Como o mercado ignora o futebol feminino
Apesar de parecer muita coisa, essas ações ainda são muito pouco se comparadas aos investimentos feitos nos jogadores homens. Mas significam um largo passo ao objetivo que une mulheres do mundo todo: reconhecimento e igualdade.
Por Nanda Nascimento | Copa FemiNINJA
Em 2018, nessa mesma data, já vivíamos a tensão da aproximação das eleições presidenciais. Mas o Brasil deu um jeitinho de pedir intervalo no jogo das urnas para só falar de uma coisa: Copa do Mundo.
A essas alturas víamos Tite, Neymar, Thiago Silva, Coutinho e Marcelo em todos os lugares. Desde reportagens contando suas histórias à campanhas publicitárias dos mais diversos produtos.
Já sabíamos as principais promessas, quais seriam nossos piores adversários, quantos filhos cada jogador tinha, o rosto de suas cônjuges e o shampoo que cada um usava.
Corte seco. Voltemos pra 2019. Faltando menos de uma semana para o início da Copa do Mundo de Futebol Feminino, ainda tem gente que sequer sabe que o evento mais importante do esporte vai acontecer e que a nossa seleção está indo como uma das mais fortes promessas.
Mas as garotas sabem!
Com a proximidade do evento, as discussões sobre representatividade foram tomando proporções (mesmo que tímidas) que pressionaram grandes empresas a usarem sua maior arma para darem voz às atletas mulheres: a publicidade.
Esse fenômeno começou de forma modesta em 2017, quando o Itaú lançou uma campanha onde uma garota driblava brinquedos até fazer um gol. Usando o slogan “patrocinador oficial de todas as seleções”, o banco anunciou seu patrocínio nos times masculino e feminino do Brasil.
Em outros países não foi diferente. Vistas como uma oportunidade de negócio para atrair o exigente público feminino, que agora tinha sede de representação, atletas mulheres começaram a aparecer nas campanhas de fortes marcas.
Só em 2018, mesmo em meio à enxurrada de propagandas com jogadores homens do mundo todo, vimos a Nissan usando a holandesa Lieke Martens, eleita pela Fifa a melhor jogadora do mundo, como embaixadora de seus patrocínios em futebol. A Adidas contratou Regina Baresi, do Inter de Milão, para representar seus produtos nas redes sociais. E o canal europeu BT Sports lançou uma campanha em que uma garotinha dá um chapéu em Gareth Bale, do Real Madrid, e ganha uma disputa contra o inglês Jesse Lingard, do Manchester United.
E os nossos patrocinadores oficiais?
Bom, além da campanha do Itaú em 2017, outro patrocinador fez história um ano antes. Em 2016, a Vivo fez uma websérie para contar as trajetórias de Maurine, Tamires, Formiga, Bárbara, Andressinha, Mônica, Cristiane, Thaísa, Bruna Benites, Andressa Alves e Érika. Os vídeos iniciais atingiram cerca de 2,3 milhões de pessoas e, desde então, a empresa não repetiu mais a receita.
Agora em 2019 chegou a vez do Guaraná Antárctica e da Nike apostarem em formas de fazer o futebol feminino virar negócio de verdade.
Pela primeira vez na história a seleção brasileira de futebol feminino tem uniforme próprio, desenvolvido pela Nike e que traz na gola os dizeres “mulheres guerreiras do Brasil”.
Já o Guaraná Antárctica lançou uma campanha que, além de mostrar nossas pupilas à nação, convoca outras marcas a convidarem as atletas para representarem suas marcas em diversos nichos. E teve gente que já respondeu, viu? A agência de publicidade Almap BBDO, o grupo Boticário, DMCard, GOL e a Lay’s assumiram publicamente o compromisso de contratarem as meninas.
Apesar de parecer muita coisa, essas ações ainda são muito pouco se comparadas aos investimentos feitos nos jogadores homens. Mas significam um largo passo ao objetivo que une mulheres do mundo todo: reconhecimento e igualdade.