
Com tecnologia satelital, povos indígenas amazônicos do Peru monitoram desmatamento ilegal
Neste novo capítulo do diário de viagem da Flotilla Yaku Mama, uma jornada pela experiência da Organização Regional de Povos Indígenas do Oriente contra a exploração ilegal de madeiras.
Por Lucía Ixchíu
Com o rio Yasuní ao nosso lado, partimos para atravessar a fronteira que separa os povos e comunidades do que hoje chamamos de linha entre o Equador e o Peru.
Na comunidade de Yarina, na província de Loreto, os filhos e filhas do rio e da quebrada nos receberam com cantos e uma alegria contagiante pela nossa visita. Trocaram-se abraços e saudações entre os povos, que nos pediram, repetidas vezes, para levar e amplificar sua voz como guardiões da floresta.
Há anos, comunidades de diferentes nacionalidades monitoram e protegem a selva em uma área de mais de seis milhões de hectares de floresta amazônica — tudo com seus próprios recursos e saberes ancestrais.
A Organização Regional dos Povos Indígenas do Oriente (ORPIO) atua há vários anos apoiando desde a titulação de terras até o desenvolvimento de um sistema próprio de monitoramento, pioneiro e auxiliado por tecnologia.

Em meio aos riscos e à impunidade que marcam a defesa do território em Abya Yala — ameaçados de morte e perseguidos por indústrias de todos os tipos — seguem firmes, com a convicção de ampliar os territórios onde possam vigiar e se unir na proteção de uma das florestas mais importantes do planeta.
Nadamos no rio que, por centenas de anos, abriga milhares de espécies. Nadamos e vimos os povos Sapara e Sarayaku remando na mesma canoa.
“As respostas sempre estiveram em nossos territórios”, disseram os participantes da flotilha.








Nosso encontro terminou com um jantar e uma explicação detalhada dos apus da comunidade, monitores e técnicos comunitários sobre seu trabalho e a forma como vigiam a floresta contra a extração ilegal.
A conversa foi conduzida por mulheres, jovens e por quem coloca a vida no centro de tudo. Um manto de estrelas nos acompanhou durante toda a noite e, embalados pelo rio, descansamos.
Com o canto dos pássaros, o sol nasceu e partimos novamente, despedindo-nos de Yarina e de tudo o que ela nos ensinou em tão pouco tempo.
Desta vez, partimos com mais esperança: o futuro é hoje — e quem o constrói são os povos que caminham, criam e, como formigas, mudam o mundo.
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