Por Lilianna Bernartt

“Ainda Estou Aqui” já acumula mais de 2 milhões de espectadores poucas semanas após sua estreia nos cinemas, sendo a melhor bilheteria nacional do pós-pandemia. O filme dirigido por Walter Salles segue impressionando o público e angariando prêmios em praticamente todos os locais em que é exibido.

Selecionado para mais de 50 festivais internacionais e nacionais, ganhou recentemente o Prêmio do Público e o Prêmio Danielle Le Roy, eleito pelo Júri Jovem no Festival De Pessac, na França. O longa de Walter Salles foi premiado no 81ª Festival de Veneza (Melhor Roteiro); na 48ª Mostra Internacional de São Paulo (Melhor filme escolhido pelo público); Festival Internacional de Cinema de Vancouver, no Canadá e no Festival de Cinema de Mill Valley, nos Estados Unidos e também recentemente, a atriz Fernanda Torres foi eleita Melhor Atriz em filme internacional pelo Critics Choice Awards.

Esses são os prêmios contabilizados apenas até esta data. Na manhã de ontem (09/12), o filme conquistou duas indicações ao Globo de Ouro 2025: Melhor Filme em Língua Não-inglesa e Melhor Atriz em Série de Drama, para a gigante Fernanda Torres.

Mas este momento celebratório do cinema nacional não se restringe apenas a produção de Salles. Pós desmonte do setor cultural, realizado de forma dolosa pelo Governo Bolsonaro, o que temos presenciado é um momento de ebulição do cinema brasileiro.

Alcançamos grandes feitos este ano: Juliana Rojas conquistou o prêmio de Melhor direção na Seção Encouters no Festival Internacional de Cinema de Berlim pelo filme “Cidade, Campo”; Karim Aïnouz levou o calor do Ceará diretamente para França com seu filme “Motel Destino”, que concorreu a Palma de Ouro; Marcelo Caetano estreou seu premiado “Baby” durante a Semana da Crítica de Cannes, que rendeu o prêmio de Melhor Ator Revelação para o ator Ricardo Teodoro.

“Baby”, alías, já acumula cerca de 15 prêmios, incluindo Melhor Filme e Melhor ator para João Mariano durante o Festival do Rio e Festival MixBrasil e Melhor ator coadjuvante para Ricardo Teodoro no Festival de Huelva, em Madri. Sem contar o recente prêmio de Melhor Longa-Metragem no Florence Queer Festival, na Itália.

Ainda em Cannes, o Brasil marcou presença com o filme “A Queda do Céu”. O filme dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha e conduzido pelo Xamã Davi Kopenawa também vem tendo destaque em Festivais pelo mundo. Recentemente venceu o prêmio do júri no DOC NYC, maior festival de documentários dos EUA. O filme ainda segue seu trajeto de Festivais com exibições no Festival de Brasília, Chile, Grécia (13th Athens Avant-Garde Film Festival), Cuba, Índia e tem previsão de estreia para 2025.

“Retrato de um certo Oriente”, de Marcelo Gomes venceu o prêmio de Melhor filme no Festival de Huelva, na Espanha, recentemente. “Manas”, de Marianna Brennand, conquistou o GDA Director’s Award, principal prêmio da Giornate Degli Autori, cujo objetivo é destacar obras autorais e cineastas emergentes com visão cinematográfica inovadora.

“Malu”, primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Pedro Freire, acaba de receber dois prêmios no Cairo International Film Festival, nas categorias Melhor Primeiro/ Segundo Longa-metragem do diretor e melhor atriz para Yara de Novaes. “Malu” teve sua primeira exibição no Brasil na mostra competitiva da Première Brasil da 26ª edição do Festival do Rio, onde conquistou prêmios em quatro categorias e cinco Troféus Redentor: Melhor Longa-Metragem de Ficção (junto com “Baby”), Melhor Roteiro (Pedro Freire), Melhor Atriz (Yara de Novaes) e Melhor Atriz Coadjuvante (prêmio duplo para Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha). O longa também foi premiado na Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com o Prêmio Paradiso, de apoio à distribuição do filme nos cinemas.

