Por Sérgio Madruga

Após rodar diversos festivais e conquistar prêmios, o filme “A Filha do Palhaço”, de Pedro Diógenes – “O Último Trago” (2016), “Inferninho” (2018) e “Pajeú” (2020) -, marcou presença na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes, no último dia 26, sendo exibido no Cine-Praça. A trama de veia afetiva e familiar, emocionou os presentes na exibição a céu aberto.

Poucos filmes foram selecionados para fazer parte da Mostra Praça, um dos recortes mais interessantes do evento. Assistir a um filme em praça pública, gratuitamente, com pessoas de todas as idades e origens, é realmente algo bastante especial.

Tal como o filme, que traz uma história da relação complexa entre pai e filha: Joana é uma adolescente de 14 anos que vai passar uma semana com o pai Renato. Ele é um humorista que apresenta seus shows em casas noturnas de Fortaleza, interpretando a personagem Silvanelly. Apesar de mal se conhecerem, pai e filha precisam conviver durante essa semana. Eles vivem novas experiências, experimentam novos sentimentos e esse tempo juntos, transforma profundamente a vida dos dois.

Além de assinar a direção, Pedro escreveu o roteiro ao lado de Amanda Pontes e Michelline Helena. No elenco estão Lis Sutter, Demick Lopes, Jesuíta Barbosa, Jupyra Carvalho, Ana Luiza Rios, Valéria Vitoriano, Patrícia Dawson, Luiza Nobel, David Santos, Rafael Martins, Mateus Honori, Vic Servente, Jenniffer Joingley, Pipa e Patricia Nassi.

“Estar na Mostra de Tiradentes já é especial por si só, é um festival muito importante para o cinema brasileiro. Foi o primeiro festival que fui fora do Ceará, há 15 anos atrás. Meu primeiro longa estreou aqui, ganhou prêmio, então o festival faz parte da minha trajetória no cinema”, revela o diretor Pedro Diógenes, ressaltando a experiência de exibir “A Filha do Palhaço” na Mostra: “Mas ontem foi especial, ver na praça tem um gosto diferente. Me senti desprotegido, mas também acolhido”.

Para o ator Jesuíta Barbosa, a Mostra tem um diferencial e muita força por acontecer em uma cidade que já é, por si só, histórica. Ao descrever o filme, Jesuíta destaca os sentimentos motores da trama: “É muito sobre um hiato, uma falta, um espaço, um silencio”, diz. “Esse filme diz muito sobre a cidade, enquanto capital no nordeste. Parece que a gente conhece o lugar, mas ao mesmo tempo, não tem certa intimidade. Ele (Pedro) define a cidade porque fala de relações não completas, fala da praia, do horizonte”, completa.

A jovem atriz Lis Sutter, que interpreta Joana, gravou o longa aos 18 anos, hoje, com 21, admite que toda a repercussão positiva do filme é algo que ela ainda está processando.

“Me lembro da estreia no Cine Ceará, que estavam pessoas como Camila Pitanga e um monte de gente me abordou para tirar foto comigo. Eu só pensava ‘que coisa esquisita’, foi um choque muito grande”, conta a atriz. “Esse filme me fez pensar muito no meu tio avó. Se tem alguém que eu gostaria que pudesse assistir ao filme, seria ele”, revela.

Ainda repercutindo a Carta de Tiradentes 2023, importante documento com recomendações gerais do setor audiovisual que será entregue ao Ministério da Cultura, Pedro refletiu sobre a importância desta ação, atrelada ao momento de esperança e retomada que as artes brasileiras estão passando.

“O cinema brasileiro é fruto de políticas públicas e antes delas, tem a vontade pública, o desejo público, e isso está mudando radicalmente. Nos últimos anos, a gente não tinha com quem falar dentro do poder. Não há dúvidas de que ela (a carta) será lida, ouvida e refletida em políticas públicas para os próximos anos”, afirma.

Segundo o cineasta, suas possibilidades em fazer cinema no Ceará são oriundas destas políticas: “Foi porque uma escola pública abriu lá, foi por causa dos editais que tornaram possível eu me sustentar e sustentar a minha família com o cinema, sem falar nos cursos de formação, que me trazem muita esperança”, finaliza.

Filme foi exibido no Cine-Praça. Foto: Leo Lara/Universo Produção

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