Por Aline Mattos e Paulo Zé

Estivemos em Montevidéu para o Mercado Uruguai Musical (@mercadodemusica.uy), na 4ª edição do evento, e mais uma vez notamos o crescimento de um mercado em constante evolução. Com a realização de Fans de La Música, Oimus e Sala Zitarrosa, o evento deste ano ocupou diversos espaços da capital, apresentando uma diversidade bastante interessante da gama musical do país e convidados da Argentina e Chile. Programadores de circuitos, festivais e eventos do Brasil, Chile, Argentina e muitos do Uruguai estiveram presentes. O S.O.M esteve lá fazendo uma cobertura e contamos como foi para vocês.

Pajaros Kiltros, Cami Warner e Lucila Marsico | Foto: Lucía S. Musso

23 de maio, primeiro dia

Saímos de Porto Alegre no dia 22 de maio por volta das 10h com o carro lotado de doações para entregar em Pelotas no Quilombo Canto de Conexão, uma viagem que durou três vezes o tempo normal entre POA e Pelotas devido aos desvios forçados pelas inundações. Entrega feita e, agora com o time completo — Paulo Zé, Aline Mattos, Valmir Bambino e Renata Pinhatti —, partimos rumo ao Uruguai pelas retas sem fim da reserva ecológica do Taim. Entramos pelo Chuí e seguimos até La Floresta, uma praia na costa a cerca de 60 km de Montevidéu, onde dormimos no apartamento da Fans de La Música.

Pela manhã, rumamos a Montevidéu, chegando à Sala Zitarrosa para a abertura do evento. Estivemos nos dois mercados anteriores. Há matérias sobre eles, e é sempre muito bom rever as pessoas, amizades feitas ao longo do tempo que nos enriquecem muito. Após as falas iniciais de Sheila Bonino e Cecilia Canessa, seguimos direto ao Café La Diaria para almoçar e escutar sobre Música e Jornalismo. O debate se deu em torno da resistência de jornais e revistas impressas em contraponto ao crescimento e fluidez das redes sociais como fonte de informação.

De lá, finalmente fizemos check-in no Hotel Esplendor e seguimos para a mesa Na Sala Corchea, que trouxe o tema Construindo Equidade: projetos com perspectivas de gênero, apresentando uma mesa composta apenas por mulheres produtoras e articuladoras de cultura. Todo circuito entre uma programação e outra era feito a pé, tudo era perto.

Os showcases aconteceram na imponente Sala Zitarrosa, e a abertura contou com o Batimento Duo (@batimentoduo), que explora com arranjos as possibilidades sonoras e expressivas das guitarras no gênero rio-platense do tango, valsa, milonga e candombe. Seguimos com Lu Mársico (@lucila.marsico) e Camila Warner (@camiwar.ner), uma mostra de música argentina acústica com belas canções.

Hermanas Ramundey | Foto: Lucía S. Musso

Com uma fusão de violino e acordeão diatônico, o duo chileno Pájaros Kiltros (@pajaroskiltros) celebrou a natureza, mesclando ritmos do folclore latino-americano com riffs progressivos. Hermanas Ramundey (@hermanasramundey), um duo formado pelas irmãs Sofía e Diana, canta, interpreta e compõe canções com o pulsar da raiz folclórica latino-americana. As apresentações na Sala Zitarrosa se encerraram com o pop romântico do jovem Juano (@juano.uy), um som envolvente com fortes influências do R&B, Hip Hop, Trap e reggae. Na sequência, caminhamos até o Bluzz Bar, onde havia a programação com showcases noturnos. Abrindo o palco, Rodra (@rodraaaa) mandou hipnóticas melodias em sua guitarra SG. Na sequência, tivemos o rock synth-pop psicodélico feito pela Phoro (@phoro), com toques marcantes de techno, house, eletro e deep house, colocando geral para dançar. Julia Ines (@soymipropiajefa), da Patagônia argentina, encerrou a noite em alto astral trazendo um mix latino-brasileiro politizado com direito a falas de Marielle Franco. Chave de ouro para ela!

Jantamos ao lado, no pitoresco Santa Catalina, junto à Rambla de Montevidéu com suas milanesas e guarniciones. E brindamos por estarmos juntos, América Latina trocando ideias em um mercado emergente que vem crescendo ano após ano.

