Entre os dias 14 e 20 de julho, a cidade de Cuiabá recebe a 22ª edição do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – CINEMATO, um dos mais antigos do Brasil e referência no Centro-Oeste. Com o tema “Decolonizando a Amazônia”, o evento celebra o cinema amazônico com uma ampla programação gratuita, que inclui mostras competitivas de curtas e longas-metragens, sessões especiais, atividades culturais e ações de inclusão em espaços sociais.

A edição de 2025 presta uma homenagem especial ao cineasta luso-brasileiro Silvino Santos (1886–1970), pioneiro do registro audiovisual da floresta e conhecido como o “cineasta da selva”. A abertura do festival contará com a exibição do documentário restaurado Amazonas, o Maior Rio do Mundo (1918–1920), com trilha sonora ao vivo dos músicos Henrique Santian e Jhon Stuart. Considerado perdido por quase um século, o filme foi redescoberto em 2023 na República Tcheca e volta às telas como símbolo da memória e resistência da região amazônica.

Um panorama plural do cinema brasileiro

Ao todo, 62 filmes de 19 estados compõem a programação, que inclui mostras como Cinema Escola, Hors Concours, Melhor Idade, Cinema Paradiso, Sessão Queimada Cuiabana e as principais competições. A curadoria priorizou obras com diversidade estética e protagonismo de grupos historicamente invisibilizados, alinhadas à proposta de discutir uma Amazônia para além dos estereótipos coloniais.

Na Mostra Competitiva de Longas-Metragens, estão títulos como Mawé, de Jimmy Christian (AM), ficção sobre os conflitos de uma jovem indígena entre tradição e cidade; Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta, de Marco Altberg e Tainá de Luccas (RJ), que mergulha no pensamento cosmológico yanomami; e Concerto de Quintal, de Juraci Júnior (RO), que transforma a música em instrumento de resistência comunitária.

Entre os 15 curtas-metragens selecionados, destacam-se Maira Porongyta – o aviso do céu, de Kujãesage Kaiabi (MT); O Enegrecer de Iemanjá, de Uê Puauet (PR); Tapando Buracos, de Pally e Laura Fragoso (AL); Benção (BA); e A Nave Que Nunca Pousa, de Ellen de Morais (PB).

A Mostra Hors Concours também apresenta obras premiadas e inéditas, como 60 Anos Depois, de Flávio Ferreira (MT), sobre os impactos da ditadura militar; Cobra Canoa, de Enio José de Oliveira Staub (AM), que acompanha o retorno de Doéthiro Álvaro Tukano à terra ancestral; e Passárgada, estreia na direção de Dira Paes, que interpreta uma ornitóloga em uma jornada sensorial de redescoberta.

Homenagens, ações sociais e prêmio Dira Paes

Com mais de três décadas de história, o CINEMATO é reconhecido por sua atuação formativa. Desde 1993, o projeto “Cinema Paradiso” leva sessões de filmes a presídios, hospitais, aldeias indígenas e comunidades periféricas. Outra iniciativa, o “Cinema Itinerante”, promove exibições ao ar livre em bairros e quilombos, democratizando o acesso ao cinema nacional.

Na cerimônia de encerramento, no dia 20 de julho, a atriz Dira Paes — que recebeu no festival seu primeiro prêmio de Melhor Atriz em 1996 por Corisco & Dadá — retorna a Cuiabá para entregar pessoalmente o Prêmio Dira Paes. A honraria reconhece mulheres que se destacam no audiovisual e em causas socioambientais. A homenageada desta edição será revelada durante o evento.

Tradição e resistência

Para Luiz Borges, cineasta e coordenador do festival há mais de 30 anos, manter o CINEMATO em atividade é um ato de resistência. “A cada edição enfrentamos desafios, mas as conquistas e o impacto do festival no audiovisual brasileiro e mato-grossense nos fazem seguir adiante. O CINEMATO não apenas impulsionou a produção local, mas também formou plateias e profissionais apaixonados pelo cinema brasileiro”, destaca.

Com realização do Instituto INCA – Inclusão, Cidadania e Ação, o festival conta com patrocínio do Governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), e apoio de diversas instituições como a UFMT, a Assembleia Legislativa de MT, a Cinemateca Brasileira, a Sociedade Amigos da Cinemateca e o Canal Brasil.

Saiba mais no site oficial do evento.