Com queda do sigilo de 100 anos, Exército libera documento sobre Pazuello em ato golpista
Exército ignorou regra militar para ‘perdoar’ ida de ministro, e general da ativa, em ato político, no Rio de Janeiro
O ex-general da ativa e ex-ministro da Saúde na pandemia de Covid-19, Eduardo Pazuello, teve seu processo no Exército revelado após ser derrubado o sigilo de 100 anos, imposto pelo governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PL). Pazuello não teve qualquer punição. Militares da ativa não podem se manifestar politicamente.
No documento, o Exército, que foi fortemente aparelhado pelo bolsonarismo, decidiu arquivar o pedido de investigação que iria apurar a responsabilidade do ministro em um ato político, ao lado de Bolsonaro, em uma das motociatas golpistas, em maio de 2021, no Rio de Janeiro.
O documento foi liberado nesta sexta-feira pelo Exército, por determinação da Controladoria-Geral da União (CGU).Os documentos colocados sob sigilo por Bolsonaro foram duramente criticados por associações de liberdade de imprensa. Ao assumir, presidente Lula (PT) já havia afirmado que a CGU iria rever as decisões de Bolsonaro.
Em sua defesa no processo, só agora revelado, Pazuello afirma que informou “por telefone no sábado que iria ao passeio no domingo, a convite do presidente”. O general disse ainda ter aceitado o convite devido aos “laços de respeito e camaradagem” que tem com Bolsonaro.
No documento, o chefe do Exército, general Paulo Nogueira confirma ter recebido a comunicação prévia, embora não cite se houve ou não uma autorização formal para a participação do ex-ministro no ato. “Insta saliente, inicialmente, que o oficial-general em tela efetivamente comunicou a este comandante que se deslocaria à cidade do Rio de Janeiro, a fim de participar do passeio motociclístico, a convite do senhor Presidente da República”, escreveu.
Ao justificar o arquivamento do processo, Nogueira afirmou ainda considerar que a participação de Pazuello no ato de Bolsonaro não teve “viés político-partidário” porque ele falou de “forma improvisada” e apenas “cumprimentou os presentes e enalteceu o passeio”.
“Da análise acurada dos fatos, bem como das alegações do referido oficial-general, deprende-se, de froma peremptória, não haver viés político-partidiário nas palavras proferidas, repia-se, de improviso, pelo arrolado, naquele momento”, afirmou Paulo Sérgio, na manifestação que arquivou o processo.
Atualmente deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Pazuello não poderá sofrer sanções por ter descumprido o ordenamento militar, mas responde a centenas de processos de famílias de vítimas da pandemia, que o acusam de genocídio e prevaricação. Pazuello também é investigado pela Polícia Federal em processos acerca da crise humanitária do povo indígena Yanomami, em Roraima.
*Com informações do Extra