Por Isabela Vieira

Na tarde da última quinta-feira (11), realizadores do cinema independente contaram suas experiências, desafios e perspectivas sobre o cenário audiovisual latino na mesa “Conexões livres: Encontro de realizadores do cinema independente”, parte da programação da SEDA – Semana do Audiovisual São Paulo.

A SEDA é um evento realizado pela Cine NINJA, na Nave Coletiva – seda da Mídia NINJA em São Paulo -, que aconteceu de 6 a 12 de julho. A mesa contou com a participação de Karla Martins (Mediadora), Maria Alché e Benjamin Naishtat (diretores do filme “Puan”), Caroline Oliveira (cineasta), Michel Queiroz (cineasta e diretor de “Capim-Navalha”), Rogério Borges (Kino-Olho), e Melina Soulz (diretora do filme “O Olhar de Cícera”).

O que é cinema independente?

A partir dessa provocação feita pela mediadora Karla Martins, os participantes da mesa foram convidados a dialogar sobre o cinema independente a partir de suas próprias perspectivas, apresentando recortes práticos do atual cenário em que o cinema brasileiro – e em alguma instância, o cinema argentino – se encontram atualmente.

Benjamin Naishtat, realizador argentino e codiretor do “Puan”, iniciou sua reflexão apontando a problemática do conceito de cinema independente na América Latina. Tal modelo de produção é importado de indústrias cinematográficas de grande porte (estadunidense e europeia), onde o cinema independente surgiu divergindo da indústria audiovisual comercial hegemônica. Todavia, ao pensarmos em cinema independente no contexto latino, a existência de um modelo independente não pode ser completamente absorvido, uma vez que não há uma indústria audiovisual comercial consolidada na região.

Reiterando tal afirmativa, outros participantes da mesa compartilharam suas experiências enquanto realizadores independentes, cada qual em seu contexto, mas sempre apontando para os desafios da falta de investimento público, a falta de estabilidade financeira e os esforços em tornar o audiovisual um cenário mais democrático, diverso e plural.

Nesse sentido, Rogério Borges trouxe à luz os desafios enfrentados por realizadores audiovisuais dissidentes do eixo Rio-São Paulo, que concentra a maior parte da cadeia produtiva do setor, e consequentemente, coopta a maior porcentagem de investimentos públicos. Rogério, a partir de sua experiência enquanto realizador de Rio Claro (SP), frisa a urgência em se pensar a interiorização de recursos públicos para o audiovisual, como uma forma de ampliar e democratizar a realização cinematográfica no país.

O sonho de todo realizador é ter seus filmes assistidos

Além disso, os desafios e dificuldades da distribuição e exibição de filmes independentes foi uma questão amplamente discutida no encontro e consonante entre todos os participantes. Realizadores como Caroline Oliveira e Michel Queiroz, compartilham os desafios que enfrentaram e enfrentam enquanto realizadores independentes para circularem seus filmes.

Para além da dificuldade enfrentada enquanto realizadores independentes do circuito comercial de produção e exibição, produzir fora do eixo Rio-São Paulo e de seu circuito exibidor foi outro fator levantado como um desafio pelos participantes. Apesar disso, todos manifestaram seus anseios em fazer seus filmes circularem e esperançosos de fazerem seus filmes chegarem a um público cada vez maior.

Maria Alché, realizadora argentina e codiretora do “Puan”, trouxe para a discussão uma nova perspectiva: o insipiente intercâmbio de obras audiovisuais entre Argentina e Brasil. A partir de suas experiências enquanto realizadora, a diretora apontou a falta da circulação de obras entre Brasil e Argentina e a necessidade de se estabelecer uma distribuição regional como forma de se reconhecer e legitimar a América Latina enquanto território. Dessa forma, a potência que não só as produções, como a circulação entre cinemas latinos oferece é uma emancipação do audiovisual local.

Foto: Tamires de Oliveira

Quais as soluções para a questão da distribuição?

Em um cenário de experiências e desafios compartilhados, a mediadora Karla Martins abre espaço para um novo diálogo: “Quais soluções seriam possíveis diante desse cenário?” Caroline Oliveira salientou as potencialidades da Distribuição de Impacto, a partir de seu próprio caso: mobilizar pessoas a se tornarem espectadores a partir de seu engajamento com a obra mostrou-se uma estratégia efetiva. Em consonância com a realizadora, Rogério Borges afirma que o “Movimento do cinema não como produto, mas como prática social é uma perspectiva presente em seu trabalho como realizador”, e reitera a integração das comunidades locais em seu processo fílmico como uma saída possível em âmbito local.

Todavia, em um contexto de disputas no circuito exibidor entre obras nacionais e obras advindas de um cinema estrangeiro de grande porte, como aponta Michel Queiroz, foi uníssona entre os participantes da mesa a necessidade de um investimento público consistente, democrático e descentralizado. Além da existência de políticas públicas possíveis a fim de fortalecer o território regional, contar essas histórias pelo cinema e desenhar outros caminhos possíveis.

Confira o debate completo: