Por Dorinaldo Malafaia*

Macapá, capital do Amapá, dia 03 de novembro, 06h30 da manhã. A cidade amanheceu cinzenta. A “Capital do meio do mundo”, por onde passa a Linha do Equador, não estava nublada por nuvens de chuva. Era, assim como em Manaus, fumaça de queimadas.

Isto ocorreu por alguns dias entre o final de outubro e início de novembro de 2023, com o aumento das queimadas em áreas do Amapá e no Pará, mais especificamente nas ilhas do arquipélago do Marajó que ficam na frente da capital amapaense.

O Brasil está sob efeito do fenômeno La Niña e não raro as temperaturas tem atingido 40ºC e as sensações térmicas ultrapassado os 50ºC. A seca histórica do Rio Negro, no Amazonas – a maior em mais de 150 anos -, traz consigo de volta diversas diarreias, o risco do aumento nos casos de malária e a piora da qualidade de vida – e da saúde -, de trabalhadores que se expõem ao sol, da população em situação de rua e até dos animais.

O aquecimento global é uma realidade e a preparação das cidades, em todo o Brasil e na Amazônia, para defender a sua população dos males que as altas temperaturas causam na saúde do seu povo é um debate urgente.

Mais calor, mais doenças. Menos água, mais contaminação

O aumento do calor e a diminuição na oferta de água e na sua qualidade são a fórmula para o aumento de doenças. A Cólera, doença causada por uma bactéria que tem o homem como hospedeiro, prospera em situações de água contaminada por fezes humanas, com pouco ou nenhum tratamento. As altas temperaturas globais fizeram ressurgir, após 20 anos, a malária em estados americanos como o Texas. O mosquito que transmite a doença, a fêmea do Anopheles infectada por um Plasmodium, prospera nos climas tropicais, quentes e úmidos.

No Brasil, cerca de 99% dos casos de malária são registrados nos estados da Amazônia Legal.

No Amapá, por exemplo, onde um número significativo da população mora em áreas alagadas, as chamadas “ressacas”, o reaparecimento da cólera traria consequências graves e, levando em consideração a semelhança entre as periferias da Amazônia, o mesmo se estende a cidades como Belém e Manaus.

Tendo os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, o saneamento básico deficitário e o escasso controle de zoonoses teriam como principais vítimas os mais vulneráveis, a população em situação de rua e profissionais, como garis e outros trabalhadores manuais, que tem longa exposição ao sol. Inclusive, os animais que vivem nas ruas sofrem mais com o aumento das temperaturas.

Preparar as cidades e a população

Em 2024, teremos eleições municipais. Preparar as cidades para os desafios destes novos tempos é fundamental. Nossas cidades tem que ser (re)arborizadas, é necessário conscientização ambiental (vegetação, lixo, água, arquitetura, etc), e, sobretudo, é necessário entendermos que o futuro do planeta depende das nossas ações e escolhas políticas feitas no agora. Para além da ação individual, ter um poder público antenado com essas questões e uma pressão conjunta da sociedade sobre os grandes emissores de CO2 (países ricos e grandes empresas) para que diminuam, urgentemente, os males que causam à Terra.

A tarefa é urgente. O agir, é para agora.

*Dorinaldo Malafaia, deputado federal (PDT-AP), mestre em Desenvolvimento Regional e doutorando em saúde coletiva (Fiocruz).

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