Por Ana Cecília Antunes

Na história dos Estados Unidos da América, nunca foi eleita presidente uma mulher negra. Nem governadora. Segundo o levantamento do Center for American Women and Politics (CAWP – Centro para Mulheres Americanas e Política), em 2020, nenhuma senadora preta foi eleita. Dentre os legisladores estaduais, elas são 4,7%. Essa porcentagem não é proporcional à quantidade de mulheres negras do país, que representam em torno de 8% da população, de acordo com o censo de 2023. Claudia De la Cruz, do Partido pelo Socialismo e Liberação (PSL), vai contra a corrente para alcançar o que alguns consideram uma utopia: a presidência dos Estados Unidos.

“Acabar com o capitalismo antes que ele acabe com a gente” é o slogan da campanha de Claudia e Karina Garcia, concorrente à vice-presidente. Uma das propostas é confiscar as 100 maiores empresas dos EUA, redirecionando as fortunas para a garantia de direitos constitucionais como saúde, educação e moradia de qualidade. “A América corporativa tem dois partidos. A classe trabalhadora não deveria ter pelo menos um?”, questiona Claudia em vídeo de divulgação eleitoral. 

Outro plano é reduzir em 90% o orçamento das Forças Armadas dos Estados Unidos, visando também ao fim da participação do país em conflitos internacionais. Além disso, Claudia De la Cruz quer pôr em prática medidas para reparar as consequências do racismo no país, como a ampliação de ações afirmativas, punições mais severas para policiais racistas e educação sobre a supremacia branca. Também se preocupa em assegurar os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIAP+. Com isso, ela busca construir uma democracia que realmente sirva o povo.

Ainda assim, a candidata e seu projeto foram alvo de críticas. Em reportagem do The Guardian, o autor avaliou que “Salvo um grande milagre, nada disso [eleição de Claudia] acontecerá”. Por mais que seja desanimadora, essa afirmação tem fundamento. Os Estados Unidos da América nunca elegeram um presidente socialista. O bipartidarismo no país também dificulta esse processo: na última eleição presidencial, apenas 1,8% dos votos populares foram para outros partidos que não o democrata e o republicano, segundo pesquisa do The Cook Political Report. O Partido pelo Socialismo e Liberação (PSL) teve 0,05% do total, conforme a Comissão Eleitoral Federal.

O repórter considerou as promessas da campanha pouco palpáveis. “A única forma que, historicamente, conseguimos transformar a sociedade tem sido através da luta e do movimento”, rebateu Claudia. “Nada do que conquistamos como classe trabalhadora foi concedido pela benevolência da classe dominante.”

A coragem e determinação da candidata, de acordo com o site de promoção eleitoral, teriam origem em suas experiências pessoais. Claudia De la Cruz é mãe, educadora popular, organizadora comunitária e teóloga. Nascida no Bronx, condado de Nova Iorque, filha de imigrantes da República Dominicana, iniciou sua jornada ativista aos 13 anos, influenciada pela teologia da libertação. Participou de várias ações sociais, incluindo a luta contra o bloqueio a Cuba e o protesto pela libertação da Palestina. Fundou e dirigiu projetos como Da Urban Butterflies, projeto focado no desenvolvimento de lideranças jovens. Hoje, é co-diretora do The People’s Forum, um movimento de educação política e acesso à cultura para comunidades trabalhadoras e marginalizadas.

A importância da atuação de pessoas como Claudia De la Cruz na política tem a mesma base no Brasil e nos Estados Unidos. “Quando há ampliação da presença de mulheres negras nos parlamentos, há uma ampliação da presença do povo nesses espaços”, pontua a ativista Dara Sant’Anna em matéria para o portal Gênero e Número. Isso acontece porque muitas dessas mulheres conhecem os problemas e urgências vividos nas periferias. Eleger representantes negras é crucial para transformar o jogo político e a estrutura de poder formada, majoritariamente, por homens, brancos e cisgênero.


Fonte: Vote Socialist 2024, The Guardian, Gênero e Número