Como a Seleção Feminina superou desafios para conquistar a histórica prata em Paris 2024
Após uma primeira fase decepcionante, Brasil se colocou no patamar das grandes seleções, e garantiram um pódio olímpico.
Por Ruan Nascimento, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
A Seleção Feminina de futebol do Brasil fez história nos Jogos Olímpicos de Paris. A medalha de prata conquistada neste sábado (10) superou todas as expectativas para as meninas brasileiras. Em um importante e necessário processo de renovação após a má campanha na Copa do Mundo Feminina de 2023, o time de Marta, Lorena, Gabi Portilho, Adriana e muitas outras alcançou a glória olímpica, derrotando seleções muito fortes, até chegar à decisão. E mesmo com a derrota para os Estados Unidos por 1 a 0, o time brasileiro jogou de igual para igual, e teve chances de marcar gols, em uma atuação digna de orgulho.
“A gente deu o nosso máximo, fizemos tudo para conseguir essa medalha e temos muito orgulho disso”, ressaltou a zagueira Rafaelle, em entrevista para o site da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), lembrando que, em 2027, o Brasil será sede da Copa do Mundo Feminina. “Para trazer o torcedor brasileiro a gostar da seleção, gostar de ver o futebol brasileiro novamente, (a prata) só vai fazer com que isso cresça de agora em diante, para crescer a Copa do Mundo no Brasil”, completou.
Com a medalha de prata, o Brasil repete a maior campanha olímpica de sua história no futebol feminino, assim como nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008. Em Paris 2024, a Seleção Feminina surpreendeu positivamente na fase de mata-mata, após uma primeira fase abaixo do esperado.
“Estou muito orgulhoso porque as jogadoras da Seleção entendem, se identificam e sabem que a gente daqui para frente vai manter a Seleção nesse nível. Acontecerá um dia (um título), acontecerá na Copa, pode ser na próxima Olimpíada também essa medalha. Tenho certeza de que acontecerá porque elas são merecedoras”, comentou o técnico Arthur Elias.
Primeira fase desafiadora
Desde antes do início dos Jogos Olímpicos, se sabia que o Brasil teria duelos muito difíceis na fase de grupos, contra Nigéria, Japão e Espanha, no grupo C. A Seleção Feminina viajou para a França com um elenco renovado, com 14 atletas que nunca haviam participado de uma Olimpíada, além das jogadoras experientes como Marta, Tamires, Antônia e Rafaelle. Na estreia, as meninas iniciaram com vitória sobre a Nigéria por 1 a 0, com gol marcado por Gabi Nunes.
Apesar da vitória, a atuação brasileira foi abaixo do esperado, acendendo um alerta de que o início da competição não seria fácil. Contra o Japão, seleção campeã mundial de 2011, o Brasil estava em um bom momento, após a goleira Lorena defender um pênalti, e vencendo a partida, com um gol de Jheniffer. Porém, nos acréscimos, a Seleção Feminina sucumbiu. De pênalti, Kumagai empatou, e aos 50 minutos do segundo tempo, Tanikawa virou, fechando o jogo em 2 a 1.
Para a terceira rodada, o Brasil teria uma difícil batalha pela frente, contra a Espanha, as atuais campeãs do mundo. Com um empate, a Seleção Feminina se classificaria para as quartas de final. Porém, tudo deu errado. Marta foi expulsa, e o Brasil perdeu por 2 a 0, com gols de Athenea e Putellas. O avanço das meninas brasileiras aconteceu por ter uma das melhores campanhas entre os terceiros colocados de seu grupo, o que as colocariam para enfrentar a temida seleção da França.
Vitória histórica contra a França
Por avançar em terceiro, o Brasil teve a difícil tarefa de encarar a França nas quartas de final. As francesas foram algozes da Seleção Feminina nas duas últimas Copas. Em 2019, a eliminação foi nas oitavas de final, enquanto a derrota na fase de grupos em 2023 foi determinante para a eliminação precoce na Copa realizada na Austrália e Nova Zelândia. Além disso, a equipe brasileira perdeu a lateral Antônia para o restante do torneio, com uma fratura na fíbula, e jogaria com as francesas sem Marta, suspensa.
