Por Naiana Gaby

Dez personalidades femininas foram homenageadas com estátuas douradas durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, nesta sexta-feira (26). O momento emocionante foi ritmado pelo hino francês, cantado por um coro de 34 mulheres e liderado pela cantora Axelle Saint-Cirel.  Às margens do Rio Sena, o público pode acompanhar as estátuas emergirem das águas, tornando a cerimônia ainda mais histórica. 

O objetivo da apresentação, segundo os organizadores, era dar ainda mais destaque a essas mulheres que mudaram a história mundial, enfrentando uma sociedade culturalmente machista. Thomas Jolly, diretor artístico da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, quis tornar essas mulheres literalmente visíveis. As estátuas flutuantes serão deixadas em Paris, como uma herança para a cidade. Atualmente a capital francesa conta com 260 estátuas homenageando homens e somente 40 quarenta são de mulheres. A partir de agora, esse número sobe para 50. 

Da Idade Média à Contemporânea, as mulheres francesas tiveram uma grande influência na conquista de direitos femininos. A luta pela igualdade de gênero, emancipação e direito básicos das mulheres são algumas das pautas que as homenageadas lutaram durante muito tempo. E, na edição marcada pela equidade de gênero, essa homenagem faz ainda mais sentido. 

Conheça abaixo um pouco sobre cada uma das homenageadas: 

Simone de Beauvoir 

Simone de Beauvoir. Crédito: Henri Cartier Bresson 

Foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social.  De Beauvoir escreveu romances, contos, ensaios, biografias, autobiografias e monografias sobre filosofia e questões sociais. Ficou muito conhecida pela obra O Segundo Sexo, de 1949, onde escreve em detalhes a opressão sofrida pelas mulheres em uma sociedade patriarcal. Simone é uma voz presente e importante para o feminismo contemporâneo até os dias de hoje. 

Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze

Crédito: Retrato do século 18 por Alexandre Kucharski 

Foi uma dramaturga, ativista política, feminista e abolicionista francesa com uma enorme atuação durante a Revolução Francesa. Defensora da democracia e dos direitos das mulheres, Olympe escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã em 1791, documento onde apresentou reivindicações e a participação feminina na Revolução Francesa. 

Alice Milliat 

Crédito:Photo extraite du livre Alice Milliat, la pasionaria du sport féminin, d’André Drevon, éditions Vuibert

Pioneira do esporte feminino, ajudou na inclusão de mulheres nos Jogos Olímpicos. Fundou em 1912 a Federação Francesa de Esportes Femininos. Em 1922, depois de muitas tentativas de incluir atletas mulheres em Olimpíadas, criou o Jogos das Mulheres em Mônaco, reunindo delegações da França, Inglaterra, Itália, Noruega e Suécia.

Gisèle Halimi 

Crédito: Louis Monier via Getty Images

Advogada, ativista e ensaísta franco-tunisina, fundou em 1971 o grupo feminista Choisir la cause des femmes (Escolhendo a causa das mulheres, em tradução livre), para proteger mulheres que haviam assinado o Manifesto das 343, documento em que mulheres admitiam ter feito um aborto. No ano seguinte, a organização cresceu e realizou uma campanha para conseguir a aprovação de uma lei que autorizasse a contracepção e o aborto legal. Lotou a vida toda pela ampliação de vários direitos das mulheres e também combateu a tortura e o colonialismo. 

Paulette Nardal

Crédito: Le Monde

Mulher preta, escritora, jornalista e uma das grandes impulsionadoras do desenvolvimento da consciência literária negra. Foi uma das autoras envolvidas na criação do gênero Negritude. Além de sua escrita, Nardal e suas irmãs fundaram o salão literário Le Salon de Clamart, que reunia intelectuais negros da África, do Caribe e dos Estados Unidos para compartilhar experiências. Em 1920, foi a primeira mulher negra a ingressar em Sorbonne, a mais tradicional universidade francesa.

Jeanne Barret 

Crédito: France Revisited

Foi membro da expedição de Louis Antonie de Bougainville em embarcações francesas entre 1766 e 1769. É reconhecida por ser a primeira mulher a navegar pelo globo. Barret entrou na expedição após se disfarçar de homem, usando o nome de Jean Barret.

Christine de Pizan 

Crédito: Jaine Toth

Poetisa e filósofa italiana que viveu na França durante a primeira metade do século XV. Já nessa época, criticava a misoginia presente no meio literário, predominantemente masculino, e passou a defender o papel da mulher na sociedade. É considerada como uma das precursoras do feminismo moderno e, dentro desse tema, suas obras mais conhecidas são: O Livro da Cidade de Senhoras e o Livro das Três Virtudes.

Louise Michel

Crédito: MST (Reprodução)

Louise era professora, poetisa, enfermeira e escritora. Foi uma mulher anarquista durante a Comuna de Paris, na qual foi uma das maiores e mais importantes membras e apoiadoras do movimento. Na Comuna, participou na linha de frente das barricadas e também em funções de apoio até ser capturada e deportada. Aos 26 anos já era considerada um grande nome na literatura francesa, suas obras giravam em torno de temas como política e educação, com foco nos movimentos sociais revolucionários.

Alice Guy

Crédito: Veja SP

Pioneira do cinema francês, foi a primeira cineasta e roteirista de filmes ficcionais. Alice dirigiu mais de mil filmes durante os 20 anos de carreira, administrou seu próprio estúdio e serviu de inspiração para outras mulheres iniciarem suas carreiras. A cineasta foi a responsável por encabeçar a primeira produção do mundo com uma narrativa cinematográfica: La Fée aux Choux (A Fada do Repolho), feito por volta de 1896 sendo baseado num antigo conto francês. 

Simone Viel

Crédito: Philippe Wojazer/Reuters 

Simone Viel foi uma mulher que sobreviveu ao Holocausto e se tornou uma figura importante dentro da política francesa. Virou referência do feminismo após se tornar Ministra da Saúde em 1974 e defender e instituir a descriminalização do aborto por meio da “Lei Veil”, e por lutar pela melhoria de vida das mulheres. Foi a primeira mulher a presidir o Parlamento Europeu e foi membro do Conselho Constitucional da França.

A luta pelos direitos das mulheres está longe de acabar. Ainda há um longo caminho pela frente, mas reconhecer os avanços também faz parte da história. Combater a sociedade patriarcal/machista, tão enraizado socialmente, é uma tarefa difícil, cansativa e constante. Foi, e sempre será, importante lembrar o nome das que foram responsáveis por grandes mudanças, especialmente em um momento tão grandioso como esse. 

Que bom que essas mulheres não foram esquecidas. Jamais serão.