Por Ruan Nascimento para cobertura colaborativa do NINJA Esporte Clube

A função de porta-bandeira em é a de maior destaque para qualquer atleta que vai desfilar na abertura dos Jogos Olímpicos. Em Paris, para quatro delegações, é uma tarefa fácil de ser escolhida, pois Belize, Somália, Nauru e Liechtenstein estarão nestas Olimpíadas com apenas uma pessoa competidora. Porém, para a maioria das nações, a escolha destes representantes é mais desafiadora, por permitir que apenas duas pessoas carreguem a bandeira do seu país. Porém há uma condição: que o desfile não atrapalhe sua disputa nas competições, que já se iniciam oficialmente no dia seguinte. Também temos o fato dessas duas pessoas demonstrarem histórias significativas, com conquistas individuais ou coletivas. 

É o caso de Isaquias Queiroz, que será um dos responsáveis por levar a bandeira do Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, nesta sexta-feira (26), às 14h, junto à Raquel Kochhann, cuja história você pode conferir nessa outra matéria do Ninja Esporte Clube. Competindo na canoagem, construiu uma brilhante trajetória, enfrentando difíceis barreiras, que, através do esporte, foram ultrapassadas. 

Para que a história de ambos não fique apenas restrita à emoção de carregar a bandeira do país pelo Rio Sena, o NINJA Esporte Clube traz para você um pouco da história do canoísta baiano.

Isaquias transforma o Brasil em “País da Canoagem” 

O atleta da canoagem Isaquias Queiroz tem 30 anos de idade e em Paris,  estará participando de sua terceira edição dos Jogos Olímpicos. Durante sua carreira, conquistou quatro medalhas olímpicas e 13 medalhas em Mundiais de Canoagem de Velocidade. O baiano da cidade de Ubaitaba enfrenta adversidades desde o início da vida, pois com três anos, quase morreu após sofrer queimaduras quando derrubou em si mesmo um chá preparado para uma dor de barriga que ele sentia. O médico teria dito à sua mãe que ele não viveria, mas depois de um mês internado, voltou para casa com sua figura materna tentando cuidá-lo ela mesma. Já aos cinco anos foi sequestrado, mas foi resgatado são e salvo. Mais uma adversidade de Isaquías é que tem apenas um dos rins, pois com dez anos subiu numa árvore e ao não conseguir se equilibrar, caiu em cima de uma rocha e sofreu com hemorragia interna. 

Seu início no esporte com canoas começou na própria cidade natal, utilizando barcos de pescadores. O que antes era meio de transporte, se transformou em instrumento de competição, se tornando atleta da canoagem de velocidade. Em 2011, ele teve a primeira atuação de destaque internacional, conquistando duas medalhas no Mundial Júnior da modalidade.

Dois anos depois, em 2013, era a vez de voar mais alto, e então alcançou medalhas de ouro e bronze no Campeonato Mundial de Canoagem de Velocidade, realizado em Duisburg, na Alemanha. Foi a primeira vez na história que um brasileiro subiu ao pódio na modalidade em mundiais., e daquele momento em diante, o nome de Isaquias no esporte se consolidou, com mais medalhas conquistadas nos torneios mais importantes da canoagem.

A primeira aparição de Isaquias em Olimpíadas foi em 2016, no Rio de Janeiro. E, de cara, foi imortalizando o seu nome no esporte com três medalhas: bronze no C1-200, e prata no C1-1000 e no C2-1000 – esta última conquistada em parceria com Erlon de Souza. Na edição seguinte, em Tóquio 2020, conquistou a quarta medalha olímpica de sua carreira, a de ouro, na prova do C1-1000. 

“É a realização de um sonho, de um trabalho. Foi um trabalho longo pra chegar nesse pedaço de metal, que é a consagração de uma vida inteira”, disse Isaquias em entrevista para a  TV Globo (reproduzida no site dos Jogos Olímpicos) após conquistar o ouro em Tóquio. Agora, o atleta vai para sua terceira edição de Olimpíadas, com a missão de ir mais vezes ao pódio.

Presença como porta-bandeiras

Agora em Paris junto à, Raquel Kochhann, do rugby, Isaquias Queiroz eternizará seu nome como porta-bandeiras do Brasil em aberturas de Jogos Olímpicos, função que já foi de outros grandes atletas da história, como Robert Scheidt, Torben Grael, Sandra Pires, Rodrigo Pessoa, Yane Marques, Bruninho e Ketleyn Quadros. 

Para Raquel, a emoção de carregar a bandeira do país é indescritível. “No Brasil a gente trabalha muito para que o rugby cresça e ganhe seu espaço. A gente sabe que a realidade do nosso esporte não é ter uma medalha de ouro numa Olimpíada por enquanto, apesar de termos esse sonho. Mas sempre vi que quem carrega essa bandeira tem uma história incrível, com medalhas de ouro, e representa uma grande conquista. Muito obrigada de verdade por essa honra. Vou dormir com essa bandeira do meu lado”, declarou em entrevista para o Comitê Olímpico do Brasil

Em entrevista para o Comitê Olímpico do Brasil, Isaquias lembra das suas origens ao carregar o símbolo nacional, representando a Bahia, o Nordeste e todo o país. “Vai ser uma cerimônia incrível. Principalmente por poder representar minha modalidade, ainda tímida no Brasil. Botar nossas garrinhas para fora. Com certeza, depois de Paris, o pessoal vai ter mais conhecimento sobre essa grande modalidade. É uma experiência incrível poder representar o seu país. Eu tive a oportunidade no Rio de fazer o fechamento. Mas agora, ser o porta-bandeira na abertura, vai ser uma coisa muito especial”, completou.