Por Juliana Gomes

O Oscar 2025 será lembrado como o ano em que o cinema independente alcançou seu merecido destaque, com produções de baixo orçamento conquistando os principais prêmios da noite. O Brasil celebrou sua primeira estatueta na categoria de Melhor Filme Internacional com “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, enquanto a Letônia surpreendeu o mundo ao vencer Melhor Animação com “Flow”.

“Ainda Estou Aqui”: Um marco para o cinema brasileiro

Dirigido por Walter Salles, “Ainda Estou Aqui” narra a história de Eunice Paiva, viúva do deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar no Brasil. O filme não apenas resgata uma memória dolorosa do país, mas também ecoa questões contemporâneas sobre autoritarismo e resistência. Em entrevista coletiva após a premiação, Salles destacou:

“Acho que a gente está vivendo um momento de extrema crueldade, vendo a prática da crueldade como forma de exercício de poder. Acho isso profundamente inquietante.”

Ele ressaltou ainda a importância das expressões artísticas como formas de resistência:

“As formas de expressão se tornam fundamentais para trazer uma polifonia democrática em um funil autoritário.”

O diretor dedicou o prêmio às atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, enfatizando:

“Este prêmio também pertence a duas mulheres extraordinárias, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.”

A vitória de “Ainda Estou Aqui” representa um momento histórico para o cinema brasileiro, que, após décadas de esforços e evoluções, finalmente recebe o reconhecimento internacional. A conquista foi celebrada intensamente durante o Carnaval, simbolizando um triunfo cultural comparável às vitórias futebolísticas do país.

“Flow”: A animação letã que conquistou o mundo

Enquanto isso, a Letônia surpreendeu ao vencer na categoria de Melhor Animação com “Flow”. Produzido com recursos limitados, o filme narra a jornada de um gato tentando sobreviver em um mundo pós-apocalíptico após uma enchente devastadora. A produção destacou-se por sua narrativa sensível e inovadora, superando gigantes da animação como “Divertida Mente 2” e “Robô Selvagem”.

Um dos fatores mais impressionantes da vitória de “Flow” foi o uso do Blender, uma plataforma de código aberto acessível, para criar toda a animação. Isso demonstra como ferramentas gratuitas podem ser usadas para produzir obras cinematográficas de alto nível, desafiando os grandes estúdios e provando que a criatividade e a inovação podem superar orçamentos milionários.

A vitória de “Flow” não apenas colocou a Letônia no mapa do cinema mundial, mas também mobilizou o país em torno da valorização de sua cultura e do investimento nas artes. O sucesso do filme demonstra que, mesmo com orçamentos modestos, é possível criar obras de impacto global, reforçando a importância do apoio ao cinema independente.

O legado do Oscar 2025 para o cinema independente

As conquistas de “Ainda Estou Aqui”“Flow” e “Anora” no Oscar 2025 evidenciam uma mudança significativa na indústria cinematográfica, onde histórias autênticas e produções independentes ganham espaço e reconhecimento. Este momento histórico destaca a importância de investir em narrativas diversificadas e na valorização de vozes que, muitas vezes, permanecem à margem das grandes produções.

Cada um desses filmes, à sua maneira, nos convida a refletir sobre aspectos fundamentais da existência humana. “Ainda Estou Aqui” resgata memórias de dor e resistência, nos lembrando da necessidade de enfrentar o passado para construir um futuro mais justo. “Flow” nos transporta para um mundo pós-apocalíptico, onde a adaptação e a resiliência se tornam essenciais para a sobrevivência, tocando em metáforas poderosas sobre o meio ambiente e a solidão. Já “Anora” expõe realidades cruas e desconfortáveis, trazendo à tona questões sociais que raramente ganham o devido espaço no cinema mainstream.

O Oscar 2025 servirá como inspiração para cineastas ao redor do mundo que buscam contar histórias genuínas, provando que, com paixão e criatividade, é possível alcançar os mais altos patamares do cinema.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.