Comitê da ONU pede que Brasil revise Lei de Anistia que passou pano nos crimes da ditadura militar
Além da revisão da Lei criada nos momentos finais da ditadura militar, comitê expressou preocupação com avanço do marco temporal, e declarou que a medida, se aprova, é uma ameaça aos povos indígenas
O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas divulgou um relatório apontando uma série de recomendações ao Brasil com o objetivo de promover a igualdade, justiça e proteção dos direitos humanos. O relatório foi resultado da primeira revisão periódica do Brasil em 10 anos, realizada nos dias 26 e 27 de junho em Genebra.
Dentre as principais recomendações, destaca-se o pedido de revisão da Lei da Anistia, do período da ditadura militar, com o intuito de assegurar a responsabilização por violações de direitos humanos e proporcionar a devida reparação às vítimas. O comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) expressou preocupação com a falta de implementação das recomendações da Comissão da Verdade nesse contexto.
Outro ponto relevante abordado no relatório foi a necessidade de criar um tipo penal específico para “crimes de ódio”. O comitê enfatizou a importância de uma legislação que criminalize explicitamente atos de ódio em todas as instâncias, com o objetivo de combater a intolerância, preconceito, viés racial e discriminação no país.
Além disso, a ONU recomendou a criação de um órgão nacional independente dedicado aos direitos humanos. Essa instituição teria como objetivo monitorar a implementação de medidas e garantir a efetividade das políticas públicas voltadas para a proteção dos direitos fundamentais de todos os cidadãos.
O relatório também destacou algumas medidas positivas adotadas pelo Brasil, como a implementação de cotas para descendentes de africanos em órgãos federais, a criação dos ministérios dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial, bem como o lançamento de um programa para garantir os direitos de pessoas privadas da liberdade. A aprovação de uma Lei voltada para combater a violência política contra mulheres também recebeu elogios por parte do comitê da ONU.
Contudo, apesar desses avanços, o documento apontou preocupações com o desempenho do Brasil em relação aos direitos humanos em várias áreas, sugerindo ações para superar os desafios.
O órgão ainda criticou o desmantelamento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), nos últimos anos, e alerta para “os relatos de que o princípio do consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas e das comunidades quilombolas em assuntos relativos a seus direitos é rotineiramente violado”.
“O Comitê também está preocupado com a limitação do Marco Temporal para reivindicar a demarcação de terras indígenas e lamenta que a titulação de terras para as comunidades quilombolas esteja progredindo muito lentamente”, destacou o órgão.
O comitê também recomendou medidas para reduzir a letalidade policial, incluindo a instalação de câmeras nas fardas, além de ressaltar a importância de proteger minorias e combater a corrupção de forma mais efetiva.
As recomendações da ONU apontam para a necessidade de avançar em políticas públicas de combate ao racismo, incluindo ações para combater a discriminação racial praticada pelas forças de segurança pública, agilizar a indenização de vítimas do Estado e acelerar a demarcação e titulação de terras indígenas e quilombolas.