Por Carolina Martins

O dia 25 de julho foi a data escolhida para realizar o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latino-americanas e Caribenhas, que aconteceu na República Dominicana, em 1992. Desde então, a data é lembrada como marco internacional de luta e resistência dessas mulheres.

No Brasil, o 25 de julho também celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, uma homenagem à rainha quilombola que viveu no século 18, resistindo à escravização, responsável pela organização política e militar da comunidade que liderava.

Tereza de Benguela é uma das figuras que inspiram a resistência das mulheres negras no Brasil. E o cinema é palco desse movimento de resgate e celebração! Diretoras e roteiristas contam histórias de resistência, anônimas e famosas, que são fundamentais para a construção da memória nacional.

Para celebrar e homenagear as mulheres negras do cinema brasileiro, destacamos três diretoras, de diferentes gerações, comprometidas com as novas narrativas negras no audiovisual.

Lilian Santiago

Documentarista, pesquisadora, roteirista e professora universitária, Lilian faz questão de celebrar o legado de mulheres negras brasileiras em seus documentários e é uma das principais vozes do audiovisual negro brasileiro contemporâneo. Em “Balé de Pé no Chão – a dança afro de Mercedes Baptista” (2005), a diretora faz um bela homenagem à precursora da dança afro-brasileira no Brasil, ao mesmo tempo em que repara o apagamento histórico que nega a personalidades negras o devido reconhecimento.

A cultura negra também é celebrada por Lilian em “Família Alcântara” (2006), filme sobre a família que tem origem na Bacia do Congo e, trazida para o Brasil, usa a música, o teatro e outras manifestações artísticas para preservar a cultura étnica. Com o trabalho, Lilian Santiago foi a primeira mulher negra a lançar um filme em circuito comercial no período da Retomada do Cinema Brasileiro. O longa foi premiado em diversos festivais nacionais e evidencia a importância das culturas africanas para a construção do Brasil.

Lilian ao lado dos filmes “Família Alcântara” e “Balé de Pé no Chão – a dança afro de Mercedes Baptista”. Foto: Divulgação

Edileuza Penha de Souza

Documentarista, historiadora e doutora em Educação e Comunicação, desde 2006 Edileuza desenvolve pesquisas na área de cinema, gênero e raça. Com “Filhas de Lavadeira” (2019), ganhou o troféu de melhor curta-documentário no 20º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

O filme reúne diversas mulheres negras brasileiras que são filhas de lavadeiras. Elas demonstram como as histórias de resistência das mães foram essenciais para que pudessem transcender as narrativas de inferiorização que pesam sobre mulheres negras. Um traço da condução de Edileuza é focar nos afetos e nas relações amorosas para combater o lugar de dor e de solidão comumente atrelado às trajetórias de pessoas negras.

“Mulheres de Barro” (2014) também traz essa perspectiva, com mulheres negras brasileiras contando as próprias histórias. O curta-documentário reúne doze paneleiras e congueiras, que vivem no Espírito Santo, contando casos de amor. De forma poética, as mulheres narram como os destinos foram moldados ao longo da vida, ao mesmo tempo em que moldam suas panelas de barro para garantir o próprio sustento.

Edileuza ao lado dos filmes “Mulheres de Barro” e “Filhas de Lavadeira”. Foto: Divulgação

Glenda Nicácio

Diretora de televisão e de cinema, Glenda é destaque da nova geração de cineastas comprometidas com a narrativa de mulheres negras. O celebrado “Café com Canela” (2017), que trouxe o nome dela para o cenário nacional, aborda temas sensíveis, como morte e luto materno, de uma forma delicada, respeitosa e com muito afeto.

A trama gira em torno de mulheres negras, com histórias de vida, perfis e gerações diferentes. Apesar dos sofrimentos, todas são cercadas de muito amor e cuidado. Glenda explora a pluralidade desse grupo de pessoas e desafia, de maneira muito bem sucedida, os arquétipos comumente reservados para mulheres negras no audiovisual.

No mais recente trabalho, “Na Rédea Curta” (2022), a diretora usa o humor para retratar dramas do cotidiano de uma família negra na periferia de Salvador. O longa surgiu a partir da websérie, de mesmo nome, que fez sucesso nas redes, e traz no elenco nomes como Zezé Mota e Rita Batista.

Glenda ao lado dos filmes “Café com Canela” e “Na Rédea Curta. Foto: Divulgação

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