Claudia Di Moura é um fenômeno, um arrebatamento. A veterana atriz afro-indígena tem em seu currículo grandes personagens que marcaram a teledramaturgia brasileira, como Zefa, na novela “Segundo Sol” (2018), da TV Globo, em que foi indicada ao “Prêmio Melhores do Ano”; ou Martha Gusmão, em “Cara e Coragem” (2022), trama da mesma emissora. E não só, a atriz também brilhou na quarta temporada da série “Sob Pressão”, disponível na Globoplay. Em 2024, Claudia volta ao centro dos holofotes dando vida a Gá, líder do Povo Kaingang, na nova série infantojuvenil da Netflix, “Luz”, que tem como enredo uma trama familiar relacionada aos povos originários.

Na coluna de hoje, ela fala sobre a carreira, o seu novo trabalho, a pauta racial, a de gênero, a indígena e a importância de termos atrizes 50+ nas telinhas. 

Leia com muita atenção. Com vocês, Claudia Di Moura:

 

André Menezes – Minha querida, sempre gosto de começar as entrevistas falando sobre carreira: como você avalia sua trajetória até aqui? Valeu a pena investir na carreira de atriz?

Claudia Di Moura – A minha vida e a minha arte se confundem de tal forma que eu não consigo sequer imaginar minha existência sem o ofício de atriz. Não apenas neste momento em que esse trabalho efetivamente me sustenta e me oferece algum conforto material. Mesmo em dificuldade, quando eu pedia a Deus uma orientação e um caminho, esse caminho sempre passava pela arte. Faz parte de quem sou, é a minha resposta às intempéries da vida.

 

André Menezes – Quais trabalhos tem mais orgulho de ter feito? 

Claudia Di Moura – Sou feliz de nunca ter feito papéis de que não me orgulhasse, porque sempre tive o poder do não. Deixei pelo caminho propostas que não dialogassem com meus valores e meus desejos de atriz. Mas devo mencionar que a Zefa de Segundo Sol foi um divisor de águas em minha carreira, pois ela me apresentou ao amor do grande público de televisão e inaugurou uma visibilidade que eu jamais conhecera.

 

André Menezes – Tem algum personagem que você ainda não fez e gostaria muito de fazer?

Claudia Di Moura – Todas as personagens que fiz foram sonhos que não sabia que tinha. Eu amo o desafio de abraçar o novo, quando é instigante, provocador e afirmativo. Acredito que o próximo grande papel da minha carreira está sendo escrito neste momento, carregado de frescor e ineditismo, exalando o poder de novas linguagens e trilhando para mim um caminho ainda inexplorado que levará a minha atuação a lugares que eu mesma talvez nunca tenha imaginado.

Foto: Pablo Grotto

André Menezes – Você acha que as pautas raciais, indígenas e de gênero avançaram no Brasil?

Claudia Di Moura – Eu diria que estão avançando, e o tempo verbal faz diferença aqui. Porque não é uma conquista pontual, é um labor diário do qual não podemos tirar férias. Se deixamos de reivindicar, de nos posicionar, de carregar esta pedra morro acima, ela vai cair de volta. Essas pautas avançam cotidianamente sob nossas mãos, não existe piloto automático.

 

André Menezes – Para finalizar, qual legado você gostaria de deixar?

Claudia Di Moura – O meu legado pessoal mais importante já está aí, vivo e materializado, que são as minhas filhas. São meu amor corporificado, com seus próprios sonhos, personalidades, realizações e visões de mundo. Profissionalmente, estarei feliz por contribuir minimamente para uma representação mais fidedigna e equânime das mulheres de mais de cinquenta anos, afrodiaspóricas e indígenas, em espaço de fala e de protagonismo. E que, nessa minha caminhada, eu possa iluminar a estrada para todes que vierem depois de mim.