por Ariel Cahen, em colaboração com a Mídia NINJA

Sérgio Moro não improvisou, nem surpreendeu.

Seguiu à risca roteiro previsível desenhado pelos procuradores da Operação Lava Jato desde o início do processo deflagrado contra Lula.

Escolheu matar para não morrer.

Em decisão publicada hoje, o juiz de primeira instância da 13ª Vara de Curitiba condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. E foi além: em sua sentença, reforçou o brado retumbante da horda moralista de que “não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você”.

Uma adaptação livre, segundo o próprio Moro, de citação de língua inglesa reproduzida por ele em sua manifestação. A frase, que adota um tom patriótico pegajoso digno dos blockbusters norte-americanos, é ainda um derivativo pouco inspirado de “A lei é para todos”, título escolhido para um longa-metragem nacional, financiado por ente oculto, que pretende contar com a característica (falta de) isenção de seu maior protagonista a história por trás da Lava Jato.

O primeiro trailer da obra, aliás, recheado de frases de efeito tão programadas quanto um relógio de mesa, foi divulgado ontem, um dia antes da condenação, pelo site da revista Veja. O flagrante conformismo com sua incapacidade de surpreender é a única surpresa na sentença proclamada por Sérgio Moro. Aguardado com apreensão por defensores e opositores do ex-presidente, o texto não revelou o brilhantismo que se esperava do juiz-herói. Não trouxe novas cartas à mesa. Se limitou a repetir a monotonia da retórica de correção ética e a notória rotina de abusos políticos e flagrantemente direcionados que marcaram a atuação do magistrado ao longo da operação. Citando delações homologadas mediante condicionamentos públicos de denúncia ao ex-presidente Lula e documentos que muito supõem e nada provam, Moro fez o que dele se esperava. Condenou Lula.

Devolveu o ex-presidente às manchetes. Entregou a parte dos brasileiros a irreal sensação de justiça que tanto ansiavam. Preservou a própria pele e, de quebra, sufocou o debate promovido pela aprovação da Reforma Trabalhista do governo ilegítimo.

Ignorando conceitos básicos do processo penal, o juiz imputou ao réu o ônus da prova apontando como “única explicação disponível” para a inviabilidade comprobatória das acusações o que acredita serem mentiras contadas por Lula em seu depoimento – suspeita essa também não comprovada por Moro em nenhum momento, reforçando sua falta de apreço por fatos e o excesso de confiança em suas convicções. De mãos atadas pela própria incompetência, o juiz ignorou o princípio da presunção de inocência ao se escorar em crenças tão frágeis quanto particulares de que “reformas personalizadas em apartamentos não se dão sem a existência prévia de um dono” – e de que esse dono não pode ser outro que não o ex-presidente petista.

Desconsiderou, entre outras, a plausível ideia de que a unidade possa ter sido preparada sem sucesso pela OAS com o objetivo de agradar, de fato, o então presidente da República e a família Lula da Silva – que manifestavam à época, aberta e legitimamente, o interesse pelo imóvel.

Respeitado por muitos pela narrativa construída exaustivamente pelos meios de comunicação, Moro encerrou sua participação nessa trama jogando pela janela a oportunidade de mostrar a grandeza que se espera de uma figura alçada por parte do país à condição de herói.

Se permitiu o instinto de autopreservação e reduziu seu papel à já anunciada mediocridade da caçada incondicional a Lula travestida de combate à corrupção.

Sem surpresas.