Como Maria Mulambo, Benny Briolly será destaque no Carnaval de Niterói
Vereadora trans e periférica irá desfilar na Acadêmicos do Sabiá, pela primeira vez
Vereadora trans e periférica irá desfilar na Acadêmicos do Sabiá, pela primeira vez
A vereadora Benny Briolly (PSOL) foi convidada pela Acadêmicos do Sabiá, da Vila Ipiranga, no Fonseca, a encarnar Maria Mulambo no desfile da escola de samba, marcado para acontece nos dias 24 e 25 de fevereiro.
Há um ano, quando defendia no plenário da Câmara o projeto de lei (PL) que instituía no calendário oficial da cidade o Dia da Maria Mulambo, uma das entidades mais conhecidas das religiões de matriz africana, a vereadora não fazia ideia de que receberia o convite para ser destaque da escola de samba representando essa exu catiço.
O PL não foi aprovado, e Benny sofreu ataques de intolerância religiosa devido à proposta. Agora, ela destaca, é a volta por cima.
“O recado é que, apesar de todas as violações de ontem e hoje, do apagamento sistemático, o axé segue organizado e pronto para resistir. Nosso povo continuará ocupando os espaços de decisões, a fim de fazermos valer nossa humanidade em todos os lugares e âmbitos deste país. E sigo daqui muito ansiosa para estrear na avenida, com toda alegria e confiante de que o município que é berço de Ismael Silva, um dos fundadores da primeira escola de samba do Brasil, desfrutará ao máximo dessa festa que também é nossa”, afirma.
Enredo sobre resistência
Com o enredo “Resistir para existir: África, a raça que a mordaça não calou!” nas mãos, os carnavalescos Daniel Durval e Tom Barros não tiveram dúvida de fazer o convite à vereadora. O foco do enredo é resistência, a luta do negro ontem, hoje e sempre.
— O negro que ontem era morto pela chibata, hoje continua morrendo, só que por balas de fuzil. Abordaremos a intolerância religiosa, exaltaremos os negros que não estão nos livros de História e toda a contribuição que eles deram à cultura e aos costumes do nosso país. Quando começamos a construção do enredo, meu irmão falou: “Dan, por que não convidamos a Benny?”. A causa e a luta dela têm tudo a ver com o nosso enredo. Depois disso, logo fui buscar o perfil dela nas redes sociais. Mulher preta, trans, periférica e de religião afro. Em qualquer lugar do nosso desfile cabe a Benny. Nosso desfile não é só um desfile de escola de samba. É um manifesto, um grito de basta — pontua Durval.
*Com informações do Yahoo
O desfile das escolas de samba de Niterói ocorrerá nos dias 24 e 25 de fevereiro, no Caminho Niemeyer, a partir das 19h, com entrada franca. Serão 23 agremiações, divididas em três grupos.