Coletivos renovam campanha por mais inscrições de pessoas LGBTQIAP+ no ENEM
Iniciativa busca conectar população LGBTQIAP+ em vulnerabilidade com pessoas dispostas a pagar a inscrição do ENEM
Realizada pelo 3º ano seguido, uma campanha desenvolvida por coletivos ativistas busca construir pontes para encurtar o caminho entre as comunidades LGBTQIAP+ e o ensino superior. O projeto busca pessoas que pretendem fazer o ENEM 2022, mas que não conseguem arcar com os custos da taxa de inscrição, para colocá-las em contato com pessoas que estão dispostas a pagar. As inscrições de ambos os perfis são feitas por um formulário. Depois disso, é só aguardar o match.
“Na ausência do Estado, a sociedade acaba precisando assumir a responsabilidade pelo próprio desenvolvimento. A gente age enquanto cobra efetividade dos governos, né? Não é uma coisa ou outra, mas uma coisa e outra.”. É assim que GG, criador de conteúdo, podcaster no KILL, BIXA – um podcast queer e idealizador da Campanha ENEM LGBTQIAP+, define a motivação em realizar o movimento de encontrar pessoas dispostas a pagar a taxa de inscrição do ENEM 2022 para pessoas das Comunidades LGBTQIAP+ que não tem condições.
Realizada pelo 3º ano seguido, a campanha repete a parceria entre o podcast, a ONG Casinha – organização que promove direitos sociais à população LGBTI+ desde 2017 – e o Bissexuality, maior perfil brasileiro sobre bissexualidade no Instagram. Soma-se à empreitada neste ano a FIO Podcasts | Rede Ativista de Vozes, selo de podcasts ativistas do qual o KILL, BIXA faz parte. Rod Gomes, gerente de comunicação da FIO, além de produtor e editor no KILL, BIXA, explica o motivo de aderir a campanha com o selo: “Impulsionar vozes ativistas também é dar a oportunidade para que elas consigam construir suas próprias possibilidades de trajetória. Nesse período do Brasil onde todas as pautas sociais são alvos constantes de ataques do Governo, é essencial que, mesmo com o desmonte da Educação, ocupemos estes espaços para que possamos construir, juntes, um país melhor para todes”.
Nat Pasetti, fundadora e Presidenta da ONG Casinha, que conhece bem a realidade de pessoas das Comunidades LGBTQIAP+, em especial a das que vivem em situação de violações de direitos, destaca a importância de ações afirmativas como essa: “Já estamos na 3ª edição do projeto e acompanhamos de perto o quanto impacta na vida de pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social. Muitas têm o sonho de entrar em uma universidade, mas não têm condições para custear a taxa do ENEM. Elas só precisam de um incentivo para que possam buscar a sua autonomia e ocupar esses espaços”.
70% das pessoas LGBTI+ não declaram sua orientação sexual e/ou identidade de gênero no Ensino Médio, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra da População LGBTI+, realizada pela TODXS, em dezembro de 2020. Cerca de 80% das pessoas trans abandonam o Ensino Médio durante a idade escolar (entre 14 e 18 anos), conforme relata uma pesquisa realizada pela Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, de 2017. Já um relatório divulgado pela UNESCO, em 2021, fala em “ambiente hostil” para jovens LGBTI na América Latina, além de destacar que esse cenário dobra a probabilidade de abandono escolar por essas pessoas. Esses dados alertam para as dificuldades que pessoas das Comunidades LGBTQIAP+ vivem em sua vida escolar anterior à Universidade.
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Há de se considerar também o momento delicado pelo qual passa nosso país. Em um período pós-pandêmico, no qual a economia está devastada, com preços muito acima do normal, além de alta taxa de desemprego, as dificuldades são ainda maiores. São fatores que só colaboram para afastar as populações mais desamparadas de processos que custam algum investimento em dinheiro, além de tempo para estudo. A Campanha pretende atenuar esses agravantes.
Enquanto estudante de Ciências Contábeis na UFPA, Manu Bittencourt, idealizadora e administradora do perfil Bissexuality, vê de perto a ausência de representatividade na Universidade. Ela sabe o quanto o ENEM pode equilibrar essa equação, já que essa foi exatamente sua forma de acesso a uma universidade pública. “Campanhas incentivadoras em prol da comunidade LGBTQ+ são importantes. Nós, que fazemos parte do projeto ‘ENEM LGBTQIAP+’, temos consciência de que estamos colaborando com oportunidades para pessoas LGBTQ+ ingressarem nas universidades”, afirma.
A Campanha conta com divulgação no Instagram, no Twitter e no LinkedIn, e as pessoas estão sendo direcionadas para o preenchimento de um formulário no qual se manifestam dispostas a ajudar ou pedindo ajuda. Quem quiser ajudar, informa quantas taxas de inscrição poderá pagar, além de nome, telefone e usuário do Instagram. Já quem precisa de ajuda, informa também a que curso pretende se candidatar, bem como declaração de raça/etnia, orientação sexual/identidade de gênero e cidade onde mora. A organização coloca em contato alguém que precisa de ajuda com alguém que quer ajudar, para que o boleto da taxa de inscrição seja enviado diretamente de um para o outro.
As inscrições para o ENEM vão até a próxima sexta-feira, dia 21/05. Mas os boletos poderão ser pagos até 27/05. Esse ano, além de pagamento em boleto, a taxa de inscrição poderá ser paga via Pix.