Papina de Palma | Foto: Lucía S. Musso

Segundo dia

Manhã livre para descanso e, logo ao meio-dia, estávamos de volta ao Café La Diaria para almoçar e falar sobre programas de incentivo ao intercâmbio e trocas entre países. De lá, fomos a cede da Sala Corchea, onde aconteceu um painel sobre IA com Nicolas Madorey. Voltamos à Zitarrosa para o segundo dia de showcases, onde vimos, na abertura, Maria Viola (@ma.ria.vio) e Gonzalo Deniz (@gonzalodenizuy) com um duo de violão no melhor da Música Popular Uruguaia (MPU). Logo após, subiram ao palco a incrível banda marchante Catadores de Gazpacho (@catadoresdegazpacho), fazendo um passeio divertido e envolvente, unindo o jazz tradicional e contemporâneo. De forma harmônica e com versos sensíveis, Papina de Palma (@papinadepalma) fez o pop andar junto ao rock, folk e eletrônico, absorvendo a todos na plateia. La Ventolera (@laventoleracandombe) trouxe canções populares e autorais, mostrando as raízes do candombe – tradição afro-uruguaia, com tambores e sopros potentes.

Catadores de Gazpacho | Foto: Lucía S. Musso

No Bluzz Bar tocaram ainda Ino Gurini que apresentou um som lo-fi com bateria orgânica e um show de sintetizadores. Rasenk (@rasenk._) chegou instigando a curiosidade e foi, aos poucos, colocando seu som urbano, entre o hip hop, techno e baile funk e, ninguém ficou parado. Evocando um som retrô-futurista com riffs de sintetizadores e batidas eletrônicas pulsantes, VeRa (@veramusic.uy) fez a noite aquecer. E, para lacrar, com humor e muita ironia, Dafne (@dafneusorach) seguiu a noite com canções que abordam questões sociais, feminismo e meio ambiente com ritmos variados. E fechamos a noite brindando e comendo no Santa Catalina Bar e Café para mais milanesas e guarniciones!

VeRa | Foto: Lucía S. Musso

Terceiro dia

O frio de 6 graus nos acompanhou o tempo todo; a temperatura não subiu mais que 11 graus em nenhum momento. O país é preparado para isso, e qualquer lugar que se vá é quente, inclusive havia uns aquecedores que davam conta mesmo trabalhando ao ar livre. Pela manhã, Paulo Zé gravou um vídeo pedindo às pessoas que fossem à Sala Zitarrosa ver os shows e levassem roupas quentes para doar. A mensagem foi vinculada pelo Mercado e seus realizadores, ganhando adesão de mídias e muitas pessoas, o que gerou um ótimo número de doações que vieram para o RS e serão entregues a aldeias indígenas atingidas pelas enchentes. Neste dia, o almoço que seria no Café La Diaria passou para o Restaurante Paysandu, lugar clássico da boemia da cidade. De lá, fomos à sede da AGADU, associação dos compositores do Uruguai, para uma palestra sobre produção musical com o venezuelano Raniero Palm. Uma aula mega incrível; ele manja muito e tem diversos Grammys em sua prateleira de troféus.

Alucinaciones en Familia | Foto: Lucía S. Musso

Rolou depois um networking entre todas as pessoas; muitas bandas apareceram, e foi riquíssimo o momento, shows por vir. De lá, seguimos à Zitarrosa para os últimos showcases. Doações chegando, povo animado, e a noite começou com Clipper (@clipper.jta), uma jovem uruguaia que apresentou rimas no melhor do boombap, firmando-se como um dos pilares femininos da cultura urbana. Na sequência, Agustín Casulo (@agustin.casulo) apresentou um pop romântico, que passa por momentos íntimos a dançantes, num toque mágico. As duas bandas finais foram incríveis e complementares: Alucinaciones en Familia (@alucinacionesenfamilia) trouxe letras introspectivas numa fusão de pop, rock e muita psicodelia, resultando num som altamente envolvente. Flor Sakeo (@florsakeo) manteve a psicodelia, trazendo mais peso e distorções num vocal feminino alucinante, o melhor da cena underground uruguaia. O show de encerramento ficou por conta de Catherine Vergnes uma importante voz da música folclórica celeste.  

Flor Sakeo | Foto: Lucía S. Musso

Jantar final no Santa Catalina, onde já era nossa casa e o garçom nosso amigo. Seguimos de festa no Bluzz Bar, isso para quem teve gás! Parte da equipe do S.O.M. foi até de manhã, e a outra se recolheu cedo. No outro dia, multiplicaram-se os contatos para mais doações de roupas, o que nos deu a agradável missão de ficar indo de casa em casa buscar as doações, conhecendo mais a cidade e as pessoas. Caminhamos pela Feira de Tristán Narvaja, um mercado de pulgas clássico da capital. E nos despedimos de Montevideo na certeza de retornar ao próximo Mercado Uruguai Musical, que cresce muito em qualidade, diversidade e nas suas articulações. Temos a certeza de que veremos muitas bandas e artistas uruguaios circulando por aqui nos próximos tempos. Avante, Uruguai Musical; avante, América Latina!

Playlist:

Clipper | Foto: Lucía S. Musso