Essa relação descritiva de dados serve para concretizar a “ebulição” do cinema nacional, que vem sendo turbinada pela efervescência midiática em torno do filme de Walter Salles. A valorização do cinema brasileiro, que não se traduz somente em prêmios, mas também no seu consumo pelo público nacional, é almejada de forma ininterrupta pela indústria cinematográfica.

Se faz importante que este momento seja reiteradamente divulgado e sublinhado, não pelo caráter de exclusividade na história do nosso cinema, já que possuímos um cinema potente e premiado, que já se provou historicamente capaz de competir e prosperar de forma global, em qualidade e em números. A reiteração deste momento próspero se faz necessária para que possamos concretizar as conquistas atuais e, uma vez absorvidas, injetarmos o aprendizado – tanto comercial quanto cultural – em uma indústria que se pauta na marginalidade da produção, proveniente de um país cuja cultura ainda, infelizmente, carece de caráter prioritário.

Outro ponto que também já se provou ser superior é o retorno financeiro do cinema nacional em contraponto ao investimento no mesmo. Isso, em termos de mercado, significa que: o cinema nacional apresenta um desempenho excepcional, desde que estimulado. Para se ter destaque em mercados nacionais e internacionais é preciso dinheiro para a concretização da tríade “realização”, “distribuição” e “divulgação”. Seja dinheiro estatal, através de editais e políticas públicas, ou privado, através de investimento de grandes empresas e empresários que podem, inclusive, reverter seus investimentos em benefícios tributários.

Desta forma, a reiteração das conquistas do cinema nacional também se direciona à conscientização social, de que cinema é cultura e cultura é essencial para a constituição identitária de um país. Por isso a necessidade de esclarecimento e incentivo, para que investidores, empresários e o público brasileiro de forma geral, absorvam e apoiem o cinema nacional de forma prioritária.

É urgente e latente que a efervescência deste momento atual seja revertido em uma mudança de comportamento social brasileiro, de forma amplificada.

Uma das responsáveis pela comoção que ronda o filme de Walter Salles é a possibilidade de indicação do Brasil ao Oscar. Entretanto, entra ano, sai ano, e a problemática permanece: é preciso entender que é impossível pensar em Oscar e não se falar em dinheiro. Há toda uma campanha de ação de forma global a ser feita, sessões específicas a serem cumpridas. Walter Salles, Fernanda Torres, Selton Mello e toda a equipe, que estão incansavelmente vivenciando a ponte aérea, sabem bem disso.

Não basta somente ovacionar o cinema nacional de forma seletiva, quando há eminência de premiação, até porque, premiações constantes não faltam ao nosso cinema, como detalhadamente relacionado no início deste texto. É preciso que nos conscientizemos da necessidade e urgência de apoio ao cinema nacional: financeiro, político, público, de consumo e de divulgação.

Somente desta forma seremos capazes de normalizar este fenômeno de consumo do cinema brasileiro, tirando-o do campo da exceção. O caminho é longo ainda, é claro. Mas enquanto isso, seguimos reiterando e reverberando a potência do nosso cinema e fazendo o essencial: consumindo cinema brasileiro.

Apoie, incentive, assista e vibre pelo cinema nacional. Consuma todos os “Motel Destino” (Karim Aïnouz), “Cidade Campo”(Juliana Rojas), “Malus” (Pedro Freire), “Retratos de Um Certo Oriente” (Marcelo Gomes), “A Queda do Céu (Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha), “Baby” (Marcelo Caetano”, “Malu” (Pedro Freire), “Manas” (Marianna Brennand), ”A menina e o Pote” (Valentina Homem), que estão juntos nesta trajetória e os muitos outros que ainda estão por vir, para que esse momento impacte direta, histórica e definitivamente na história do cinema brasileiro, que é único, plural, diverso, latente e nacional, com orgulho.