Mas este jogo foi o grande ponto de virada da Seleção Feminina. O time do Brasil soube atacar e defender bem, anulando qualquer ação adversária. E quando tudo parecia perdido, ainda no primeiro tempo, a goleira Lorena defendeu um pênalti. Aos 36 do segundo tempo, Gabi Portilho fez o gol heroico. Apesar disso, a classificação não foi fácil, dados os 16 minutos de acréscimo na etapa final – que acabaram virando 19 minutos. O placar final, de 1 a 0, foi histórico, quebrando um importante tabu contra as donas da casa.
Derrubando as atuais campeãs mundiais
A vitória épica das meninas do Brasil garantiu a ida às semifinais. Mesmo com a suspensão de dois jogos da atacante Marta, por ser expulsa contra a Espanha. Quis o destino para as espanholas voltarem a ser as adversárias das brasileiras. Além disso, a lateral Tamires também foi outro desfalque, após lesionar o tornozelo. Outra batalha dramática estava por vir.
Em campo, a atuação do Brasil beirou à perfeição desde o início. Se na fase de grupos, o jogo contra a Espanha foi o pior da campanha olímpica, nas semifinais, foi a melhor atuação, uma das maiores de todos os tempos do futebol feminino brasileiro. A goleada por 4 a 2 começou com o gol contra de Paredes, após pressão da atacante Priscila em cima da goleira espanhola Cata Coll. Ainda no primeiro tempo, Gabi Portilho marcou o segundo, enquanto Adriana fez o terceiro.
No final da partida, houve o gol contra de Duda Sampaio, mas o gol marcado pela atacante Kerolin assegurou a vaga para a decisão, mesmo que a partida tenha tido mais de 15 minutos de acréscimo, novamente. Paralluelo ainda marcou o segundo, mas sem chances de reação.
Final digna e medalha de prata histórica
Para a grande decisão, a Seleção teria a volta de Marta para a partida, mas outro desfalque prejudicou as brasileiras às vésperas da final contra os Estados Unidos. Kerolin teve um desconforto muscular, e não pôde jogar a última partida do torneio olímpico. Mas a equipe que foi a campo fez história, jogando de igual para igual contra as estadunidenses.
No primeiro tempo, Ludmila chegou a marcar, em gol anulado por impedimento. A Seleção pressionou as adversárias durante todo o primeiro tempo, com direito a grandes defesas da goleira Naeher. Quis o destino de que o gol não fosse alcançado, com o Brasil superado por 1 a 0, com o gol de Swanson. A medalha de ouro, sonhada pelas atletas, não foi conquistada, mas veio uma linda medalha de prata para o Brasil.
Com a medalha no peito, as jogadoras brasileiras estão eternizadas como medalhistas olímpicas. A atacante Marta, maior artilheira de todos os tempos na Seleção Feminina, também pôde se despedir dos Jogos Olímpicos com medalha. Em entrevista para a TV Globo, ela enalteceu a importância deste feito para o futebol feminino brasileiro.
“Agora é dar continuidade a esse trabalho, porque o mais importante, que é o que eu acredito hoje, que é o resgate que a gente fez, do orgulho, das pessoas falarem do futebol feminino. Das pessoas acreditarem mais no futebol feminino. Acredito que isso foi o mais importante. Ficar em segundo, ganhar a medalha de prata. O que a gente precisa destacar é isso, esse orgulho que a gente resgatou”, comemorou, lembrando que em 2027 haverá a Copa do Mundo em terras brasileiras.
“Essas meninas têm muito mais a oferecer. Eu não vou estar com elas dentro de campo, mas vou estar com elas de alguma forma, acompanhando, dando meu suporte, torcendo como fiz nos jogos passados. Esse é o primordial, que a gente acredite mais e dê mais credibilidade ao futebol feminino”, completou a camisa 10.