas de participar) aconteceu a primeira edição dos jogos olímpicos da Era Moderna. O primeiro feito sociopolítico aconteceu na competição seguinte, em 1900, contou com a participação feminina e se tornou um marco na história esportiva.

Política vs Olimpíada

Em mais de cem anos de exibição, os jogos olímpicos não foram realizados apenas três vezes por problemas diretamente ligados à geopolítica: em 1916, na Primeira Guerra Mundial; e nos anos de 1940 e 1944, relacionados à Segunda Guerra Mundial. A não realização do evento também garante indiretamente uma manifestação política, visto que os conflitos geraram tensões entre Estados e violaram condutas de ética.

Nos jogos de 1956, o confronto entre a União Soviética e a Hungria no polo aquático masculino foi marcado por muita luta e ficou conhecido como “Piscina de Sangue”. O contexto histórico explica que, pouco tempo antes, a URSS havia invadido Budapeste, a capital da Hungria.

Na Cidade do México, em 1968, os medalhistas Tommie Smith e John Carlos, subiram ao pódio e protagonizaram uma cena extremamente emocionante na luta contra a desigualdade social. Os dois atletas cerraram o punho em alusão ao símbolo característico dos Panteras Negras como forma de protesto por direitos civis.

Boicotes a competição, como foi o caso dos jogos de Moscou e os de Los Angeles são tidos como atos sociopolíticos. Em 1980, os Estados Unidos lideraram a petição e alguns países também ficaram de fora. A revanche da União Soviética aconteceu na edição seguinte e foi seguida por outros territórios que faziam parte da chamada Cortina de Ferro.

No centenário, em 1996, muito se discutia sobre a realização da competição voltar para a cidade de Atenas, mas ao que tudo indica existiu um tipo de suborno e o evento foi realizado em Atlanta. Neste mesmo ano, também marca a primeira participação da Rússia como um país independente, onde competiu com a sua própria bandeira.

Em Pequim, na China, os jogos de 2008 contaram com auxílio policial e proteção, já que na mesma época aconteciam as manifestações realizadas na região do Tibete, em protesto contra o domínio chinês. Vale ressaltar que o exército da China também censurou veículos de comunicação e emissoras de TV que tentaram noticiar atualizações sobre o Tibete.

As incontáveis manifestações que aconteceram e acontecem só reforçam a relação do esporte e da política, proporcionando visibilidade a minorias e destacando problemáticas importantes. Olimpíada também é política.