Por Mariana Fagundes-Ausani, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

As/os “Les Phryges”, ou carapuças frígias, são um símbolo originário da antiguidade e eram usados por diferentes povos orientais, até ganharem a cor vermelha e serem adotados por republicanos que lutaram pela revolução francesa, virando um símbolo nacional. Na Paris da atualidade, elas ganharam olhos simpáticos e um aspecto fofinho ao se tornarem mascotes das Olimpíadas, rompendo com a tradição de representar animais, como se via em edições anteriores.

Mas as pessoas conseguiram enxergar para além do contexto histórico e logo associaram as pelúcias a um clitóris. A semelhança com o único órgão humano exclusivamente dedicado ao prazer fez a internet se encher de memes na França, entre risos e críticas. Na soma, parece que os mascotes oficiais dos JO 2024 colaboram no combate à invisibilização do prazer e da anatomia feminina.

O diretor artístico do projeto, Joachim Roncin, embora não tenha criado as figuras com essa intenção, alega que antecipou a possível comparação polêmica e isso não foi um empecilho para a equipe. Ao contrário: “Acho que o debate ganhou muita amplitude, mas se isso permite que o clitóris passe a ser conhecido por todos, nós ficamos contentes”, afirma ele, em entrevista ao canal Arte France.

A equipe que criou as personagens queria fugir do senso comum e propor algo que não se resumisse a uma baguete ou um croissant. A proposta priorizou também a busca de uma representação não-generificada, e o grupo preferiu não investir em cores e formas socialmente atribuídas a meninas ou meninos.

Um símbolo político que atravessa a história da França e que, pelo novo formato olímpico, poderia ser despolitizado, a touca frígia reconquista seu tom revolucionário quando as feministas contemporâneas francesas se deparam com ele e reivindicam na figura a representação de um clitóris. Para a França, parece que a carapuça serviu e, de um jeito inusitado, os mascotes “Les Phryges” contribuem para reforçar os ideais de liberdade, igualdade e sororidade que o país quer transmitir.