O grande número de ocorrências dessa lesão foi motivo de preocupação para os profissionais da área, especialmente as atletas

Foto: Maja Hitij/Getty Images/One Football – Na foto: Alexia Putellas

Por Lorena Cruz

Nos últimos meses, tornou-se comum ler manchetes sobre lesões das atletas de futebol feminino. Na maioria das vezes, a contusão é a mesma: rompimento do ligamento cruzado, mais conhecido como rompimento do LCA.

O grande número de ocorrências dessa lesão foi motivo de preocupação para os profissionais da área, especialmente as atletas. A lista de jogadoras que romperam esse ligamento é imensa e carregada de grandes nomes como, Leah Williamson, Beth Mead, Alexia Putellas e Marta. Mesmo afetando atletas importantes para o cenário da modalidade, ainda falta muita informação.

Afinal o que é uma lesão do LCA?

O LCA (ligamento cruzado anterior) é o tecido que liga o fêmur à tíbia, na altura do joelho. Esse ligamento é responsável por estabilizar o joelho, em relação à força que é feita sobre ele. Quando acontece a lesão, o tecido sofre um estiramento que é classificado por uma escala de gravidade. Porém, é raro que aconteça uma ruptura parcial, é mais comum que haja uma ruptura total. O tempo de recuperação também costuma ser longo, podendo deixar uma atleta fora dos gramados por quase uma temporada inteira.

Foto: Imagem da Internet

 

Por que as mulheres sofrem mais com essa lesão?

As mulheres têm até seis vezes mais chances de lesionar o LCA, e são muitos os fatores que justificam essa probabilidade. Segundo o fisioterapeuta e preparador físico William Bittencourt, ex-preparador físico do Palmeiras Feminino e atual coordenador técnico das categorias de base do Guarani feminino, “ O formato do quadril pode acarretar um valgo dinâmico, e as mulheres, no período menstrual, têm uma frouxidão ligamentar fisiológica. Também os exercícios prescritos e orientados, como o fortalecimento da musculatura que envolve o joelho (estabilizadores secundários), se mal direcionados, são alguns dos fatores que contribuem para a chance de lesão”.

Como a falta de investimento favorece as ocorrências de lesões de LCA?

Um dos grandes problemas é que as poucas pesquisas que existem relacionando o risco da lesão com o futebol feminino acabam focando na anatomia do joelho e, muitas vezes, outros fatores importantes são ignorados, como a falta de infraestrutura, profissionais capacitados e até o ciclo menstrual das atletas.

Outro fator importante é que não existem muitas chuteiras femininas. Pode parecer simples, mas a chuteira tem uma grande importância para o desempenho dos atletas. Um estudo realizado pela European Club Association mostrou que 82% das jogadoras, em atividade na modalidade, sentem dores e desconforto ao calçar as suas chuteiras para jogar. A falta de chuteiras exclusivas não só causam desconforto mas também podem diminuir a estabilidade da jogadora, podendo facilitar uma lesão.

Foto: REPRODUÇÃO @ANFIELDHQ

Diversas jogadoras já se posicionaram cobrando mais investimento para a modalidade, principalmente em pesquisas. Recentemente, a jogadora holandesa do Arsenal, Vivianne Miedema, comentou sobre o tema em uma entrevista para a CNN: “Quando começarmos a pesquisar sobre os esportes femininos, conseguiremos começar a dizer o que é melhor para nossos corpos e o que é preciso mudar.”

Foto: Getty Images

A atacante do Angel City, Christen Press, também se manifestou sobre o assunto em uma entrevista à ESPN: “A quantidade de lesões do LCA, no futebol feminino profissional, nos últimos dois anos, foi chocante. Se isso acontecesse no futebol masculino, teríamos visto, imediatamente, uma reação de ‘como vamos resolver isso e garantir que esses jogadores estarão disponíveis nos maiores momentos de suas carreiras?’.

O que deve ser feito para diminuir essas lesões?

É essencial que haja maior investimento para a modalidade em geral, desde pesquisas até melhores estruturas dos clubes de futebol. É de grande importância que todo o trabalho das atletas seja monitorado por profissionais capacitados, realizando o fortalecimento correto e acompanhando o ciclo menstrual das jogadoras. Também é crucial que existam mais pesquisas sobre a fisiologia feminina dentro do esporte.

Foto: Fluminense FC – Centro de Treinamento

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube