
Cinema brasileiro no mundo: vitórias, desafios e possibilidades de futuro
Vivemos um novo momento de projeção internacional, com presença marcante em festivais como Berlim, Cannes e Oscar; A trajetória recente e as estratégias para circulação são tema de aulão da Cine Ninja
Por Juliana Gomes
Nos últimos anos, o cinema brasileiro voltou a ocupar com força seu espaço nos principais festivais e premiações internacionais. Depois de um período de retração, o que temos visto é uma retomada potente, plural e cheia de personalidade. Berlim, Cannes, Veneza, San Sebastián, Oscar — não apenas estamos presentes, mas deixando marcas. Filmes brasileiros estão sendo celebrados, premiados e debatidos, revelando ao mundo a riqueza estética, política e cultural das nossas narrativas.
E essa movimentação não é por acaso. Ela é fruto de um esforço coletivo que envolve artistas, produtoras independentes, políticas públicas, redes de apoio e, sobretudo, uma geração que insiste em fazer cinema em meio ao caos. Uma geração que entendeu que contar histórias brasileiras é, também, uma forma de existir e resistir globalmente.
De Berlim a Hollywood: onde o Brasil tem estado
Em 2024, o Brasil teve presença marcante nos principais festivais internacionais. No Festival de Berlim, produções como “Motel Destino”, de Karim Aïnouz, e “Cidade; Campo”, de Juliana Rojas, chamaram a atenção da crítica e do público. Em Cannes, nomes como Kleber Mendonça Filho e Gabriel Martins já são aguardados como representantes de uma nova potência cinematográfica que dialoga com o mundo sem perder o sotaque. E no Oscar, o curta “Sideral” (2022) e o documentário “Retratos Fantasmas” (2023) foram exemplos recentes de produções brasileiras que ecoaram além das nossas fronteiras.
Em 2025, o Brasil alcançou um feito histórico com “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, premiado como Melhor Filme Internacional no Oscar. Sensível e contundente, o longa reafirma o poder do nosso cinema em contar histórias universais a partir de experiências profundamente brasileiras, e consolida o nome de Salles como um dos grandes embaixadores da nossa cinematografia no mundo.
E a expectativa para este ano não é diferente. Um dos títulos mais aguardados é “O Agente Secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura, que pode aparecer em festivais como Cannes ou Veneza. Segundo publicações como a CBN, obras como “O Voo da Borboleta” e “Noites Alienígenas” também surgem como potenciais apostas nacionais para o Oscar 2026.
Um olhar sobre os festivais dedicados ao Brasil
A internacionalização do nosso cinema também se fortalece com eventos pensados especificamente para promover nossas obras mundo afora. O LABRFF (Los Angeles Brazilian Film Festival) é um desses espaços fundamentais. Criado em 2008, o festival se tornou referência ao reunir cineastas, produtores e distribuidores em torno da produção audiovisual brasileira nos Estados Unidos, criando pontes com o mercado latino e hollywoodiano.
Outro exemplo importante é o Festival do Cinema Brasileiro de Paris, que acontece anualmente na capital francesa, apresentando ao público europeu um panorama diverso e atual da nossa cinematografia. Esses festivais não são apenas vitrines: são espaços de articulação política e afetiva. Lugares onde o Brasil pode ser ouvido e visto em sua complexidade — e onde se costuram possíveis caminhos para coproduções, distribuição e circulação internacional.
Por que isso importa?
Quando um filme brasileiro é selecionado para um festival internacional, não se trata apenas de uma conquista individual. Cada prêmio, cada menção, cada sessão lotada ajuda a construir uma imagem coletiva do que somos capazes de criar. A presença do Brasil no circuito internacional é também uma ferramenta de soft power — uma forma de projetar nossos valores, dilemas e estéticas em um mundo cada vez mais conectado, mas ainda desigual.
Além disso, a internacionalização traz oportunidades concretas para o setor: desde vendas internacionais até acordos de coprodução. Mas, para que essa presença seja duradoura, é preciso olhar para o mercado externo não apenas como destino, mas como território de troca. Isso exige política pública, investimento e estratégia.
Quais os caminhos para o cinema brasileiro no mundo?
Para discutir os rumos da internacionalização do nosso cinema, o Cine Ninja promove, no dia 10 de abril, um aulão especial do Circuito Cine Ninja de Formação. A proposta é mapear os caminhos possíveis para a circulação global do cinema brasileiro — dos festivais aos mercados, passando por editais de internacionalização, estratégias de coprodução e distribuição internacional.
A conversa será com Priscila do Rosário, produtora e distribuidora independente. Fundadora da Tucuman Distribuidora de Filmes e da Fênix Filmes, Priscila é uma referência quando o assunto é a difusão de cinema internacional no Brasil. Estudou Filosofia na UFRJ e Língua Francesa na Universidade Blaise Pascal, na França. Já integrou comissões e curadorias de diversos festivais e, atualmente, faz parte da equipe de curadoria do BIFF – Festival Internacional de Cinema de Brasília. Como produtora, realizou desde mostras e curtas até longas premiados, como “Ivan, o Terrível” (de Mario Abbade) e “A Arte da Memória” (de Rodrigo Areias). Inscreva-se aqui.