Por Débora Anunciação

Pensar que direitos e garantias já conquistados pelas mulheres podem ser facilmente revogados, colocando-as de volta em uma situação de opressão, já inspirou o enredo de diversas obras audiovisuais. Do cinema à televisão, da ficção ao documentário, são muitas as produções que enfocam a linha tênue entre a liberdade e a repressão no que se refere aos corpos que gestam.

A urgência do tema é refletida no recente (e absurdo) Projeto de Lei 1904/2024, que equipara abortos legais após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio – mesmo quando a gravidez for decorrente de estupro.

A proposta esquentou o debate no país ao longo dos últimos meses, e rendeu comparações ao seriado “O Conto da Aia” (“The Handmaid’s Tale”), inspirado na obra homônima de Margaret Atwood. Já em 1985, Atwood previu um futuro no qual meninas e mulheres perdem os direitos sobre os próprios corpos.

Mas essa não é a única produção que dialoga com a realidade brasileira. Ao longo das últimas décadas, o universo cinematógrafo abordou os direitos reprodutivos sob diversas perspectivas. As obras oferecem não só uma perspectiva histórica e cultural sobre o aborto, como também retratam os desafios enfrentados pelas mulheres nessas situações. Confira:

“Um Assunto de Mulheres” (1988)

Direção: Claude Chabrol
Onde assistir: Globoplay e Amazon Prime Video + Telecine

Protagonizado por Isabelle Huppert, o drama conta a história de Marie-Louise Giraud, condenada à morte na França por ajudar mulheres a realizar aborto durante a Segunda Guerra Mundial. Pelo papel, Huppert venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza de 1988.

“O Preço de uma Escolha” (1996)

Direção: Cher, Nancy Savoca
Onde assistir: Apple TV +, Amazon Prime Video + Max

Três histórias sobre o aborto em três décadas diferentes. A produção, protagonizada por Cher, Demi Moore e Sissy Spacek, traça e compara os desafios enfrentados pelas mulheres em relação ao aborto nos anos de 1952, 1974 e 1996.

“4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” (2007)

Direção: Cristian Mungiu
Onde assistir: YouTube

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2007, o filme romeno aborda a brutalidade e os riscos envolvidos em abortos clandestinos. A narrativa segue Otilia Mihartescu (Anamaria Marinca) e Gabriela Dragut (Laura Vasiliu), duas amigas universitárias de Bucareste que tentam realizar um aborto ilegal durante o regime comunista de Nicolae Ceaușescu, na década de 1980.

“Clandestinas” (2014)

Direção: Fadhia Salomão
Onde assistir: YouTube

Mulheres que fizeram o procedimento de forma ilegal no Brasil, e sobreviveram, contam seus relatos neste curta-documentário, disponível no YouTube. A produção aborda os riscos envolvidos no procedimento clandestino e os motivos que levam as mulheres a realizá-lo.

“Invisível” (2017)

Direção: Pablo Giorgelli
Onde assistir: Netflix

Um olhar íntimo sobre as dores e angústias de uma adolescente argentina que descobre uma gravidez indesejada. Enquanto lida com a questão, Ely (Mora Arenillas), precisa trabalhar para complementar a renda da família, estudar e se preocupar com a saúde mental frágil da mãe.

“Nunca Raramente Às Vezes Sempre” (2020)

Direção: Eliza Hittman
Onde assistir: Amazon Prime Video (aluguel)

O longa, vencedor do Urso de Prata no 70ª Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 2020, propõe um olhar sensível sobre as barreiras enfrentadas por jovens que tentam acessar a saúde reprodutiva nos Estados Unidos. O drama segue a adolescente Autumn (Sidney Flanigan), que viaja com a prima Skylar (Talia Ryder), da Pensilvânia para Nova York, para realizar um aborto.

“Unpregnant” (2020)

Direção: Rachel Lee Goldenberg
Onde assistir: Amazon Prime Video + Max

A comédia dramática traz um olhar contemporâneo sobre a gravidez na adolescência e os direitos reprodutivos. Com medo de que a recém-descoberta gravidez atrapalhe seus planos de entrar em uma universidade de prestígio, a adolescente Veronica (Haley Lu Richardson), de 17 anos, do Missouri, embarca em uma viagem com a ex-melhor amiga, Bailey (Barbie Ferreira), para o Novo México, para realizar um aborto.

“Disque Jane” (2022)

Direção: Phyllis Nagy
Onde assistir: Amazon Prime Video (aluguel), YouTube Filmes

Baseado em uma história real, o filme segue a jornada de Joy (Elizabeth Banks), cuja gravidez desejada passa a ser um risco de vida. Após ter o procedimento do aborto negado por médicos, em uma época na qual a prática ainda não era legalizada nos Estados Unidos, ela encontra uma organização clandestina de mulheres que oferece uma alternativa segura.

“O Acontecimento” (2022)

Direção: Audrey Diwan
Onde assistir: Amazon Prime Video + Max

Ganhadora do Leão de Ouro no 78º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 2021, essa adaptação do romance homônimo de Annie Ernaux retrata a batalha física e emocional de uma estudante para interromper a gravidez. A narrativa é ambientada na França dos anos 1960, época em que o aborto era ilegal no país.

“Incompatível com a Vida” (2023)

Direção: Eliza Capai
Onde assistir: Mubi

Neste longa-metragem documental, a diretora Eliza Capai registra sua gravidez e a descoberta, na décima quarta semana de gestação, de que o feto era “incompatível com a vida”. A obra reúne relatos de mulheres que abortaram e suas reflexões sobre temas como a eficácia das políticas públicas, maternidade e luto.